De acordo com dados da ACNUR Brasil, existem mais de 25 milhões de refugiados no mundo. Destes, mais de 5 milhões são da Síria, país imerso em um conflito desde 2011 e que parece não ter fim. O filme “As Nadadoras” de Sally El Hosaini conta a dramática história dessas pessoas de forma comovente, a partir de duas irmãs nadadoras que sonhavam participar das Olímpiadas do Rio em 2016.
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O filme se baseia na história real das irmãs sírias Yusra (Nathalie Issa) e Sarah Mardinij (Manal Issa) que precisam fugir do conflito rumo à Europa com o primo (Ahmed Malek). Sarah é a irmã mais nova, e quem mantém vivo o sonho de nadar nas Olimpíadas.
O filme dedica um bom tempo ao histórico familiar das duas irmãs. Enquanto a mais velha nada apenas por influência do pai, a mais nova parece viver o mesmo sonho. Sarah é a rebelde e Yusra, a mais nova, é a sensível e disciplinada, uma dualidade clássica e pouco inovadora, mas que funciona bem para esse contexto.
Discussões políticas e sociais ficam em segundo plano
O filme tenta brevemente criticar a alienação da classe média diante do conflito que se intensificava na Síria em 2011. Há uma cena muito poética em que as irmãs dançam numa balada, ao som de “Titanum” enquanto bombas cruzam o céu ao fundo. Contudo, discussão política e social do conflito e até mesmo dos refugiados é bastante esvaziada, e aparece apenas pontualmente em algumas situações.
A diretora parece esquivar-se também de questões religiosas. As irmãs Mardinij, por exemplo, não usam o tradicional hijab (o véu que cobre a cabeça das mulheres muçulmanas). Mas em momento algum há qualquer menção à religião da família, ou porque elas não são cobradas pela família para usar. No momento em que mulheres muçulmanas protestam contra essa tradição, uma abordagem mais profunda seria interessante.
Mas se o objetivo do longa é emocionar ao valorizar o próprio refugiado ao invés da realidade macro, ele consegue fazer isso e muito bem. Quando a imigração ilegal começa a dominar a tela, é impossível não sentir compaixão pelas milhões de pessoas que arriscam tudo que tem, inclusive suas vidas, para recomeçar em um lugar mais tranquilo. A tensa travessia de barco não é o fim da linha. As irmãs ainda terão que enfrentar todo tipo de perigo pelos vários países que precisam passar, até chegarem à Alemanha. No destino final, precisam ainda encarar a burocracia para regularizar sua situação.
A dualidade das duas irmãs volta à cena quando chegam à Alemanha e decidem seguir caminhos diferentes. Yusra segue firme no objetivo das Olimpíadas enquanto Sarah decide ir prestar ajuda humanitária aos que chegam ilegalmente à Lesbos, na Grécia. O reencontro das duas é belíssimo, durante as Olimpíadas do Rio de Janeiro, onde Yusra fez história. Ao final, o longa consegue despertar empatia com os refugiados, ainda que não avance no contexto social dos conflitos e guerras.
*Esse filme foi assistido durante o Festival do Rio 2022.
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