Um divertido pontapé para o universo sombrio
Desde que estreou seus famigerados monstros no cinema, em 1923, com o essencial “O Corcunda de Notre Dame” – que trazia Lon Chaney e Patsy Ruth Miller no elenco – a Universal Pictures fez o seu nome com histórias fantasiosas, promovendo mitos que roubavam a atenção do público de tempos em tempos. Entre esses, clássicos como “Drácula”, “Frankenstein”, “A Noiva de Frankenstein”, “Lobisomen” e vários outros ganharam destaques nas bilheterias, favorecendo artistas que marcaram uma época como Boris Karloff e Bela Lugosi. De lá para cá, muitas foram as produções realizadas para esse seguimento. Mesmo que nem todas apresentassem enredos realmente interessantes, essas foram suficientes para consolidar um universo que ganhou seu próprio espaço na indústria cinematográfica, o tão conhecido “Universo Cinematográfico dos Monstros da Universal”.
Dentro desse cenário horripilante, temos um dos personagens mais mitológicos de todos os tempos – responsável por mexer com o imaginário coletivo de uma forma única. A lendária múmia evoca a existência de um ser poderoso, amaldiçoado, e temido por diversos povos. O mesmo foi representado de muitas formas pelo cinema, sendo seu grande sucesso lançado em 1999 sob a tutela do diretor Stephen Sommers. O filme, protagonizado por Brendan Fraser e Rachel Weisz, trazia uma aventura de época com toques de comédia, rendendo mais duas continuações e um faturamento que ultrapassou a casa de 1 bilhão de dólares. Tais números foram impactantes na hora dos executivos apostarem em cheio em outros personagens, como “Van Helsing” por exemplo, que faturou o dobro de seu orçamento. Percebendo a identificação do público com esse mundo ficcional, o estúdios cogitaram uma audaciosa ideia de compartilhar as histórias desses monstros de forma sequencial, o que acabou tropeçando na primeira tentativa com o fraquinho “Drácula Untold” de 2014. Todavia, a proposta era muito boa para se perder em meio as críticas e, no mesmo ano, eles voltaram a trabalhar no conceito. Com isso, três anos mais tarde, em 2017, foi anunciada uma franquia intitulada “Dark Universe”, a qual seria encarregada de algo inovador: interligar as diferentes histórias e seus monstros, todos repaginados de forma contemporânea. E para o começo ter um resultado positivo, eles decidiram por escolher o consagrado ser mumificado.
Repleto de ação do início ao fim, o novo “A Mumia” cumpre o prometido e abre o universo sombrio com uma proposta que tem tudo para dar certo no decorrer das produções. Com um enredo envolvente e extremamente atual, o filme coloca o astro Tom Cruise na pele de Nick Morton, um degenerado soldado que passa seus dias em busca de artefatos valiosos na intenção de vendê-los no mercado negro. Durante uma de suas falsas missões, ele e seu amigo encontram a tumba de Ahmanet – uma susposta princesa que foi aprisionada e enterrada viva por tentar dar vida a Set, o temível Deus da morte. Em meio aos seus interesses, a pesquisadora Jenny Halsey expõe a necessidade histórica da proteção de tal descoberta. Entretanto, eles nem imaginavam que uma antiga maldição estava prestes a vir à tona.
Com uma produção de primeira, o filme chega aos cinemas trazendo os melhores efeitos que o dinheiro pode comprar. Sarah Bradshaw (“Malévola” e “Branca de Neve e o Caçador”), Sean Daniel (trilogia “A Múmia”) e Alex Kurtzman (“Star Trek” e “Truque de Mestre: O 2° Ato”), são alguns dos nomes que integram a equipe de produtores que trouxeram, novamente, o inesquecível monstro à vida. E eles escancaram que o objetivo aqui é um filme “pop”, explosivo, mesmo que isso possa contrariar o gosto da crítica especializada. Afinal, nos dias atuais, são poucas os projetos que sobrevivem por muito tempo em cartaz. Sendo assim, nada mais do que justo do que focar em um filme popular, com enormes chances de diversão e retorno de bilheteria.
