Para quem acompanha a programação do canal Globo, provavelmente sabe que as últimas séries e minisséries de sucesso na emissora tem muito mais em comum do que imaginam, pelo menos se tratando da parte técnica. “O Canto da Sereia”, “Amores Roubados” e “O Rebu”, por exemplo, contam com os nomes de José Luiz Villamarim, Walter Carvalho e George Moura, que se uniram mais uma vez para, ao invés de fazer tv, fazer cinema, apresentando o longa “Redemoinho”.
O roteiro escrito por George é baseado no livro “O Mundo Inimigo – Inferno Provisório Vol. II”, do escritor Luiz Ruffato. Com muitas licenças poéticas, apresenta a véspera de natal de dois amigos que se reencontram em Cataguases, interior de Minas Gerais, onde cresceram juntos. Nessa “reunião”, que começa de forma amigável, regado a conversas triais, com um pouco de cerveja aqui e ali, torna-se um embate entre Gildo (Júlio Andrade), que melhorou sua vida em São Paulo, e Luzimar (Irandhir Santos), que continuou no interior e manteve seu simples estilo de vida. É então que as marcas do passado, deixadas por eles e seu grupo de amigos de infância, começam a assombra-los de forma a se afrontarem sobre suas realidades.
No trabalho Moura, eis que surge a questão do quão importante ou desnecessário o subtexto pode ser. Embora tenha um bom entrelaçamento, a narrativa se perde em fazer um suspense desnecessário, pois já sabemos o que aconteceu com apenas quinze minutos de filme, por alguns momentos somos massacrados por apelos desnecessários, que poderiam ter sido cortados para um melhor aproveitamento do longa que cai em desânimo.
Mas tal ocorrência vem também, em parte, da “inexperiente” visão cinematográfica de Villamarim. Em seu primeiro longa, ela conseguiu desvincular a imagem televisiva da telona e desenvolveu sua linguagem que é boa, mas que ainda pode melhorar. Visivelmente, podemos perceber que ele é um diretor melhor na tv do que no cinema, afinal são 25 anos de carreira. Porém, para um filme de estreia, ele consegue superar a expectativa visual, constrói sua narrativa, embora toda a magia fique com a fotografia de Walter Carvalho.

O “pai” na fotografia do cinema nacional, mais uma vez mostra o poder de seu trabalho. Dando a liberdade poética necessária, sua composição consegue nos dar e fazer captar as necessidades dos personagens dentro da trama e da cidade interiorana. Planos em câmera lenta e gerais abertos, são os destaques, principalmente quando em um plano aberto consegue dar força a um determinado ponto a aguçar os sentidos do expectador, explorando quebras de profundidade, enquadramentos diagonais e o paralelismo cênico.
Irandhir, que vinha se destacando no cinema nacional, entrega o trabalho insosso e completamente sem força. Vale ressaltar que o seu sotaque mineiro é um dos piores vistos nos últimos anos. O que já acontece o contrário com a, mais uma vez, maravilhosa Cássia Kis Magro, dando todo o ar de ternura e desconfiança materna à mãe de Gildo, a dona Marta. Outro nome importante no elenco é o de Dira Paes, que tem tudo para se destacar, tendo, talvez, a cena mais forte de todo o filme, mas não o faz. Sua personagem, a ex-prostituta Toninha, é tão interior, com uma construção mais psicológica do que física, que botar para fora toda a dor e alegria presentes nela não foi fácil e não ficou satisfatoriamente verossímil na tela.
Se vamos falar de verossimilhança o trabalho de Júlio Andrade como Gildo, se encaixa a outro personagem onírico e importantíssimo para o desenvolvimento do filme: O trem. Com a interpretação forte e, por vezes, visceral de Júlio, seu personagem vem com uma passagem, que cruza a vida de outros personagens, trazendo lembranças, aquela bagagem pessoal e ainda possui a força de destruição. Ele assim como o trem costuram a cidade como se costurasse uma cicatriz, mas ao mesmo tempo jogam o álcool e apertam a ferida.
Nesse movimento centrifugo de lembranças, “Redemoinho” é uma boa obra nacional, embora peque em erros primários para tamanha experiência da equipe e elenco. Mesmo não sendo um filme que marque nossa memória, vale a pena assisti-lo para reconhecer o que é bom no cinema brasileiro.
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Quanta arrogância! Imagina se eu chego para o Messi e falo que ele deveria ter feito isso ou aquilo em uma partida de futebol…Seria ridículo, assim como essa crítica. Um cara que não saiu das fraldas bancando o “experiente” e tentando dar lições em pessoas que não precisam de suas opiniões. É claro que você pode gostar do filme ou não, mas isso fica no subjetivo das opiniões pessoais, porque você não tem cacife para discutir “tecnicamente” com os realizadores, assim como eu não tenho. Agora, espera um pouco que eu estou indo ali dar umas aulas de cinema para o Spielberg!