Uma troca entre gerações
Segundo o dicionário, a palavra “Educação” é um ato ou processo de educar(-se). É a aplicação dos métodos próprios para assegurar a formação e o desenvolvimento físico, intelectual e moral de um ser humano. É o conjunto desses métodos: pedagogia, didática, instrução, ensino e alguns outros conceitos a mais. De qualquer maneira, aquilo que recebemos em casa, é a base de nossa educação. Já aquela que temos na escola é uma formação complementar, para agregar conhecimentos físico-sociais à nossa vivência.
Durante todo o tempo escolar passamos por diversas fases em que a educação é construída e desconstruída ano a ano. Dito isso, aqueles que como nós já saíram da formação básica, carregam carinhosamente (ou com muito ódio no coração) mestres e mestras que mudaram nossas vidas com o ensino. O primeiro longa do francês Oliver Ayache-Vidal, “O Melhor Professor da Minha Vida” (Les Grands Esprits) é exatamente sobre isso.
A trama nos apresenta ao professor François Foucault (Denis Podalydès), na casa do 40 anos, que leciona há bons anos no renomado Liceu Henri IV, perto do Panthéon de Paris. Devido a alguns acontecimentos, ele acaba sendo obrigado a aceitar a transferência de um ano para uma escola no subúrbio da cidade. Solteiro e com um humor questionável, essa mudança não será fácil nem para ele, nem para seus novos alunos, que entre eles está Seydou (Abdoulaye Diallo). Com a ideia de que o problema da educação numa escola da periferia era o “despreparo” e a “inexperiência” dos professores, lá ele acaba percebendo o quão errado estava. Entre o medo de que o pior pudesse vir a acontecer, seu período dentro desse novo ambiente, que parecia hostil, começa a despertá-lo um novo educador.
O roteiro assinado por Oliver Ayache-Vidal poderia ser facilmente comparado a obras famosas como “Sociedade dos Poetas Mortos” (1989), “Escritores da Liberdade” (2007) e, principalmente, ao longa “Ao Mestre Com Carinho” (1967). Porém, não podemos fazer isso afinal, embora tenhamos muitas semelhanças, Oliver consegue dar uma visão diferente e contemporânea sobre a arte de educar. Tal construção começa com o “pré-conceito” estabelecido pelo protagonista sobre uma instituição que não conhece, pelo simples fato de ser num subúrbio. Na direção contrária, temos os alunos que possuem problemas pessoais e não se sentem motivados a estarem ali. E, não suficiente, ele ainda alinha uma gestão super atual que é a imigração de pessoas de países diferentes, a falta de oportunidades e de diálogo por igualdade e empatia.
Como diretor ele também segue a mesma essência. Buscando cativar o público, desenvolve uma dinâmica fluidez narrativa, com dramas leves, mas de debate obrigatório a todos aqueles de mentes pensantes, com um toque de humor caricato. Por se trabalhar com adolescentes, Vidal também usa da suposta malícia da idade para estabelecer naturalmente a inocência juvenil. Aqui, de certa maneira, ele deixa o bullying de lado para estabelecer outros problemas de convívio. Por se preocupar mais com o orgânico, seus planos são estabelecidos basicamente em “somente o necessário”. Nessa analogia, suas cenas e sequências são captadas em grande parte com câmera na mão, buscando a luz natural e estabelecendo constaste quando necessário. Talvez, sua maior faceta foi saber desenvolver o trabalho com os atores e saber a hora de parar.
Consagrado pela companhia francesa de teatro Comédie-Française, Denis Podalydès é uma explosão na tela. Com um personagem arrogante e cheio de maneirismos, ele também expõe um lado mais humano e sensível, trazendo à tona um equilíbrio perfeito para a tela. O fato é que seu trabalho é tão bom, que ele nos faz querer mais desse personagem e aí acabamos percebendo que embora o roteiro seja bom, ainda falta profundidade nas personas. Abdoulaye Diallo, é mais carismático que ator, mas é exatamente por essa característica que esquecemos o fato profissional e aceitamos sua presença. Ainda que ele tenha muito o que trabalhar em sua interpretação, ele consegue preencher as lacunas necessárias e sua parceria com Denis segue bem equilibrada.
“O Melhor Professor da Minha Vida” é leve e segue sem muitas pretensões. Com uma ótima premissa, a estreia do diretor segue na média, com pontos bons e não tão bons assim. Ainda que não seja um filme que te arranque arrepios, sua “dramédia” ganha em seu tom contemporâneo, modesto e natural. Vale dizer que sua trilha também é bem interessante e, o longa sem o “final” que o público comum está habituado, chega ao fim com a canção “Who Knows”, de Marion Black.
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