Para isso, o roteiro segue uma fórmula batida e sem muitas pretenções. Escrito por David Koepp (“Premiun Rush” e “Inferno”), Christopher McQuarrie (“O Turista” e “Missão Impossível – Nação Secreta”) e Dylan Kussman (“O Voo” e “Jack Reacher”) a obra traz uma narrativa simples, sem muitos artifícios, mas que tende a desequilibrar-se no meio do caminho, seguindo sem muita objetividade. Algumas cenas são desconexas e certos motivos são colocados de forma desleixada, tentando se sustentar através de diálogos rasos e sem graça. Todavia, as sequências de ação são uma boa cartada e os alívios cômicos inseridos no texto, em boa parte desse, acabam por ser funcionais e interessante.
A direção de Alex Kurtzman é um tanto quanto fria, desenvolvida através de uma decupagem que leva a um resultado mecânico, que não exige muito do espectador, porém funciona perfeitamente aqui. A intenção do filme não é aprofundar no psicológico de alguma cena e/ou no emocional que essa possa proporcionar, mas divertir o espectador durante toda projeção. E isso, Kurtzman consegue tranquilamente com seus rápidos movimentos de câmera que quase fazem o público saltar junto com a personagem, criando um ritmo indispensável para trama.
Ben Seresin, de “Sem dor, Sem ganho” e “Guerra Mundial Z”, é o responsável por um dos pontos mais altos da produção, a belíssima e soturna fotografia. Com uma atmosfera mais carregada, diferente do filme de 1999 que trazia uma paleta de cores mais quente e pastel, a produção da vez se aproxima mais do clássico “A Múmia” de 1932, propondo aspectos básicos de um filme de terror. Algo que ficou ainda mais interessante ao casar-se com a impecável direção de arte e figurino oferecido.
Embora o elenco possua uma ótima química, o mesmo não oferece um trabalho de ponta. A obra é encabeçada por Tom Cruise, que traz uma nova performance que mistura ele mesmo com Ethan Hunt (seu personagem de “Missão Impossível”); em seguida temos Annabelle Wallis, que até tenta propor a criação de uma personagem feminina forte, com sua pesquisadora Jenny Halsey, mas é impedida por um roteiro lânguido que não consegue decidir a vertente de sua persona. O esforçado Jake Johnson, como Chris Vail, consegue bons momentos vivendo o atrapalhado parceiro do personagem de Cruise, e Russel Crowe, mesmo sem um grande tempo em tela, e um tanto forçado, apresenta o que pode vir a ser o encontro dos melhores personagens da “Dark Universe” – o embate entre as personalidades do Dr. Henry Jekyll e sorrateiro Mr. Hyde. Não obstante, para o deleite de todos, temos uma determinada Sofia Boutella que tenta realizar uma entrega como a princesa Ahmanet, bem como sua versão odiosa da múmia, mas fica a desejar.
A trilha agitada, criada pelo experiente Brian Tyler – o mesmo que “Power Rangers” e “Velozes e Furiosos 8” – é outro destaque para trama. Sem dúvida nenhuma, ela é uma das grandes razões da produção se manter em alta durante todo o tempo. O trabalho define muito bem os momentos de ação, comédia, suspense e até mesmo drama sem cair no clichê absoluto que poderia ser proporcionado pelo roteiro.
“A Múmia” pode até não ter agradado todos críticos, recebendo uma pontuação baixa ao redor do mundo, mas vai conseguir uma ótima bilheteria durante o seu período em cartaz. Trata-se de um filme instigante, atual, que consegue roubar sua atenção sem muito esforço. É um produto criado com uma única razão: divertir! Portanto, se o seu desejo é ir ao cinema e curtir um bom filme com os amigos, sem muitas exigências, esse acaba sendo uma boa pedida. Nesse caso, com certeza, vale o ingresso.
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