Na última quinta-feira (16/02), a varanda do Vivo Rio, mais uma vez, se tornou lugar de alegria e boa música. Isso porque, nessa noite, acontecia o último show especial da Queremos! Tropical, trazendo a banda Pirarucu Psicodélico e a Dona Onete. Depois de ir ao show do Liniker e Os Caramelows, da Karol Conká e da Anavitória, só posso dizer que nenhuma das noites anteriores superou o encerramento do pequeno festival tropicalista.
Confesso que separar o colunista que vos escreve do espectador que acompanhou os shows está sendo um pouco complicado, mas vamos aos fatos e relatos. Primeiro fato: Eu já tinha ouvido falar sobre o Pirarucu Psicodélico, mas nunca tinha procurado nada para conhecê-los. O segundo fato é bem parecido, mas no caso eu só conhecia duas músicas da Dona Onete. Pois ter essa oportunidade de vê-los cantar a pluralidade da cultura brasileira foi um processo rico e encantador, como pessoa e como artista.
Se comparado aos outros dias de apresentação esse foi de longe o mais vazio, se tratando de público, mas de alegria, sorrisos e muito amor, não houve outra noite como essa. Esse número menor de pessoas resultou em termos mais espaço para dançar, cantar e se abraçar, com direito a rodinhas para os mais animados percorrerem o chão da varanda e mostrarem como se dança o carimbó.
Misturando rock, pop, brega e carimbó, com o figurino pra lá de ousado – no sentido divertido da coisa – a banda formada por Fábio Lobo (voz, violão e guitarra), Natascha Falcão (voz), Ton Rodrigues, (voz e percussão), Alexandre Magalhães (baixo e voz), Gabriel Fomm (Sopros), Hemert Maracajá (percussão) e Ivan Cabral (bateria), trouxe o swing do norte, cantando a cultura brasileira, representada em letras e melodias da melhor qualidade. Vale dizer que o sotaque dos vocalistas junto ao carisma que possuem no palco, principalmente a Natascha, são uma particular preciosidade para as interpretações que foram acompanhadas pelo público e por parte do bloco carnavalesco “Carimbloco”.
Com quase uma hora de show, o Pirarucu Psicodélico despedia-se do público já aquecido para receber a estrela da noite, a Diva do Carimbó. Para quem não conhece, esse gênero, que também pode ser chamado de estilo musical, é um ritmo de origem indígena e amazônica que miscigenou-se ao longo dos anos pela influência negra e portuguesa. Em setembro de 2014, ele tornou-se Patrimônio Cultural Imaterial do Brasil, pelo Conselho Consultivo do Patrimônio Cultural, do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (IPHAN), e seu nome é oriundo do tambor utilizado para tocá-lo, chamado curimbó.
Mas é chegada a hora em que a simpática Dona Onete subiria ao palco ornada de uma grande flor colorida presa em seu cabelo. Aos 79 anos, Ionete da Silveira Gama, tem a maturidade que veio com o tempo, assim como o fôlego jovial para fazer um show relativamente extenso. Mas o seu carisma e talento meus caros, não tem idade que justifique tamanha grandeza. Cantora, compositora e poetisa, antes de lançar seu primeiro álbum, “Feitiço” (2012), ela foi secretária de cultura e professora de História e Estudos Paraenses, fundou organizou grupos de danças folclóricas e agremiações carnavalescas.
Durante seu show, ela nos pediu para que não deixássemos a cultura brasileira morrer, em específico o carimbó. Isso por conta de uma ‘famosa’ casa em Santarém, no Pará, que foi fechada porque o ritmo incomodava. – Em que ano estamos mesmo?! – Pois é, não tem como não achar um absurdo. Até porque, a noite nortenha, com esse ritmo brasileiríssimo e dançante, no Rio de Janeiro foi a melhor noite da Queremos! Tropical. Não tinha como ficar parado, a felicidade transbordava, rodopiava, com ou sem saia de chita, e bailava. O show que teve participação especial do cantor, compositor e guitarrista Felipe Cordeiro, ia chegando ao fim, mas a pedido do público tivemos um bis, só que foram de três músicas que, com um ótimo humor Dona Onete brinca, “Acho que não aguento, minha gente”, mas segue cantando até o final.
O que é bom, uma hora acaba, e sair da varanda do Vivo Rio com a alma renovada não teve preço. Primeiro porque tive o prazer de estar lá, depois porque a nossa cultura é riquíssima e deve ser valorizada, e terceiro que mesmo sem conhecer a fundo o Pirarucu Psicodélico e a própria Dona Onete foi incrível, me despertando o desejo de descobrir e apreciar outros artistas do norte de nosso país. Para quem não foi, só posso dizer que perdeu. Para quem esteve presente: Que noite foi essa?! Estou tremendo até agora com o jambu.
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