
“Barrage” é um filme intenso. Com um objetivo mais profundo, obviamente pode causar estranheza. Não é segredo (e também não há segredos) que o amadurecimento psicológico de cada ser humano baseia-se na sociedade que ele cresce. E os personagens do filme são criados dentro de uma rígida comunidade européia, completamente distinta da nossa
Catherine é uma mulher com uma vida cheia de fantasmas em seu passado, que tenta se encontrar no presente. Depois de passar alguns anos na Suíça, ela volta para Luxemburgo, para reencontrar-se com a mãe e construir laços com a filha, que ela abandonou há 10 anos. Vista como uma pessoa instável, Catherine tenta uma aproximação não muito correta, forçando a filha a aceitar passar um tempo com ela em um chalé.
Entre o desacordo com a mãe, os conflitos emocionais com a filha, vemos a relação se estabelecer (porque ela realmente nunca foi criada antes) e ambas se conhecerem, e brigarem, tentarem se acertar, ter momentos bonitos, cruciais e intensos. Catherine não é uma má pessoa, mas seu instinto materno com Alba, sua filha de pouco mais de 10 anos, deixa a desejar.
É um texto que se perde em alguns momentos. Não que deixe pontas cruciais soltas, mas causa incômodo. Em certas partes, ao assistir o filme pode-se pensar: por que tal cena não teve uma sequência? O que fizeram neste momento? Não que isso realmente atrapalhe, mas uma vez que foi colocado no filme, ela teria que ter alguma importância, certo?
Basicamente, o filme é apenas com Catherine e Alba. Elas são as personagens mais importantes, ainda que paire sempre a presença da avó, que foi o único elo entre as duas e que por proteção mudou alguns rumos na história. O mais significativo de tudo é que é um texto crível, seguido de personagens e situações plausíveis. Aquilo realmente poderia acontecer, as personagens não são surreais e não criam situações ilógicas. Tudo nada mais é do que uma lei de ação e reação.

Lolita Chammah é quem dá vida a desestruturada Catherine e, na maioria das vezes, acerta no tom da personagem, que vai desde o mais profundo amor pela filha, até a imaturidade e a instabilidade emocional que sua personagem tem. A mãe de Catherine é feita pela mãe de Lolita na vida real, a estrela francesa Isabelle Huppert, que sempre têm uma atuação acertada e aqui o faz sem equívoco algum, mesmo que sua personagem não tenha tanto tempo de tela e apareça bem menos. Sua Elisabeth é uma pessoa com princípios rígidos e inquebráveis, criada dentro de um padrão que hoje está em constante conflito com o novo. A pequena Thémis Pauwles foi a escolha correta para viver a menina que está no meio do conflito entre a mãe desconhecida e a avó durona. Ela mostra uma rebeldia e uma dureza ao se ver com a figura materna que ela sabe bem pouco sem ser pedante ou cansativo. É, provavelmente, a melhor personagem do filme, pelo menos, a que mais se compreende.
O cinema francês (ou nesse caso, de Luxemburgo) quase sempre acerta a mão em sua fotografia, escolhendo posicionamentos de câmera e enquadramentos memoráveis, e “Barrage” não é a exceção. Nada inovador, mas com o capricho de sempre. Na trilha sonora traz delicadas músicas, a maioria em inglês, para embalar vários momentos importantes. Ficou faltando, talvez, uma música em francês, com a melodia e a paixão que tanto destacam o idioma do amor, mas não foi a escolha final da produção.
Laura Schroeder não deixa a desejar, mas também não evoca um filme memorável. É lindo e até mesmo apaixonante, te traz algumas dúvidas profundas, porém é apenas uma promessa de onde pode chegar a diretora se sua visão for ainda mais clara do que já é.
*Filme visto no Festival do Rio 2017. Ele ainda não possui trailer com legendas em português, nem data de estreia no circuito nacional.
Quer estar por dentro do que acontece no mundo do entretenimento? Então, faça parte do nosso CANAL OFICIAL DO WHATSAPP e receba novidades todos os dias.
Sem comentários! Seja o primeiro.