A cineasta japonesa Naomi Kawase ganhou muito respeito por parte da crítica e dos festivais de cinema da Europa. Ela é amada em Cannes, que sempre que possível inclui um de seus filmes na seleção ou na competição pela Palma. O último a participar do importante festival francês foi “Mães de Verdade”, que traz muito do que tornou Kawase conhecida: um tema caro às mulheres e cenas onde a sensibilidade da artista é exposta em planos lindos de se ver.
A história do filme começa quando o casal formado por Satoko (Hiromi Nagasaku) e Kiyokazu (Arata Iura) descobre que não pode ter filhos, por causa da infertilidade do homem. Por isso, eles decidem adotar um bebê através de uma agência que acolhe jovens mulheres que não possuem condições financeiras e psicológicas para serem mães. Este é o caso de Hikari (Aju Makita), uma adolescente que engravida após namorar um rapaz no colégio. Quando a garota comunica a gravides ao namorado, este se nega a assumir qualquer responsabilidade, e se afasta. Com isso, Satoko e Kiyokazu adotam o filho de Hikari, que por consequência, cai em extrema tristeza enquanto passa por um amadurecimento antecipado.
Temas como as diversas formas de maternidade, as dificuldades de ser uma mãe jovem e a covardia de homens que abandonam suas parceiras saltam aos olhos durante as mais de duas horas de duração do longa. Entre um conflito e outro, há cenas de transição que reforçam o conceito de mãe, tanto a humana quanto a mãe natureza. As duas, na verdade, estão intimamente ligadas, já que os sentimentos das personagens femininas refletem, por exemplo, nas cerejeiras que afloram e são sopradas pelo vento quando as mulheres passam por momentos de satisfação.
Cenas de pássaros voando livremente e do mar são alegorias para a vida. A água, inclusive, pode ser interpretada como o Líquido Amniótico em que o bebê fica envolto dentro do útero da mãe. Para reforçar o tema: quando a esposa e o marido recebem a notícia de que conseguiram a adoção, uma luz branca intensa os ilumina por trás, como se estivessem dando à luz. A mesma coisa acontece com outros personagens no decorrer da história. Por outro lado, a chuva e a neve, assim como o lúgubre pôr do sol, aparecem se elas se encontram em conflitos internos, que também são simbolizados quando o prédio onde mora o casal é mostrado em ângulos que o deixa impossivelmente inclinado.
Com todo esse aparato simbólico, Kawase tenta fugir do banal. Alguns momentos que poderiam ser construídos a partir de sentimentos baratos, possuem conclusões mais humanas e maduras. Claro que “Mães de Verdade” se beneficiaria se tivesse alguns minutos a menos, o que tiraria um pouco do peso que o espectador sente ao se deparar com o ritmo cadenciado empregado por Kawase. Sim, como autora, a cineasta japonesa possui seus próprios modos de fazer cinema, e quem a conhece já embarca em seus filmes sabendo o que vai encontrar. Para os outros, basta ter um pouco de paciência e aproveitar uma bela obra.
Este filme faz parte da programação da 44ª Mostra Internacional de Cinema de São Paulo.
Vídeo e Imagens: Divulgação/TIFF/Mostra de Cinema de São Paulo
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