A liberdade é um dos objetivos fundamentais da humanidade. E Gero Camilo abraça o tema com muita poesia, na adaptação para o cinema da premiada peça teatral “Aldeotas” de sua autoria. No filme, ele estreia na direção de longa metragens e também atua como Levi, dividindo a cena com Marat Descarte, que interpreta seu amigo Elias.
A narrativa acompanha os dois amigos, Levi e Elias, que se conhecem desde a infância, mas acabam se separando por 17 anos, quando o primeiro resolve ir embora da pequena cidade conservadora onde moram para viver uma vida mais livre num grande centro urbano. A ideia era fugirem juntos, mas seu amigo acaba desistindo. Eles irão se encontrar apenas quando Levi volta à cidade para o velório de seu amigo.
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A cena de abertura, com a chegada de Levi ao funeral do amigo é de muita beleza. Ela nos faz transitar entre as sensações de estar num recital de poesia e ao mesmo tempo em um monólogo teatral, diluindo essa percepção na estética cinematográfica. Isso, inclusive, é o grande acerto da direção de Gero, trazer a atmosfera do teatro para uma produção cinematográfica onde o que é imperativo é imaginar e se transportar para aquela realidade. A casa pode ser uma tenda, a cachoeira uma piscina. Esses elementos estimulam o resgate do que lá no fundo imaginamos ser essas coisas.
Amizade e poesia em busca de liberdade
O roteiro é inteligente o suficiente ao discutir a liberdade através das repressões. Enquanto Elias precisa sobreviver às agressões físicas e psicológicas de seu pai, Elias precisa enfrentar toda uma sociedade conservadora de cidade pequena do interior, que abusa dele constantemente pela sua orientação sexual. O conflito entre liberdade e repressão, que é em essência muito violento, no filme ganha notas de esperança em “Aldeotas”. A amizade e a arte da poesia tornam o sonho de uma nova vida possível. Afinal, é impossível ser feliz sozinho.
A dinâmica de atuação dos dois atores, os únicos em cena, é essencial para o desenrolar da história. Eles nos colocam imersos em seus conflitos, lutas diárias e desejos de emancipação, conforme passam pela adolescência. É interessante destacar que os atores tomaram decisões diferentes para retratar essa fase da vida. Enquanto o menino de Marat Descarte é mais literal na fala e nos trejeitos, o de Gero Camilo é mais sóbrio e contido, mas com uma habilidade impressionante em nos envolver com Levi. Além dos dois atores, só a interação com objetos e em determinado momento, com a voz do pai de Elias (de Claudio Jaborandy).
Ao final, ressaltamos que é um filme para se deixar levar e embarcar na viagem de Elias e Levi em busca da liberdade. “Aldeotas” é uma experiência lírica, imaginativa, com uma fotografia riquíssima, que certamente será muito melhor se acontecer na tela grande do cinema. Gero Camilo desponta como um dos grandes talentos do cinema, não só com as suas já reconhecidas atuações, mas também com essa bela estreia na direção de um longa metragem.
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