Crítica: Kimetsu no Yaiba: Yuukaku-hen

São raras as produções que costumam ser tidas como unanimidades para o público, como é o caso da franquia “Fullmetal Alchemist“, mas mesmo assim, não é difícil encontrar quem discorde dessa aclamação — e, pelo contrário, ache tudo um grande exagero para pouca coisa. Tratar de obras, sobretudo as de término recente, que lidem com um público tão fiel, sempre é uma questão delicada, porém, se há algum ponto racional comum entre o amor e o ódio é que a perfeição não é possível. E, bem, essa não é uma crítica de “Kimetsu no Yaiba: Yuukaku-hen“? Pois bem:

Às vezes, a cada uma noite de lua azul, um anime há de fazer barulho e agradar igualmente Gregos e Troianos. “Kimetsu no Yaiba” está em sua melhor forma, um crescendo que provavelmente só terá conclusão com o fim da adaptação, do também bem avaliado último capítulo do mangá. Não se deve ignorar que não são poucas as críticas circulando na internet, com fundamento, mas ao mesmo tempo, essa segunda temporada chegou para trazer uma amostra do porquê Demon Slayer é um dos animes mais memoráveis de sua geração.

Com uma premissa muito simples, incapaz de gerar qualquer imbróglio numa análise do seu modelo narrativo à Jornada do Herói, Kimetsu recebe a tocha de uma série de animes que vieram antes de si até chegar na consagração do herói típico do shounen japonês, isso mesmo: Dragon Ball. A jornada em busca de derrotar o mal maior, o chefe dos demônios Muzan Kibutsuji, quase não possui complicações rocambolescas que tornam a obra difícil de entender sem desenhar um gráfico — isso é tanto para “Game of Thrones” quanto “Shingeki no Kyojin”, amados, entre outros motivos, por essa razão.

Ao mesmo tempo, Kimetsu faz parte de uma nova geração de protagonistas de séries nipônicas voltadas ao público masculino. Tanjiro Kamado é, como Naruto, Goku e Ichigo, gentil, esforçado, ardiloso, resiliente e possui um inabalável código de honra, contudo, também carinhoso, dócil e “normal” — em termos melhores, não zombeteiro, centrado — como Midoriya, de“My Hero Academia: A representação típica do cidadão modelo que tenta fazer o bem sem ver a quem.

Enquanto essa mudança de postura possa ou não se espalhar para outros animes, Kimetsu já é um clássico de seu tempo, uma recomendação quase que garantida para agradar espectadores fora da bolha — daqueles que torcem ao nariz só de ouvir a palavra anime, ou mesmo para ver com a família. O, talvez, azar de Demon Slayer é estar em lançamento no auge de uma outra série de merecido enorme sucesso, Shingeki no Kyojin.

Se por um lado Attack on Titan exige do espectador desenhar complicados mapas mentais para traçar os esquemas, relações, mortes e traições, Kimetsu tem a vantagem de uma história fácil e mais aparentemente formulaica que a outra — o que também, para muitos, é a sua fraqueza. Mas nem toda obra precisa ser um O Conde de Monte Cristo para funcionar.

A segunda temporada de Kimetsu no Yaiba representa no seu próprio arco narrativo a sua prova de fogo. Ao passo que com o lançamento o anime aproveitou o elemento de novidade, um novo mundo mágico sendo bem apresentado, a segunda foi inteligente em manter tudo que a produção tem de melhor sem deixar a tensão e a adaptação em segundo plano. Além de uma das melhores direções artísticas da atualidade, a trama é tradicional e hábil em prender quem assiste.

Pode não ser, porém, exagero, pontuar como por vezes o artifício do shounen de batalha arroz com feijão é abusado, especialmente quando os flashbacks antes e depois de momentos chave praticamente gritem dizendo que é hora do telespectador chorar. Não chega a ser uma enorme pedra no sapato, mas causa alguns ruídos nos mais calejados. Junto a isso, há também a suspensão de medos reais: é sabido já o que irá acontecer — especialmente quanto a trama da predestinação, agora a se desenrolar — mas o interessante não é o que, mas como Tanjiro e cia. vão resolver os problemas com os onis.

Kimetsu no Yaiba continua lindo e há de se tornar uma figurinha carimbada na lista de animes mais aclamados de sua época.

Crítica: Kimetsu no Yaiba: Yuukaku-hen

Sinopse

Após os acontecimentos no Trem Mugen, Tanjiro e companheiros acompanham o Hashira do som, Tengen Uzui, para o "Distrito do Entretenimento", um local onde extravagância, luxúria e carnificina estão ocorrendo debaixo do véu da noite.

Prós

Animação, trilha sonora e trabalho dos seiyuus continuam impecáveis; de encher mesmo os olhos.

Trama simples, relacionável, que reaproveita o melhor do seu gênero.

Personagens divertidos e carismáticos. Evolução dos personagens continua em dia.

Contras

Eventual apelo excessivo às convenções do shounen.

Para alguns pode soar muito formulaico.

4.8

Nota

Imagens