Essa semana chegou aos cinemas brasileiros um drama nacional leve e divertido. “Vermelho Russo” narra a história de duas amigas que viajam à um país distante para uma temporada de estudos profissionais e lá descobrem sobre si e a amizade que partilham. A historia se baseia em uma viagem real realizada em 2009 (e documentada na revista Piauí), e traz a tona, de forma muito descontraída, as dificuldades e delicias de experienciar uma cidade estranha, na qual não se pode comunicar com os nativos facilmente, ao lado de uma pessoa com quem se tem um forte laço de amizade e carinho.
Martha (Martha Nowill) e Manoella (Maria Manoella) – sim, personagens e atrizes tem o mesmo nome – são duas amigas que decidem partir juntas em uma viagem para estudar o consagrado método teatral de Constantin Stanislavski (escritor, ator, diretor e pedagogo russo considerado o pai de um método revolucionário). Sem falar ou compreender russo, as amigas se instalam em um abrigo de idosos, onde se hospedam outros turistas também estudantes de teatro. As dificuldades que dividem não se limitam às barreiras linguísticas: o processo de aprendizado teatral é intenso e, coincidentemente, muito relacionado ao momento dessas amigas – o que torna tudo ainda mais visceral.
De um lado, Martha é uma mulher solar e divertida que alegra qualquer ambiente. Sua energia contagiante esconde suas inseguranças (físicas e profissionais), mas ao longo da narrativa o expectador passa a ter contato (e empatia) com suas fraquezas. Do outro, Manoella é uma mulher egocêntrica e altamente segura de si, camuflando sua personalidade com um ar quieto de quem não se importa muito. No entanto, esconde as frustrações de seu relacionamento e carreira em seu íntimo. O momento de ruptura entre as amigas acontece com a chegada do personagem vivido por Michel Melamed: sedutor, se envolve com ambas, balançando a relação das duas e expondo de forma ampla seus defeitos enquanto partes de uma relação de amizade e mulheres.
Por ser baseada em uma história real, a direção de Charly Braun opta por confundir realidade e ficção do começo ao final. Em diferentes cenas, o diretor opta por misturar uma fotografia que traz consigo um ar mais documental. Nestas intervenções a leitura é mais poética e atenta aos detalhes, fluindo livremente em composições estéticas sensíveis. A visão de documentário mostra não somente a história das personagens, como também um pouco de histórias reais, embaralhando ainda mais ficção e realidade. A atuação das atrizes e a opção por dar a suas personagens seus próprios nomes (da vida real) reforçam essa mistura bem sucedida: o trabalho do elenco remete às boas lembranças de viagens entre amigos, com todos os perrengues e leveza que isso envolve.
“Vermelho Russo” é feliz nas cenas em que apresenta ao público a cidade de Moscou. Com um olhar que foge dos lugares comuns, revela o charme local, explica algumas peculiaridades e ainda nos permite vivenciar um pouco da rotina das pessoas no dia a dia. Com um olhar generoso, Charly mostra uma Moscou atraente (muito além daquela turisticamente conhecida). Nesse sentido a trilha sonora auxilia no despertar da cidade para os olhos leigos do público: ora encaixando faixas enérgicas em cenas que desfrutam da cidade (e suas praças, pubs, paisagens…), ora trabalhando com músicas mais antigas e instrumentais (especialmente ao explorar as pessoas e relações).
Assinado pelo diretor e pela atriz Martha Nowill, o roteiro foi o ganhador do festival do Rio de 2016. E é, de forma global, um filme que trata de laços afetivos sem minimizar ou super valorizar as dificuldades que permeiam o trato social. Mais um lindo trabalho do nosso cinema, que promete divertir e emocionar expectadores pelo país afora.
https://www.youtube.com/watch?v=wAFfyVZ6yhc
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