Uma comédia romântica sobre culinária que deixa o espectador sem apetite
Não é de hoje que a culinária brasileira ficou mais requintada a partir do sucesso de programas como “Masterchef”. Aprofundar os conhecimentos na cozinha se tornou mais interessante para o povo brasileiro. Parece bem inteligente quando o cinema nacional se aproveita desse boom gastronômico para lançar “Gosto se discute” estrelado por Cassio Gabus Mendes e Kéfera Buchmann. Porém o resultado final acabou ficando um pouco sem tempero.
O chef (Cassio) de um fino restaurante, que um dia já viveu os seus dias de glória, perde toda sua clientela para um Food Truck concorrente. Para salvar o local, que está prestes a fechar as portas, a auditora do banco investidor (Kefera) entra em cena com o objetivo de revolucionar o cardápio. O chef indisposto a abrir mão do seu trabalho – um tanto quanto ultrapassado – se vê obrigado a aceitar imposições da funcionária e ainda sofre com a pressão das dívidas que só crescem. Em meio a tanto estresse ele perde seu paladar. Um artista da gastronomia sem conseguir sentir o gosto das comidas? Parece um atrativo curioso para quem assiste ao trailer. Mas o filme acaba deixando muito a desejar.
A direção e o roteiro, assinados por André Pellenz – responsável por sucessos como “Minha mãe é uma peça” (2013) e o infantil “Detetives do Prédio Azul” (2016) – se utilizam de uma comédia não necessariamente esdrúxula mas com certeza pouco inteligente para contar esta história. É bem desconfortável ver como a interpretação dos atores é artificial. O veterano Cassio Gabus Mendes é o único com alguma veracidade na forma de dar o texto, mas até ele acaba perdido e pouco aproveitado. O seu personagem carrega o conflito mais atraente de toda a premissa do filme – a perda do paladar – e isso não é aprofundado em momento algum. Ela só cria uma alavanca para a relação amorosa com a personagem de Kefera Buchmann, que, por sua vez, também está a mercê de falas nada naturais.
Todo o elenco se encontra com requintes de caricatura e artificialidade. Salvo alguns personagens secundários que estão um pouco mais interessantes. Como os cozinheiro interpretado por Zéu Britto e os garçons interpretados por Robson Nunes e Ronaldo Reis. A relação entre o chef e a funcionária do banco tinha um potencial que se perdeu nessa forma de interpretação nada verdadeira. Os dois acabam não passando química alguma. Nem quando entram em divergência – o que poderia ser uma tensão poderosa– muito menos quando se entregam ao romance. Tanto a relação entre os dois, como a história contadas não passam da promessa. Não pareceu existir um interesse real em contar esta história.
O conflito entre o chef e o antagonista dono do Food Truck concorrente interpretado por Gabriel Godoy também poderia ser bem interessante. Mas se torna mais um elemento que o roteiro e a direção apenas perpassam sem se aprofundar. As piadas e bordões beiram o padrão “Zorra Total” engraçados na primeira ou no máximo na segunda vez que aparecem. A repetição os torna cansativos.
Um dos trunfos do filme é a forma de inserir um outro grande protagonista: a comida. As sequências do chef na cozinha com a sua equipe são ágeis, com closes estratégicos na comida. Às vezes é possível sentir o cheiro do que está sendo servido. Uma dica aos leitores é não ir ao cinema com fome. Apesar de outros filmes nacionais já terem feito isso melhor como “Estômago” (2007) de Marcos Jorge com sequências muito bem filmadas do processo que é cozinhar, “Gosto se Discute” não desaponta totalmente. Outro ponto positivo é a solução que o chef e a funcionária encontram para transformar o cardápio. É criativo, inteligente, original e bem atraente. Dá uma boa curiosidade de experimentar aqueles pratos em algum restaurante por aí.
Uma obra que poderia ter sido um trunfo gastronômico e cinematográfico do cinema brasileiro acaba entrando para a lista de comédias sem sal. Para os amantes da culinária vale a pena conferir. Mas talvez o ideal seja aguardar a chegada do filme aos serviços de streaming porque ir ao cinema pode ser um pouco frustrante.
Por Rayza Noiá
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