Quando a modéstia pega o caminho errado

Em 1910, Srinivasa Ramanujan (Dev Patel) é um homem de uma enorme capacidade intelectual, que mesmo a extrema pobreza de sua vida em Madras, na Índia, não pode esmagar seu sonho de publicar suas descobertas. Eventualmente, sua destreza em matemática e sua confiança ilimitada passam a atrair a atenção do matemático britânico G. H. Hardy (Jeremy Irons), que o convida para desenvolver ainda mais os seus cálculos no Trinity College, em Cambridge. Forçado a deixar sua jovem esposa, Janaki (Devika Bhise), Ramanujan encontra-se em uma terra onde sua cultura nada vale, assim como suas teses sem comprovação científica, embarcando numa Grã-bretanha preconceituosa, a caminho da Primeira Guerra Mundial. Porém, Ramanujan junta-se a Hardy em uma luta mútua que o definiria como um dos maiores estudiosos modernos da Índia, que quebrou mais de uma barreira em “seus mundos”.
O roteiro e a direção ficaram por conta do iniciante Matt Brown que trouxe em ambas atividades uma grande vontade de contar a beleza por trás da realidade, mas acabou falhando em vários pontos. Na trama, baseada na biografia escrita por Robert Kanigel, não há um clímax real para a história, os conflitos culturais assim como outros problemas enfrentados pelo protagonista no início do século XX são pouco explorados e passam quase despercebidos, como se não houvesse necessidade de mostrar a real frustração.
Em sua direção há uma prioridade de planos abertos como uma proposta de exposição para as distintas realidades entre Madras e Cambridge. No enquadramento acontece o mesmo e a famosa regra dos terços, que não é uma regra obrigatória, torna-se uma repetição de centralizações que reforça a teoria, mal embasada e mal esclarecida na obra, de que o que o protagonista sabe por instinto é oriundo de Deus. Resumindo seu trabalho em ambas categorias: A ideia era enaltecer uma figura única e histórica, mas se torna uma obra de beleza plástica e neoclássica, em que os ingleses não possuem culpa alguma e são no máximo “pessoas frias”.

A trilha apresenta uma proposta interessante, intercalando melodias próximas à música clássica junto com os fortes e característicos ritmos indianos. Os problemas ficam em sua aplicação, tornando massacrada e, por muitas vezes, esboçando uma emoção não existente na imagem que presenciamos. O que ocorre ao contrario se tratando da Arte, Figurino e Caracterização, que não só conseguem expressar beleza, como verossimilhança e alinhamento sociocultural à trama.
Outro ponto forte do filme fica a cargo do elenco encabeçado por Dev Patel e Jeremy Irons, que nos trazem boas interpretações, sem nenhum tipo de sobrepeso e/ou exagero. Ainda que Dev já tenha mais do que mostrado sua capacidade de ser o jovem humilde e sonhador indiano, ele ainda consegue convencer tal narrativa, porém, uma hora isso irá se esgotar. Irons se sobressai, com relação a ele, não só por sua monstruosa experiência e qualidade cênica, mas por expor um personagem interessante, por muitas vezes contraditório, e de um refinado humor negro. Vale ressaltar, que o elenco secundário é uma parte que se tornou essencial, trazendo nomes “não tão” famosos, mas de grande peso artístico, como Toby Jones, Stephen Fry e Kevin McNally, além da grata surpresa de ter Devika Bhise como a doce Janaki.
“O Homem Que Viu o Infinito” é um bom filme, mas se perde quando se trata de um drama biográfico. A necessidade de se fazer um filme sobre matemática e teorias abstratas, para a época, direcionado à um publico que desconhece tais teorias, tornou-se bem realizada, mas sem muito o que dizer se tratando do contexto de uma maneira geral. O que faltou foi a consistência da beleza dramática, que poderia fazer do filme uma obra verdadeiramente infinita, inspiradora e inesquecível.
https://youtu.be/HP8bqZiOlhE
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