O espetáculo do dramaturgo francês Robert Thomas ganhou nova versão brasileira e estreou nos palcos cariocas neste mês de novembro. A comédia policial ambientada na década de 1950 tem em seu elenco somente mulheres. A pegada de empoderamento feminino não para por ai: nesta montagem todo corpo técnico e artístico envolvido é composto por mulheres, resultando em um número sensível e de humor inteligente.
Uma mansão no interior da França fica isolada por uma nevasca na véspera de Natal, e, nesta madrugada, misteriosamente, o patriarca da família é brutalmente assassinado com uma facada nas costas. Isoladas pela neve e pelo assassino (que tranca os portões e corta os fios do telefone) as mulheres da casa se dão conta de que, mediante aos fatos, a assassina não pode ser outra pessoa, se não uma delas. E passam a investigar os passos umas das outras desde a madrugada anterior até o momento do assassinato, gerando um clima tragicômico.
As personagens são trabalhadas de forma caricata, conferindo humor aos diálogos, mas sendo um pouco cansativo, especialmente para aquelas com uma pegada mais dramática. No entanto, o trabalho das atrizes é divertido, mesmo quando denso.
O figurino e o cenário propõem ao expectador uma viagem no tempo. As roupas retratam a elegância francesa e demarcam os papéis sociais por meio de suas modelagens, entretanto, o uso de tecidos similares para a maior parte dos figurinos não reforça essa ideia. O cenário é cheio de belos detalhes que mostram o cuidado com que a montagem foi pensada e executada, contando com um jogo de luzes interessante: os lustres pendentes espalhados pelo palco, reforçam a luz em determinados pontos para realização de certas cenas.
O roteiro é envolvente, e a adaptação do texto é interessante (pecando somente no uso de algumas expressões de uso mais recente). Contudo, a peça é longa e pode se tornar exaustiva sendo que poderia ser enxugada sem perder a qualidade. Um ponto que merece ser tratado é o uso de palavras em francês ao longo do texto. A opção estilística é interessante mas soa antinatural, e a passagem falada em francês (um pequeno monólogo durante uma das cenas) privando parte do público a participação completa na trama, sendo um pouco excludente para aqueles que não tem domínio da língua francesa.
A peça desenvolvida e interpretada por mulheres, trata de forma inteligente a relação entre elas em situações limítrofes, mostrando como estas conexões podem ser voláteis. Não é, no entanto, uma montagem que trate de sororidade feminina ~~ e nós sentimos tanta falta disso.
O espetáculo é um projeto independente que estará em Cartaz no teatro Dulcina (local onde a própria Dulcina de Morais estreou a mesma peça no Brasil no ano de 1962) – para mais informações clique no link.
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