Um artista curioso que alcançou a fama nos anos 90 foi Andrea Bocelli, um cantor cego que, realizando uma mistura de gêneros, conseguiu levar a opera e a música clássica para o topo das paradas de música pop na época. Porém, antes de ser um tenor de sucesso, o italiano teve 34 anos de dificuldades enfrentadas e foi essa fase de sua vida que registrou em um livro autobiográfico, recentemente transformado na cinebiografia homônima “A Música do Silêncio”. Dirigida por Michael Radford, a produção não parece muito preocupada em inovar, e acaba deixando mais a desejar do que cumprindo o que promete.
Narrada pelo próprio tenor, a trama conta a história de Amos Bardi (Toby Sebastian) – alterego óbvio de Bocelli – que é um menino que sofre de glaucoma desde sua nascença, e compensa a sua falta de visão com uma paixão por música erudita. Após um acidente que provoca cegueira permanente, seu tio Giovanni (Ennio Fantastichini), para levantar seus ânimos, o leva para cantar em um concurso do qual sai vitorioso. A partir dai, a história se foca nas relações de Bardi com sua família e amigos, assim como a sua duvida entre seguir com seus estudos ou com sua carreira de música, até finalmente alcançar sucesso internacional.
Com uma clássica história real de superação, o enredo é uma boa aposta para uma cinebiografia. Fato que, ao terminar de assistir o longa, leva a uma importante pergunta: como esse filme deu tão errado? A primeira das respostas que vem a mente é a decisão de gravar a produção italiana em inglês usando, em sua maioria, atores locais. Além disso provocar diversos diálogos nos quais a gramática não faz sentido (o que não parece proposital), quase todo o elenco de apoio parece “travado”, mais preocupado em acertar o idioma estrangeiro do que em interpretar a sua fala.
Por conta disso, grande parte das atuações do longa são monótonas e parecem mais um texto decorado do que algo que uma interpretação. O ator principal, o inglês Toby Sebastian, também não se sai muito melhor, com um sotaque italiano caricato, sua performance de Bardi parece cansada e falha em prender a atenção do telespectador. O único personagem que injeta um pouco de vida ao longa é o maior nome de seu elenco, que é o maestro interpretado por Antonio Banderas. Infelizmente, ele aparece por pouco tempo para se fazer valer a pena.
O elenco também não é ajudado pelo roteiro, que parece bater em todos os clichês melodramáticos de histórias do tipo, sem muita sutileza. O pior desses é a narração do cantor, que além de desnecessária, é contraditória: para que renomear o personagem principal como “Amos Bardi”, se a voz de Andrea Bocelli entra a cada punhado de cenas, falando em primeira pessoa o que estava sentindo naquele momento?
Na direção, Radford não arrisca muito, e até consegue capturar alguns planos que prestigiam o belo cenário rural italiano – crédito da fotografia de Anna Pavignano -, e exprimir bem algumas ideias, como a perda de visão do protagonista em um plano subjetivo. Porém, nas sequências que deveriam ser o foco da produção, as performances de canto, a câmera se resume em trocar, do começo ao fim da música, de um enquadramento de Bardi com o microfone para uma reação emocionada de algum membro da plateia. Por consequência, as cenas que deveriam ser o ponto alto da trama acabam sendo as mais entediantes, e o trabalho de dublagem dos atores fica muito mais evidente.
Essa montagem também é problemática no modo como conecta as cenas, que muitas vezes parecem apenas uma sequência de acontecimentos não relacionados. Outras técnicas também são utilizadas sem muito propósito, como o filtro preto-e-branco aplicado na introdução que mostra o verdadeiro Andrea Bocelli, ou os incessantes fades para preto que tornam confusa a sequência de treino do protagonista com o maestro.
No fim das contas, “A Música do Silêncio” é uma bagunça. Sua primeira metade quase funciona como uma comédia não intencional, mas depois de certo ponto o longa é apenas cansativo. As cenas com Antonio Banderas dão uma revitalizada no terceiro ato, mas todo o resto parece mais uma novela trash do que uma cinebiografia de verdade.
Publicitário formado no Rio de Janeiro, tem mais hobbies e ideias do que consegue administrar. Apaixonado por cinema e música, com um foco em filmes de terror trash e bandas de heavy metal obscuras. Atualmente também fala das trasheiras que assiste em seu canal do Youtube, "Trasheira Violenta".

Ultraman
27 de junho de 2019 at 18:50
Você, crítico, é invejoso e ignorante, sua critica é rasteira e vulgar, do tamanho do seu mau gosto e mau caratismo. O filme é incrível, só por ensaiar contar a vida e as dificuldades desse magnífico cantor que é o Andrea Bocelli.
Daniel Gravelli
30 de junho de 2019 at 13:29
Oi, tudo bem?
Eu sou Daniel, um dos editores chefes do site.
Que pena que você não gostou da opinião do nosso crítico.
Todavia, opiniões diferentes também são importantes para o crescimento de um projeto.
Que bom que você gostou do filme e pode colocar sua visão em nossos comentários.
Eu, particularmente, ainda não assisti ao filme, do contrário disponibilizaria minha opinião
aqui também para continuarmos o debate. De qualquer forma continue aqui com a gente, demonstrando
sua opinião em outros filmes que escrevemos sobre – isso também é muito importante para nosso site.
Mônica D.
3 de setembro de 2019 at 15:17
Para mim talvez o filme tenha sido um fracasso porque foi muito mal divulgado – Eu não sabia da existência do filme até semana passada e, sabendo, o assisti. Achei o filme maravilhoso. A história é incrível, e saber que é realmente inspirada em uma história real, eleva o envolvimento.
Já o indiquei para vários ciclos de amigos, que também desconheciam a existência do mesmo….
Achei um tanto exageradas as críticas – Pode não ser a maior produção, mas é envolvedor do início ao fim.
Patricia Xavier da Silva
15 de setembro de 2019 at 00:40
Realmente o filme foi mal divulgado, talvez nem tenha sido divulgado pois jamais vi propaganda dele. O fato de Andrea B ter sido homenageado em vida, sua história ter sido exposta em forma de um longa metragem, já tem um grande valor e importância.
Não ligo para o que os críticos falam pois respeito a minha própria opinião.
Parabéns a todos os envolvidos na realização deste filme. Que outros artistas sejam valorizados em vida pois é característica da humanidade só valorizar as coisas e pessoas, após a sua perda.
Anna Oliveira
18 de fevereiro de 2020 at 16:52
Assisti hj e dou ênfase aos q os colegas falaram logo acima.. o filme não teve divulgação nenhuma. Ano passado soube pelas pesquisas no Google.. e confesso q a espera para q eu achasse a transmissão pela TV fechada.. acordei as 5:50, pois ele passou hj dia 18/02/2020 tc pipoca. Não me decepcionou em nada o filme, pq eu estava interessada na trajetória dele… nos obstáculos q ele teve q superar e pouco me importou se os atores estavam ou não encarnando perfeitamente. Me encantei com a história real dele é fim. Para mim.. basta.
Sander Lee
9 de junho de 2020 at 12:32
Gosto de cinema, mas não sou um especialista, assim como o crítico Oswaldo Marchi, a quem respeito. Sou poeta e como tal o filme me emocionou, embora tenha considerado pueril utilizar o alter ego Amos Bardi, entretanto até isso o artista explica. Recomendo.
CLISIVANIA
12 de julho de 2020 at 20:18
Chamar de fracasso para mim é um grande exagero…o filme é tocante, sensível e cheio de reflexões importantes!