Hoje, quando se fala em adaptação de histórias em quadrinhos para o cinema, o que logo vem à mente é a bem-sucedida empreitada da Marvel com seus filmes-evento e também, é claro, de outras boas adaptações que usam como base as obras da DC e de algumas editoras independentes. Porém, antes mesmo da casa das ideias lançar seu primeiro “Homem de Ferro”, houve um filme que soube transportar as páginas para a tela de forma magistral. Chamado porcamente de “Corpo Fechado” no Brasil, “Unbreakable” não fez sucesso de público, mas arrancou elogios diversos da crítica especializada, e mostrou que não é necessário destruir cidades para contar uma história de super-heróis densa e empolgante. Com “Unbreakable”, M. Night Shyamalan deu início à trilogia que teve continuidade com “Fragmentado” e agora, quase 20 anos depois, é finalizada com a estreia de “Vidro”.
Rodeado de expectativas, o novo filme coloca frente a frente David Dunn (Bruce Willis), Mr. Glass (Samuel L. Jackson) e Kevin Wendell Crumb e suas outras personas (James McAvoy) ao fazê-los prisioneiros de uma instituição psiquiátrica liderada pela doutora Ellie Staple (Sarah Paulson). Ela quer provar que os três sofrem de uma síndrome que faz com que pensem que possuem superpoderes, desqualificando todos os fatos extraordinários ocorridos em suas vidas para o campo das situações comuns e de fácil explicação. Todos sabem que Staple está errada, e seu erro acaba por gerar o cenário para um embate que pode causar mortes, destruição e, evidentemente, a diversão de milhares de espectadores que não viam a hora para que isso acontecesse.
Não espere em “Vidro” grandes cenas de lutas abarrotadas de efeitos visuais, já que o roteiro aposta em um caminho mais “pés no chão”, aproximando aquele universo do mundo real, onde todos nós vivemos. Talvez seja por isso que os momentos mais empolgantes são os de diálogos reveladores, dignos do Shyamalan no ápice de sua carreira. Isso não quer dizer que as sequências de ação são mal executadas, e sim que apostam mais na configuração estética do que na pirotecnia. Dito isso, é importante ressaltar a excelente fotografia de Mike Gioulakis, que consegue mesclar o sombrio com o colorido, criando uma ambientação, junto com o design de produção, que vai deixar os maiores artistas dos quadrinhos orgulhosos por servirem como inspiração. Uma das cenas mais belas é a da entrevista feita pela doutora Staple com os três personagens principais em uma sala totalmente rosa, caracterizando o domínio aparentemente puro e terno dela sobre eles. A cor rosa, que é uma mistura do branco com o vermelho também pode representar o bem e o mal ou a vida e a morte misturados, o que seria justificável, levando em conta os indivíduos que estão na sala. Seja o que for, é neste momento que todos os peões são colocados juntos e o ponto de conflito se inicia.
Do segundo ato em diante, o filme apresenta seu maior momento de desequilíbrio. Com algumas revelações impactantes e a execução dos arcos de cada personagem um tanto quanto apressado, “Vidro” deixa de ser exuberante. A conclusão vai deixar muita gente decepcionada ao não dar maior espaço a personagens tão queridos e tão bem trabalhados até aqui. O destino de cada um pode ser defendido por Shyamalan pela frase que sai da boca do Mr. Glass em certo momento: “isso é uma história de origem”. Realmente, após o término da projeção, fica evidente que os três filmes são vistos pelo autor como a construção de um universo, e só dependerá da recepção do público para que esse universo seja expandido. Bom, assim como acontece com todos os super-heróis, a repaginação e o recomeço são sempre bem vindos. Agora é aguardar para sair a próxima edição. Ou não.
Fotos e Vídeo: Divulgação/Walt Disney Studios/Buena Vista
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