Este texto possui pequenos spoilers do filme
A franquia Matrix ganha um novo título que, se não chega ao status de obra prima do original de 1999, alcança um alto nível no que diz respeito a roteiro, direção e, claro, efeitos visuais. Além de ser uma obra que fala por si só, “Matrix Resurrections” ainda presta referência aos seus antecessores, mas não apenas com easter eggs ou participações especiais sem significado. Ou seja, o fan service do filme possui função narrativa, não é apenas perfumaria. Imagens projetadas dentro do filme e flashbacks de “Matrix”, “Matrix Reloaded”, “Matrix Revolutions” estão quase sempre presentes e servem como ficções dramatizadas dentro da simulação, e que são uma lembrança para tudo que aconteceu com um desmemoriado Thomas Anderson.
“Resurrections” começa 60 anos depois dos momentos finais de Anderson em “Matrix Revolutions”. Nesse mundo ainda há rebeldes preferindo viver conscientemente na realidade ao invés de mergulharem no sonho criado pelas máquinas. Uma dessas rebeldes é Bug (Jessica Henwick), que conhece as histórias sobre o Escolhido e o acordo que ele fez com o inimigo. Em uma de suas missões, Bug acaba se deparando com uma espécie de simulação de treinamento dentro da Matrix que mostra alguns acontecimentos do passado, como a luta que Trinity travou com os policiais logo no início do primeiro filme. É a partir daí que as peças do tabuleiro começam a se juntar, ainda mais com a inclusão de um programa que diz ser Morpheus
A sinopse do filme continua depois que o novo Neo (Keanu Reeves) – o “novo” não se trata de um trocadilho, já que ele agora é um criador de games que produziu um grande sucesso no passado chamado “Matrix”. Evidentemente, ele não se lembra do que aconteceu nos últimos anos, apesar de ter algumas alucinações que o levam a um psicólogo muito suspeito interpretado por Neil Patrick Harris, que faz com que Neo se torne dependente das pílulas azuis. A propósito, além das pílulas, o azul ainda tinge algumas peças de figurinos, cabelos e cenários. O uso dessa cor serve para ratificar a prisão daqueles personagens dentro de uma simulação que é de fato viciante.
O vício de seus usuários é por causa da perfeição com que ela imita o real. Para construir essa realidade fake, Lana Wachowski e seus diretores de fotografia Hugh Bateup e Peter Walpole são econômicos nos filtros e constroem uma São Francisco que parece saída de uma série de TV: o sol constantemente reflete nas lentes, e a representação das cores está próxima ao que veríamos no mundo cotidiano. Seria ridículo, no entanto, dizer que “Matrix Resurrections” finca o pé no realismo só porque não há imagens esverdeadas como nos filmes anteriores. Por questões criativas, muitas camadas de pós-produção foram excluídas do processo, só isso.
Alguns fãs, inclusive, podem estranhar a grande quantidade de cores, afinal de contas os filmes anteriores eram mais sombrios. Aqui, no entanto, Lana preferiu ousar e subverter a atmosfera que era levada muito a sério. Até piadinhas e gags estão presentes em “Resurrections”. A maior parte delas funciona bem, mas algumas são mal inseridas e acabam prejudicando cenas especificas, como em um momento em que Neo está sendo perseguidor por uma multidão de inimigos, e ao tentar voar para escapar, acaba falhando e dando apenas um pulinho com os braços estendidos para cima. Para completar, ele diz: “é, não vai rolar”. Já as lutas, estrelas nos longas predecessores, quase sempre são bem coreografadas e filmadas – o exemplo negativo é a sequência de ação dentro de um trem, que é tão atabalhoada que até parece saída de um filme de artes marciais com humor, como os primeiros de Jack Chan.
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Portanto, com mais altos que baixos, a franquia Matrix volta para desbloquear as mentes dos humanos presos em simulações vindas de seus celulares e do cinema comercial hollywoodiano, que há muito tempo vem contato as mesmas histórias sem nem ao menos desvirtuá-las ou fazer piadas com elas, assim como faz Lana Wachowski em seu novo exemplar cyberpunk.
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