O que mais se faz no filme político “Belas Promessas” é falar. No audiovisual, por vezes, o excesso de diálogos pode prejudicar a obra, tornando-a enfadonha e desinteressante. Este, contudo, não é o caso do filme de Thomas Kruithof, que se aproveita da verborragia dos personagens para demonstrar como a política diária é feita em uma cidade importante quanto Paris. Nada mais natural, portanto, já que a própria palavra parlamento vem de “parler”, que significa “falar” em francês. Há ainda o fato de que a política sempre foi e sempre será feita através de conversas em assembleias, reuniões e votações. Ou seja, o jogo democrático não pode ser jogado sem a voz humana.
Evidentemente, não seria possível construir satisfatoriamente a estrutura de um longa excessivamente falado se o roteiro não gerasse interesse no espectador. Nada adiantaria enchê-lo de termos técnicos do “politiques” que só deixariam os leigos sem entender a sua proposta. Por isso, o texto, escrito pelo próprio Kruithof, prima pela simplicidade: uma prefeita (Isabelle Huppert) em final de mandato tenta conseguir com o governo federal a verba para a reforma de um enorme conjunto habitacional ocupado por classes menos favorecidas parisienses. Ela, é claro, terá que usar toda a sua experiência e estratégia para conseguir realizar esse projeto, que já esteve na pauta outras vezes, mas que nunca saiu do papel. Para tal feito, há a ajuda de seu competente e inteligente assessor Yazid (Reda Kateb).
Vale destacar que o roteiro é muito bem representado através dos excelentes desempenhos de Huppert e Kateb. A diva consegue, mais uma vez, ser elegante e serena para viver uma política honesta e cheia de ideais. Já seu parceiro constrói um personagem ambíguo, difícil de decifrar de início. Seu olhar é misterioso, não dando para saber se é um vilão ou mocinho. Será que ele quer apenas poder ou se importa de fato com os resultados de suas ações? É apenas perto do desfecho da obra que o espectador conhece sua faceta, e pode-se dizer que é muito satisfatório descobrir as suas verdadeiras intenções.
É muito importante que “Belas Promessas” tenha uma dupla de atores que consegue, aliado à narrativa, entregar a mensagem pretendida pelos realizadores. Se os dois são poderosos em suas construções, os aspectos narrativos também cumprem seus propósitos, principalmente com a direção de câmera de Kruithof, que é apoiada em planos longos e movimentos lentos. Assim ele confere um inusitado ar de tranquilidade ao ambiente selvagem da política. É como se os animais estivessem sempre prestes a se matar, no entanto, as aparências são de seres civilizados e bem vestidos em diálogos fraternais. Boa parte desses encontros raivosos, inclusive, são durante a noite. Os durante o dia servem, evidentemente, para conciliações e para comemorar vitórias.
A dicotomia neste caso é óbvia, mas serve bem ao propósito, já que a política, se corretamente realizada e bem intencionada, pode levar seus integrantes, e o povo ali representado, a uma vida em sociedades prósperas. O problema é quando a escuridão ideológica ou moral aparece. Neste caso, não há terno e gravata bem alinhados que possam salvá-los.
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