O protagonismo do cinema nacional mais perto do reconhecimento exterior
Passado o hype em cima da primeira produção brasileira distribuída pela Netflix em formato de longa-metragem, cabe nesse momento, quase um mês da estreia oficial lá em 10 de novembro, analisarmos o rescaldo daquilo que foi previamente julgado e posteriormente discutido.
Quando do anúncio sobre a criação do projeto inicial de longa para o maior canal de streaming por assinatura, e mais ainda, da proposta do período em que se passaria, naturalmente os termos já pré-estabelecidos em relação ao gênero da obra, como o western brasileiro foi inevitável. Ao lançamento do teaser oficial com alguns meses de antecedência, os comentários só se confirmaram, dando mais razão para aqueles que se apoiavam nos prognósticos mais direcionados ao tema da obra.
A capacidade de criação nacional tão desacreditada durante muito tempo por espectadores, críticos e todo o público que englobe qualquer um que goste de assistir filmes, não pode ser desmerecida baseado naquilo que já foi feito, e mais importante ainda, por outros profissionais, vindos de outras épocas e rodeados por uma cultura predominante que a cada ano diminui. “O Matador” representa algo maior do que ser adjetivado como apenas o faroeste do sertão, assim como foi a 1ª temporada da série 3%, sendo a porta de entrada para novas produções, a oportunidade de atores iniciantes que fogem daquela escola habituada aos dramas novelescos, e mais importante ainda, a chance de profissionais estarem ao alcance de maior visibilidade junto ao mercado cinematográfico internacional.
As próprias comparações em filmes históricos como “Deus e o Diabo da Terra no Sol” acabam sendo injustas, mas não por isso, é lógico que o “O Matador” tem muito dele em si, assim como possui muito dos clássicos western. O problema é reduzir o universo da trama em uma discussão sobre o que é bom ou não, exatamente como acontecera em 3%. Provavelmente não estamos diante de obras da relevância como foi e ainda é o filme de Glauber Rocha, marco inicial do Cinema Novo. A forma como as novas mídias são aproveitadas pelo mercado audiovisual atualmente, garantem a diversidade que já está sendo percebida no conteúdo do que vem sendo disponibilizado, e de forma natural o que não atinge mais o público, que também torna-se cada vez mais exigente, vai sendo substituído por novas expectativas.
Marcelo Galvão faz escolhas baseadas em uma estética claramente desenvolvida no que o próprio sertão proporciona, dando clima àquilo que os personagens absorvem do universo ao qual fazem parte. Obviamente as referências relacionadas diretamente ao gênero transbordam na imagem, mas são montadas para correrem de maneira sólida frente a construção da dramaticidade e da tensão. Fora os conceitos utilizados para o filme como um todo, a essência é transmitida e consequentemente acoberta algumas deficiências técnicas, mas no geral, faz da relação personagem-narrativa um elemento coerente ao que é proposto. “O Matador” não é uma excelência de produção, vale assisti-lo muito mais devido ao próprio hype, quem sabe? Por sua importância em meio ao cenário atual do que vem sendo produzido em maior escala comercial e de qualidade duvidosa.
Outro aspecto importantíssimo em conjunto com todos os simbolismos que ele representa, foi a sua exibição durante o Festival de Gramado deste ano, levando os prêmios de melhor fotografia com Fabrício Tadeu e trilha sonora por Ed Côrtes. Gerando o debate e dividindo opiniões sobre os métodos de seleção e qualidade do filmes, assim como foi também com outra produção original da Netflix, Okja, no Festival de Cannes.
O cinema está diante de novos conceitos, mas sendo assistido pelos mesmos olhos antigos e cansados, transformando a crítica pela crítica, fazendo do valor que vai além do que se está sendo visto na tela do cinema, do computador ou smartphone. Hoje o centro das atenções está para quem fez e não em como foi feito, a qualidade também vem do lado externo, ou seja, do que o espectador deseja consumir. Através da cultura do que é entendido pela sociedade muda o indivíduo, e isso muda o cinema.
Por Guilherme Santos
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