Depois das acaloradas críticas negativas recebidas pelo “Esquadrão Suicida” de 2016, a Warner Bros. decidiu reiniciar o universo do grupo de vilões, mas mantendo alguns personagens que deram certo, como a Arlequina de Margot Robbie, o Coronel Rick Flag interpretado por Joel Kinnaman e a Amanda Waller de Viola Davis. Há também a manutenção do Pistoleiro que antes era de Will Smith e agora é de Idris Elba. Ou seja, o estúdio pretendia fazer alguns ajustes sem mexer no miolo principal de seu produto. Para comandar essa nova empreitada, James Gunn, tão idolatrado pelos fãs da concorrência, foi contratado.
A ideia de escalar Gunn para dirigir a história de um grupo disfuncional de personagens que são forçados a trabalhar juntos em prol de algo maior foi realmente boa. A grande diferença neste caso é que, com exceção da Arlequina, em “O Esquadrão Suicida” há um punhado de vilões sem o mesmo carisma dos heróis de “Guardiões da Galáxia”. Claro que é possível fazer bons filmes usando protagonistas odiosos ou que geram pouca identificação com o público, no entanto, esse tipo de obra quase não aparece na prateleira das superproduções hollywoodianas baseadas em histórias em quadrinhos porque dificilmente dá lucro. Para vender bem, é preciso fazer com que o espectador saia do cinema amando cada uma das partes do espetáculo para que depois ele consuma tudo o que está na periferia, como bonecos e camisetas. Infelizmente, a nova produção da DC não consegue esse feito.
Dizer que ele não entrará na lista dos melhores filmes comerciais baseados em quadrinhos pode ser estranho, afinal o seu desempenho no site Rotten Tomatoes é excelente, o que demonstra que há muitas pessoas amando a obra. O problema é que talvez esse amor seja pelos motivos errados. Há aqueles que podem estar gostando das inúmeras piadas sobre pênis (é provável que James Gunn tenha alguns problemas com seu membro), ou mesmo da violência extrema, que mostra vísceras e corpos decepados para gerar impacto ou humor gratuitos. Com certeza, tem gente muito feliz com a bizarrice que explode na tela em quase todos os momentos, ainda mais quando figuras como a Doninha (Sean Gunn), o Tubarão-Rei (Sylvester Stallone) e O Pensador (Peter Capaldi) estão presentes – para completar, há ainda uma estrela do mar gigante com um olho em seu centro e que expele pequenas cópias suas pelas “axilas”. O Bizarro é um artificio muito valioso quando ele auxilia no total desenvolvimento da narrativa. Em “O Esquadrão Suicida”, no entanto, ele serve simplesmente para que o diretor/roteirista grite: “Vejam como eu sou diferente!”. Para ser justo, Gunn até que consegue se sobressair em uma sequência ou outra no quesito ação, mas na maior parte do tempo ele apenas disfarça o simplório com cortes rápidos e uma boa seleção de músicas. Até mesmo a Arlequina não é bem aproveitada, já que seu tempo de tela é composto por cenas repetidas e pouco criativas. Um claro desperdício do talento da atriz!
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Dito tudo isso, você pode estar se perguntando: “Tá bom, mas qual é a história desse novo filme”? Em resposta, basta dizer que é sobre um grupo de excluídos que precisa salvar o mundo de ser destruído por uma arma mortal em posse de uma ditadura da América Central. Bom, pelo menos agora não são os russos, os norte-coreanos ou os chineses, e a tal ditadura é produto da própria interferência norte-americana. Alguém mais atento pode interrogar novamente: “Essa interferência pode ser caracterizada como uma discussão geopolítica proposta pelos realizadores, como fez Zack Snyder em seu ‘Army of the Dead: Invasão em Las Vegas‘? “De jeito nenhum! É apenas uma desculpa do roteiro para usar uma versão infantilizada do general bufão e sanguinário, que quer a destruição da América sem nenhum motivo claro. O grupo revolucionário disposto a derrotar o ditador e seus asseclas, ao estilo guerrilha de Che Guevara, é outro a dar as caras.
Questões políticas à parte, é preciso dizer que “O Esquadrão Suicida” é um filme um pouco superior ao seu antecessor – o que não é exatamente uma surpresa – e que as repetições típicas do cinema comercial da nova geração estão presentes. Muito do seu provável sucesso nos EUA quando ele for lançado será, inclusive, porque parte dos adolescentes e dos adultos com alma de adolescentes daquele país querem algo familiar, rápido e de fácil digestão para se divertir. Se concluirmos então que um percentual considerável da população brasileira segue religiosamente os padrões norte-americanos, o sucesso do longa será garantido por aqui também.
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