A indústria do cinema é, atualmente, dominada por produções que remetem à franquias do passado. Exemplos como “Star Wars”, “Jurassic World” e “Mad Max” podem ser colocados entre os que foram feitos nos últimos anos dentro dessa proposta. Sendo isso bastante arriscado, e já tendo falhado algumas vezes, “Blade Runner 2049” se mostra como perfeita indicação do que deveria ser feito, honrando com muita dignidade o clássico original de 1982.
Em primeiro lugar, é necessário dizer que o novo filme possui fortíssima coerência com o que foi estabelecido há 30 anos pelo aclamado Ridley Scott. A estética neo-noir futurista, ambiente altamente hostil e fechado, uma Los Angeles distópica onde chuva e fumaça sempre se encontram presentes, marcando as características desse universo. Nesse sentido, o filme é extremamente imersivo ao construir isso tudo de forma muito eficiente, através de uma direção de arte cuidadosamente planejada e executada, bem como sua mise-en-scène feita e uma fotografia que traz tons escuros para dentro da cidade, enquanto os alaranjados evidenciam o exterior dessa.
Tudo é pulsante dentro do longa, o que é coroado pela brilhante trilha sonora de Hans Zimmer. Os sons graves e caóticos refletem o que acontece em tela, confusão mental e a situação do mundo no contexto em que a narrativa se passa. Essa é também usada pontualmente, o que reforça suas ideias, e tem espelhos nos sons diegéticos, com semelhança com a música que nos é apresentada. Assim, temos sólida base para que a história seja contada.
Vale também comentar o brilhantismo de Denis Villeneuve, um dos maiores diretores da atualidade, que aqui se encontra presente com toda sua força. O cineasta realiza enquadramentos belíssimos, frames que poderiam ser facilmente emoldurados, e imprime no já conhecido universo de Blade Runner suas marcas. Até a forma criativa com que se desenrolam cenas de ação – ou mesmo uma de sexo – torna-se extremamente significante para o longa. O uso de câmeras subjetivas com frequência, o que entra em afinidade com o que já foi colocado por outros elementos anteriormente citados, nos joga ainda mais naquele ambiente soturno e suas situações. O diretor não possui pressa em cortar seu filme ou trazer a noção de dinamismo que as produções tanto pedem hoje em dia. E, exatamente por isso, transforma-o em um produto longo e contemplativo. No entanto, não deixa de ser coerente com sua própria história, reflexões, e com aquilo que Ridley Scott estabeleceu como primordial em sua obra-prima original. Dessa forma, tudo é muito bem desenvolvido e arquitetado, milimetricamente ao longo das quase 3 horas de projeção.
Há, contudo, algumas questões problemáticas no longa. O personagem de Jared Leto, um dos grandes vilões, não é muito bem desenvolvido, não entendemos ao certo seu propósito, parecendo um tanto quanto vago. A performance do ator também não ajuda, que pode até mesmo ser exagerada em alguns pontos. Ademais, o roteiro acaba perdendo sua força, dada natureza do filme, que é mais voltada para reflexões e discussões que estejam para além dele próprio do que para a narrativa em si. Não são elementos que pesam de forma muito significativa, mas existem.
Assim, de forma bastante autoral e singular, “Blade Runner 2049” trouxe todo o vigor e atualização que era necessário para que fosse bem sucedido em sua produção. O ideal para expandir um universo já existente, não excluindo algumas novidades. É por considerar que esse equilíbrio é tão bem feito que o filme consegue ainda ser ótimo mesmo sem o seu antecessor. Nasce aqui um jovem clássico, além do que se podia esperar.
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Achei um ótimo filme, conseguiu acrescentar e até mesmo inovar sem despontar os fãs do longa original. Valeu a crítica! 🙂