Frank Herbert é considerado um dos maiores escritores de ficção cientifica de todos os tempos por causa de seu clássico “Duna”. A história e os conflitos interplanetários da família Atreides fez tantos fãs que Hollywood logo se interessou em fazer adaptações cinematográficas da obra. Então, em 1984, o grande David Lynch lançou sua versão, mas como todo cinéfilo sabe, o diretor e roteirista amargou o maior fracasso de crítica e público da sua carreira. O resultado foi tão negativo que “Duna” simplesmente desapareceu nas gavetas dos estúdios por mais de trinta e cinco anos – durante todo esse tempo até houve uma série de TV, mas ela é tão irrelevante que quase ninguém lembra da sua existência. Tudo mudou, no entanto, quando o aclamado Denis Villeneuve decidiu fazer outro filme baseado na obra-prima de Herbert.
Villeneuve foi perfeito para a empreitada, já que é um dos poucos na indústria que consegue dar suas pinceladas autoriais mesmo quando faz filmes comerciais, basta ver o que ele fez em “A Chegada”, “Blade Runner 2049”, entre outros. Por isso, em “Duna” há a garantia de diversão através das grandiosas cenas de ação, ao mesmo tempo em que os subtextos inseridos no roteiro dão aquelas espetadas no espectador mais atendo e politizado. Não daria para esperar menos de uma ficção cientifica, que é um gênero usado especificamente para a construção de utopias e distopias que servem como análise e crítica da sociedade real.
A história, pautada na política, é sobre a poderosa e respeitada família Atreides, que é designada pelo império para administrar Arrakis, o planeta de onde sai a substância que possibilita com que as naves façam viagens longas pelo espaço. A especiaria, como é chamada a tal substância, é retirada da areia do deserto, que também é habitado pelo povo local e por vermes gigantes. Os nativos sofrem desde sempre com a invasão de estrangeiros que chegam com suas enormes naves e máquinas, retiram o que querem da terra e depois vão embora. Os Atreides, entretanto, são mais justos e honrados, principalmente porque querem desenvolver Arrakis e não só se aproveitar dele. Evidentemente, há forças contrárias que querem o poder para si, além do instável e ciumento império, que pode interferir a qualquer momento. Duque Leto (Oscar Isaac), Lady Jessica (Rebecca Ferguson) e o herdeiro Paul (Timothée Chalamet) são a família Atreides. A mãe e o filho, além dos títulos de nobreza, possuem o dom da premunição e de fazer com que qualquer pessoa obedeça às suas ordens. Tais habilidades são primordiais, principalmente para salvar a vida de seus usuários.
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Herbert coloca os poderosos Atreides como invasores de um planeta pobre e envolto em uma religião milenar. Villeneuve usa a história e constrói visualmente uma analogia às várias ocupações das forças militares e imperialistas norte-americanas e europeias aos países do oriente médio. Até as naves parecem os helicópteros usados pelo exército americano, com a diferença de que os seus formatos lembram os de vespas. Não foi aleatório o uso desse inseto como modelo, já que as vespas podem destruir outros ecossistemas facilmente se estiverem em grande quantidade. A diferença entre ficção e realidade é que os Atreides querem a especiaria e não petróleo, que até ganha uma menção quando Barão Vladimir Harkonnen (Stellan Skarsgård), o vilão da história, se banha com uma substância negra e pegajosa. O Negro também faz parte da morada, das roupas e dos móveis dos Atreides em seu planeta natal. Os ambientes são fúnebres, como se algo muito ruim estivesse para acontecer. Mortes realmente acontecem aos montes posteriormente, e os planos nobres são substituídos pela guerra e pela fuga desesperada.
É durante as cenas de batalhas, inclusive, que a direção de Villeneuve segura as pontas em sequências de ação bem executadas, mesmo que não sejam brilhantes. As atuações, principalmente de Rebecca Ferguson e sua lady hora apavorada, hora destemida, são outros pontos positivos. “Duna” só não alcança a excelência porque é o primeiro capítulo de uma história extensa. Portanto, quando o espectador está imerso em seu universo e empolgado com o que está por vir, o filme termina sem uma conclusão. Só quando os créditos começam a subir é que vem a triste constatação de que será preciso aguardar alguns anos para saber o destino daqueles já amados personagens. Talvez, a frustação seria menor se o roteiro escrito pelo próprio Villeneuve, junto com Jon Spaihts e Eric Roth, tivesse usado o cliffhanger típico dos finais de temporada das séries televisivas para manter o espectador ansioso para os próximos episódios. É um artificio batido, mas poderia dar certo em um texto com tanta substância.
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