Que o curso da história não é transformado apenas por grandes homens e grandes feitos, a historiografia já vem estabelecendo desde o último século, e o novo filme de Terrence Malick parece muito alinhado com essa proposta. Pequenos atos, momentos que a princípio passariam despercebidos também devem ser levados em consideração para entender determinados eventos e episódios históricos. O título do filme, “Uma Vida Oculta”, deixa essa ideia em evidência e a confirma até mesmo com a citação colocada em tela que encerra a projeção.
Diferente do satírico “Jojo Rabbit”, o longa de Malick é um drama extremamente melancólico do início ao fim, em grande medida por conta da natureza do enredo que nos é contado. Seria muito difícil encontrar espaços para respiro dentro de “Uma Vida Oculta”, o que torna a experiência de assisti-lo ainda mais intensa e pesarosa. Nesse sentido, a duração que atinge as quase três horas é sentida tanto pelo tom dos acontecimentos em tela quanto pela característica prolixa vista aqui. Mesmo que a ideia seja de elaborar um épico, relatar parte da vida de um mártir anônimo, a obra parece redundante e demasiada contemplativa em alguns momentos, sobretudo no decorrer do segundo ato. Em termos de estrutura, fica claro que o primeiro ato, destinado para apresentar o protagonista e seu mundo, bem como o último, muito comovente, funcionam bem e fazem com que o ritmo vagaroso seja mais suportável.
E se foi mencionado antes sobre a melancolia que ronda “Uma Vida Oculta”, nada mais justo que mencionar sua fotografia. Os tons cinzentos, escuros e tristes estão em todos os lugares e parecem refletir o estado de espírito daquela época, daquele local. Acima de tudo, dos valores de nosso protagonista, o que faz com que mesmo os belíssimos campos do interior da Áustria não pareçam tão bonitos assim. Há beleza propriamente dita, mas não há vivacidade, não existe neles cor e brilho. O universo que cerca os personagens de “A Vida Oculta” é fatalista, e até eles mesmos parecem ter ciência disso.
Aliás, um dos discretos aspectos desse trabalho de Terrence Malicke o de que trata-se de um filme de Segunda Guerra Mundial que pouco dá foco ao conflito. São poucas as menções diretas feita à guerra e isso parece ir de encontro ao conceito de enxergarmos o que acontecia pela perspectiva daquela família de fazendeiros. Mais especificamente, ao chefe dessa família, protagonista e foco da atenção do filme. Isso, portanto, faz com que haja grande responsabilidade para com o elenco, que consegue entregar bom trabalho e faz com que seja possível comprar os dramas apresentados. Nem todos os personagens são exatamente bem desenvolvidos, já que Malick parece mais interessado em estudar a figura de Franz Jägerstätter, mas o conjunto de atores é todo bastante competente.
“Uma Vida Oculta” não agradará a todos e nem pode ser considerada uma obra-prima, mas é um bom filme que comove quem compra sua proposta e quem embarca em sua longa jornada. Não possui reviravoltas, é cru e não possui quaisquer intenções de aliviar a história que quer contar para o público e esse talvez seja seu maior valor. Acaba se tornando prolixo e portanto problemático, mas jamais faz concessões em termos de concepção artística do realizador. Temos um filme de Segunda Guerra Mundial que foge do clichê e, mesmo na atualidade, consegue se destacar com traços autorais.
Imagens e Víde0: Divulgação/20th Century Fox
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