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Crítica

Crítica: Ninguém entra, ninguém sai

Imagine a seguinte situação: você tem um encontro marcado com seu interesse amoroso e após uma noite agradável, para ficarem mais à vontade, vocês partem para um motel. Porém, depois de tudo resolvido, recebem da gerência uma notícia um tanto estranha. O lugar está sob ameaça de propagação de um vírus mortal e vocês terão ficar em quarentena. Isso mesmo, passar 40 dias naquele lugar.

Parece uma opção daqueles jogos de “Would you rather?” em que é preciso escolher entre dois cenários absurdos, mas é o mote de “Ninguém Entra, Ninguém Sai”. Uma produção curiosa no vórtex infinito de comédias nacionais que chega às telas no dia 4 de maio, mas que ao mesmo tempo que traz um pouco de brilho para o gênero acaba se ofuscando com sua falta de perícia e excesso de convencionalidade.

Construindo a história entorno das figuras que ficarão confinadas no motel Zeffiros’s, na trama somos apresentados a Letícia (Danielle Winits), uma juíza que pretende levar seu segurança Acauã (Tatsu Carvalho) para uma noite de aventuras, ideia que seu filho adolescente Caju (João Côrtes) também tem e que com Bebel (Bella Piero) planeja perder a virgindade. Já o motoboy Edu (Emilliano D’Ávila), mesmo sem dinheiro, prometeu a sua namorada Suellen (Letícia Lima) um encontro romântico no local, enquanto a solitária Margot (Mariana Santos) é sequestrada por Alexandre (Rafael Infante) que foge da polícia após realizar um assalto a uma joalheria e para se esconder acabam os dois parando lá.

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Paralelo a isso, Donizete (Paulinho Serra), funcionário do motel, é internado com a suspeita de ter contraído em seu trabalho um vírus raro, o que faz com que o estabelecimento seja isolado em quarentena. Bancados pelo governo para permanecer no isolamento, os hóspedes vão ter que aprender a conviver entre si e lidar com os planos misteriosos da faxineira Francisca (Guta Stresser), que conta os dias para a chegada de seu “dono”.

Bem, apresentações feitas, já dá para sentir que argumento não falta ao filme. O problema é como ele o desenvolve.

Com um enredo inchado de personagens e subtramas, o roteiro de Paulo Halm não dá conta de solucionar satisfatoriamente todos os conflitos que coloca em jogo. Subaproveitando a qualidade dos episódios absurdos que surgem quando um grupo de pessoas fica preso em um motel, muitas situações são má construídas, algumas acontecem sem nenhum propósito e outras decepcionam pela fraqueza da resolução – o desfecho do filme se encontra nessa categoria.

Entraves como o grupo de resistência que Francisca reúne, que só começa a ser construído na metade do segundo ato do longa, quando teria mais impacto se desse pistas desde o princípio, cenas como quando Letícia descobre que seu filho está confinado junto com ela também perdem o foco ao tentar injetar uma emoção que não deveria existir (a personagem chorando, diz que durante o tempo de isolamento pensou muito no filho, o que em momento algum foi mostrado ao espectador) e o relacionamento criado entre a médica interpretada por Monique Alfradique e Donizete soa completamente aleatório e é um dos eventos que contribui para conclusão frustrante da história.

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Beneficiando-se dos nomes talentosos para comédia em seu elenco, como Letícia Lima, Rafael Infante e Paulinho Serra – esse infelizmente com uma participação pequena -, o filme ganha pontos quando não se apoia em recursos constrangedores como toilet jokes – aquelas piadas horrorosas que insistem que “cagar” e “peidar” têm graça –, mas acaba se prejudicando por seu texto recorrer a tiradas fracas, óbvias e nem sempre engraçadas. Quando o personagem do garoto virgem pede conselhos ao motoboy por não ter conseguido manter a ereção, é mais do que óbvio que a resposta para “a situação está dura?” é “não, está mole mesmo”. É tolo, convencional e precisa de mais elaboração para conseguir arrancar risadas.

Por falar em convencionalidade, a direção de Hsu Chien Hsin – diretor da série “Pé na Cova” da Rede Globo – de vez em quando faz algumas escolhas interessantes, mas boa parte do tempo privilegia a estética da televisão. Para planos médios que centralizam o personagem ressaltado a estranheza de diálogos e situações e uma fotografia, trabalho de Dante Belutti, que funciona bem em separar os arcos da história – a temperatura muda dos espaços comuns do hotel, para o cômodo que fica Francisca, que também é diferente da do hospital –, têm os clássicos establishing shots do centro do Rio de Janeiro, típicos de um capítulo de novela.

Se no começo a premissa de “Ninguém Entra, Ninguém Sai” inspira singularidade, com sua última cena, o elenco cantando com um artista famoso – recurso já batido nos folhetins globais – no final, a sensação é que estamos vemos mais do mesmo. Infelizmente, só boas intenções não fazem um bom filme.

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1995. Cobra criada em Volta Redonda. Um dia acordou e queria ser jornalista, não sabia onde estava se metendo. Hoje em dia quer falar sobre os filmes que vê e, se ficar sabendo, ajudar o Truffaut a descobrir com que sonham os críticos.

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