É curioso que um seriado como “The Boys” chegue justamente no ano em que outra desconstrução do arquétipo de super heróis esteja prestes a estrear : “Watchmen”. Ainda mais se levarmos em conta 2019 é o ano em que o fenômeno dos “super seres de colãs” alcança seu ápice com a conclusão da Saga do Infinito em “Vingadores; Ultimato”. Esse talvez seja o melhor momento para lançarmos então um olhar critico sobre a nova tendencia sobre a mídia de consumo americana.
Baseado em um quadrinho homônimo de Garth Ennis a nova série produzida por Seth Rogen e Evan Goldberg (“Preacher“) mostra um mundo em que os super-heróis são celebridades, e por isso são isentos de suas responsabilidades. Após um acidente, em que uma garota é desintegrada, os heróis passam a ser investigados na surdina por um grupo que se ato denomina “Os Rapazes”.
Dois problemas grande nas sátiras mais recentes de sub-gênero, é a dependência clara de seus paralelos, e ausência de um tema a ser trabalhado. Porém o grande diferencial aqui é o uso do elemento satírico como catalisador de uma forte crítica ao capitalismo selvagem e a fantasia de poder masculina dentro desse sistema.
Os supers são extensões de uma sociedade disfuncional, baseada em consumo e validação de poder, e todas as suas ações são frutos disso. Salvar ou não alguém depende mais da repercussão popular do que de um senso de justiça comum. Há todo uma crítica ao lucro e a “ostentação” que permeia todos os episódios, e em contraste a isso a serie adota uma estética mais “suja” e “urbana”.
A direção de arte faz o trabalho incrível de criar visuais que, ao mesmo tempo que remetem a várias figuras do imaginário popular (como a Queen Maeve e Mulher Maravilha), conseguem soar bem própria. Complementar a isso há também uso preciso de tons mais frios na fotografia (diferente da paleta “lavada” de filmes da Marvel por exemplo) o que retira o glamour das cores vibrantes dos super-trajes e com isso qualquer glamour que eles poderiam ter.
É muito importante para o texto, que a estética da série – isso é: narrativa visual – não fetichize ação, pois isso criaria uma discordância grande com os temas abordados, por isso a montagem das cenas de combate, em grande parte, é confusa e desinteressante retirando assim qualquer elemento cool que ação poderia ter. Porém, há um ou outro momento em que montagem acaba por estender demais algumas sequências de violência gráfica, na tentativa de chocar o espectador (vide a cena do personagem de Karl Urban no banheiro), o que curiosamente gera o efeito inverso a isso, já que não há uma consequência direta disso.
As mais fortes consequências, no entanto, são melhores sentidas quando isso depende dos personagens, é um trabalho meticuloso na composição dos personagens título, cada um é muito próprio, e apesar de todos terem seus momentos, não há como não citar a presença quase magnética de Karl Urban como Billy Bruto, ele é feroz e intenso e é quase impossível parar de assisti-lo. E em termos de arco, o seu é perfeitamente funcional, porém é totalmente eclipsado com os acontecimentos que envolvem a personagem de Erin Moriarty, muito além do teor crítico da série, sua personagem acrescenta humanidade ao universo hostil do capitalismo patriarcal.
Com heróis que poderiam ser descritos como mistura Kardashians com Charles Manson, “The Boys” vem para mostrar o poder da sátira, não só para expor ridículo do subgênero como também os problemas da nossa sociedade como um todo.
https://www.youtube.com/watch?v=06rueu_fh30
Imagens e Vídeo: Divulgação/Amazon Prime Vídeo
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