Os vampiros de uma forma nunca vista antes
Castelos, roupas luxuosas, glamour, hipnose, voos e transformações são algumas das características mais exploradas nos filmes sobre vampiros. “O que Fazemos nas Sombras” traz, no entanto, uma visão da figura emblemática do vampiro de forma humorada. A trama é sobre a vida (ou morte) de três vampiros: Viago (Taika Waititi), Deacon (Jonny Brugh) e Vladislav (Jemaine Clement). O combustível para dar partida no filme é a permissão que uma equipe de filmagem obtem para gravar a rotina dos três vampiros.
O longa tem o roteiro estruturado, em boa parte, com diálogos entre os personagens e a câmera, como se estivessem sendo entrevistados. O formato de falso documentário foi uma ótima saída para um filme independente, dirigido por Waititi e Clement (os intérpretes de Viago e Vladislav). Além de ser uma ótima opção para cineastas sem muito dinheiro para grandes produções, o falso documentário contribuiu para o humor, pois aproximou o os protagonistas do telespectador, que pode ter passe livre na intimidade dos vampiros.
Além dos três personagens principais, existem também o companheiro de casa Petyr (Ben Fransham), vampiro mais velho da residência com oito mil anos, Nick (Cori Gonzalez-Macuer), um vampiro recém-transformado e Stu (Stu Rutherford), o amigo humano de Nick, que acaba se tornando querido por todos.
A comicidade é trabalhada e obtida através da simplicidade e da ironia. Os comediantes quebram os estereótipos do vampiro clássico, glamouroso e medonho, transformando a criatura do universo do terror em pessoas comuns, com inseguranças, dificuldades, tarefas de casa e preocupações com estilo de roupa. No entanto, a sutileza das piadas pode não agradar o grande público e até achar o trabalho bobo.
Logo no início do filme é possível perceber a essência da história, que não tenta utilizar o terror em nenhum momento. Viago chama os companheiros para se reunirem na cozinha e decidirem as tarefas de casa. Como um pai responsável, ele faz até um desenho de parede para sinalizar as obrigações dos amigos, que, por mais que relutem, acabam realizando deveres que qualquer pessoa normal faz, como lavar a louça e passar aspirador de pó na casa.
Além das sátiras com símbolos vampirescos, existem referências nos próprios personagens. Petyr é a representação escancarada de Nosferatu, enquanto Deacon e Vladislav competem na comparação com o tradicional Drácula e Viago se aproxima mais de um Louis de Point du Lac de “Entrevista com o Vampiro”. Já Nick reserva a melhor e mais irônica comparação: Edward Cullen do filme “Crepúsculo”, durante as cenas o ator chega até citar o nome do personagem.
A direção de arte é um dos pontos fortes do longa, e contribuiu muito para a clara comparação dos personagens com figuras clássicas do cinema. Os efeitos especiais também não ficam atrás. Para um filme independente, até que os voos são bem legais. E o que mais chama atenção é a edição e montagem. Os cortes pontuais, feitos nos momentos certos e a utilização de imagens de “arquivo” dos próprios vampiros ou de desenhos de livros contribuem muito para construção dos personagens e da amizade entre eles. Mas, mais importante, constrói uma narrativa muito divertida e fácil de acompanhar, diferente do que é normalmente visto em outros filmes com esse formato. Se tratando de um filme em formato de documentário com câmera na mão, é comum cair na inércia e só utilizar imagens que sigam uma ordem cronológica, recurso utilizado para trazer mais veracidade à história. “O que fazemos além das sombras”, rompe com a linha temporal e alcança um ótimo resultado. Além, é claro, da trilha sonora punk que traz um ar de rebeldia juvenil e combina perfeitamente com o clima.
E não podemos esquecer do Stu. (alerta para pequeno spoiler). O amigo humano de Nick, trabalha como técnico de computador, e é recebido com muito carinho pelos vampiros, se tornando o agregado da família. Ele é um dos melhores personagens, sua apatia em relação às criaturas com quem convive, é um dos pontos altos da produção. Stu traz mais do universo moderno para a vida dos tradicionais vampiros e os ensina a utilizar a internet e os convida para boates badaladas.
Um dos pontos fracos do filme é tentativa de inclusão dos lobisomens, que surgem sem nenhuma conexão na história e não alcançam a graça esperada.
O filme, feito na Nova Zelândia, é de 2014 e é inspirado no curta-metragem também realizado por Waititi e Clement em 2005. Contudo a comédia só chegou em terras brasileiras no ano passado, pois, como todos sabemos, filmes independentes demoram a circular pelo mundo. Ainda assim, o conhecimento sobre o filme é pouco. O filme pode ser encontrado em plataformas de streaming.
Confira abaixo o trailer:
Por Manuella Neiva
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