Algumas histórias reais são tão inacreditáveis e mirabolantes que parecem originadas da ficção. Parece, inclusive, razoável poder dizer que tanto a vida imita a arte quanto o contrário, nesse caso. Sempre nos perguntamos se tais fatos não poderiam ser explorados nas mais diversas mídias, seja em quadrinhos, livros, cinema ou televisão, qualquer meio pelo qual se pudesse romanceá-los. “Somente o Mar Sabe” é, definitivamente, um filme que se enquadra nessa situação, e tem plena consciência disso.
A obra é um drama biográfico, com recorte temporal específico, de Donald Crowhurst, que resolve se aventurar numa corrida de barco envolvendo uma volta ao mundo sem paradas. Mesmo sem nenhum tipo de experiência, o homem encara de frente o desafio e inicia sua jornada na esperança de dar uma condição melhor para sua família. Isso, é claro, sem mencionar que sua embarcação nem ao menos estava pronta. Dessa forma, grande parte do longa pretende ser um estudo de personagem, do estado psicológico de um homem em circunstâncias extremas. Não apenas dessa forma, mas abordando sua relação com a família e vice-versa.
É necessário, portanto, que nos preocupemos com o protagonista e o entendamos, ponto que pode ser o mais fraco de “Somente o Mar Sabe”. Colin Firth está bem confortável no papel, mas não é dado ao espectador algum tipo de base para entender seu personagem, sua trajetória. O pouco que envolve isso se trata de sua família, que funciona relativamente bem, mas que encontra problemas se pararmos pra pensar nas motivações e implicações daquilo que Crowhurst desejava. É um elenco de apoio que conta com alguns atores britânicos já conhecidos do grande público, mas que não conta com nenhum tipo de brilhantismo por parte deles. Aos que não conhecem a história real, fica um pouco complicado entender a magnitude dos eventos.
Por outro lado, há alguns elementos poéticos aqui que devem ser ressaltados. O início do filme, contando com filmagens do mar e as outras vezes na projeção em que ele aparece são bem bonitos, realçados quando há alguma narração por trás. Casa bem com a proposta metafórica que a narrativa que nos é contada tem, além de inserir a grandeza do ambiente em que a maior parte dela se passa. Inclusive, existe um recurso, enquanto a viagem do protagonista ocorre, de filmar seu barco por cima e mostrá-lo na imensidão do oceano, com a pouca iluminação que ela produz. Mesmo só se usando disso uma ou duas vezes, é um poderoso trecho que agrega bastante ao longa. Ainda há o som das águas do mar que é presente e forte durante muito tempo, vindo de um bom design de som que, com constância, estabelece o clima sonoro que aquela viagem proporciona e, de forma verossimilhante, tinha.
É frustrante que “Somente o Mar Sabe” esteja, de fato, aquém de seu potencial. É uma história muito intrigante que poderia ter gerado um grande filme, mas que não o faz. Passa longe de ser ruim também, mas que se torna um drama mediano com alguns méritos se sobressaindo. Apesar disso, é um bom filme para que se conheça uma curiosa história que não deveria ter caído em desconhecimento.
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