Todo fã de George Romero e de “The Walking Dead” sabe que filmes e séries de Zumbis não são exatamente sobre zumbis. Os zumbis só são usados para discutir a condição humana e a sociedade. Zack Snyder é um desses fãs, tanto que fez “Madrugada dos Mortos” – uma refilmagem de um clássico de Romero – para discutir o consumismo em uma trama que se passa em um shopping center. Snyder agora volta sua carga crítica disfarçada de diversão pop com “Army of the Dead: Invasão em Las Vegas”, que conta a história de um grupo de mercenários contratado para resgatar milhões de dólares guardados no cofre de um cassino que fica no centro de uma Las Vegas dominada por mortos-vivos. O trabalho precisa ser rápido, já que o governo pretende lançar uma bomba atômica para destruir a cidade e tudo que está nela.
Os tais mercenários são liderados por Scott Ward (Dave Bautista), que monta um time com personagens característicos de filmes sobre roubos, mas que também são símbolos de países acostumadas a entrar em guerras e a saquear nações menos favorecidas. Há Dieter (Matthias Schweighöfer), o alemão especialista em cofres, a coyote francesa Lilly (Nora Arnezeder), e os americanos representados pelo próprio Scott, sua filha Kate Ward (Ella Purnell), a piloto de helicóptero Tig Notaro (Marianne Peters) e o capanga pouco confiável Martin (Garret Dillahunt). Há ainda as minorias – que na ficção e no mundo real são, geralmente, mandados para a linha de frente e acabam sendo os primeiros a morrer – personalizadas pelo soldado negro Vanderohe (Omari Hardwick) e pelos mexicanos Mikey Guzman (Raúl Castillo) e Maria Cruz (Ana de la Reguera). Todos financiados pelo japonês Bly Tanaka (Hiroyuki Sanada).
Com exceção a Kate, que entra no grupo para tentar achar uma amiga que está perdida na cidade, o resto dessa coalisão possui um único e nada nobre objetivo: ficar milionário. Em outras palavras: é como quando os EUA e seus aliados invadem um país do oriente médio querendo roubar poços de petróleo ou quando a batalha por território e dominação gera duas grandes guerras mundiais. O curioso é que em “Army of the Dead: Invasão em Las Vegas”, o território hostil a ser invadido foi criado pelos próprios EUA, o que cria um paralelo com aqueles terroristas treinados pela CIA e que destruiram posteriormente o World Trade Center e parte do Pentágono. A população de zumbis de Las Vegas será atacada, mas revidará sem misericórdia, até porque ela não é composta pelos lentos e burros Zumbis idealizados por Romero. Eles são rápidos e organizados por líderes que conseguem pensar e criar planos. São como um novo elemento de evolução da espécie (Evoluíram tanto que podem até procriar), e que querem seu lugar no mundo.
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O embate entre os saqueadores e os nativos se dá através de muitos tiros, piadas, sangue e explosões. Como em qualquer filme de ação Hollywoodiano, a diversão é certa, no entanto, Zack Snyder usa sua veia de autor para ir além e inserir em seu filme as questões políticas citadas acima e a crise de imigração com crianças presas em jaulas nos centros de concentração disfarçados de campo de refugiados. Suas questões familiares também tomam forma no relacionamento conturbado entre os personagens de pai e filha interpretados por Bautista e Purnell. A filha de Snyder, como é de conhecimento de todos, se suicidou há 4 anos.
“Army of the Dead: Invasão em Las Vegas” é um filme que, mesmo estando na prateleira dos comerciais, traz todas essas camadas e muitas outras, mas cabe a cada um dos espectadores a tarefa de desvendá-las. Não é errado, contudo, apreciá-lo como uma peça de ação e aventura e passar mais de duas horas apenas se divertindo. Afinal, material para o deslumbre audiovisual é o que não falta. Agora, para os fãs mais ardorosos de Snyder é preciso dizer que o famoso estilo de câmeras lentas e músicas estridentes do cineasta foi deixado um pouco de lado. Ele optou por fazer algo mais casual, sem sua tão discutida assinatura aparecendo a todo momento. Por isso é que só na conclusão que o volume sobe e “Zombie”, do grupo irlandês “The Cranberries”, é tocada. É uma canção que faz todo o sentido para o filme, por motivos óbvios ou não.
O filme já está disponível na Netflix.
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