Para alguns é questão de ponto de vista, mas para outros é certeza. E para você, “Green Book: O Guia“ é racista?
Um filme que fala de racismo, onde o protagonista é branco e o coadjuvante é negro, a equipe do filme é majoritariamente branca, alguns com casos de racismos constatados, esse é “Green Book: O Guia“. E em tempos de representatividade, quando as pessoas estão muito mais sensíveis a forma como essa é retratada, não basta apenas dizer que é, mas provar que é anti-racista. E, para muitos, “Green Book: O Guia” não se comprovou ser um filme que trata da causa e da história dos direitos e sofrimentos do povo negro.
O título do filme é baseado no livro “Negro Motorist Green Book“, livro que foi popular na época da segregação nos Estados Unidos, quando os negros não podiam frequentar determinados lugares, que eram exclusivos para brancos enquanto outros eram exclusivos para negros. Mas, ao invés de se ater a realidade dos fatos, o filme romantiza uma amizade que verdadeiramente nunca aconteceu, pelo menos não da forma retratada – segundo relatos da própria família de Don Shirley (Mahershala Ali). Por esse e outros motivos, uma das polêmicas envolvendo o filme é o processo movido pela família de Shirley contra a produção do filme.
Além disso, grande parte das críticas voltam-se ao fato do longa favorecer Tony Lip (Viggo Mortensen), e outro agravante – e que comprova essa afirmação – é o fato de que o roteiro e a documentação da história foi feita por Nick Vallelonga, filho de Tony Lip, que a alguns anos manifestou apoio a Trump em relação a situação dos imigrantes.
Se atendo a esse ponto, podemos ter uma noção de que talvez não por intenção mas sim por uma visão de fatos, para alguém que não estava do lado reprimido à época da história retratada, e muito menos atualmente, e dessa forma não entende a causa, foi impossível retratar de forma fidedigna, sem passar a impressão de “racismo disfarçado”, a história de luta dos negros.
Todavia, apesar de todos problemas na questão racial, “Green Book: O Guia” continua sendo inegavelmente um bom filme em aspectos técnicos. Com excelentes atuações, o longa rendeu a Mahershala Ali, o segundo Oscar da carreira (o mesmo já havia vencido o prêmio por “Moonlight: Sob a Luz do Luar“). A fotografia, o uso de cores (em grande parte com tons pasteis), a recriação de época, figurinos, cenários e roteiro, fazem desse um ótimo filme.
O grande pecado de “Green Book: O Guia” foi não entender o real significado do que o público pede quando se trata de representatividade, quando se trata de ver negros em papéis de destaque. E exemplos anteriores de filmes vencedores do Oscar e criticados pelo mesmo motivo não faltam e são recentes: “História Cruzadas” e “Estrelas Além do Tempo” hoje são provas desse mesmo tipo de análise.
Por fim, existe um nítido esforço em redenção de Hollywood para com um público que não aceita mais ser representado da forma que eles querem, com a realidade que eles imaginam. Hoje pede-se fidelidade na representação da realidade. E que essa traga uma reflexão e mude parâmetros, não apenas nos cinemas, mas na sociedade. O cinema tem extrema importância e está cada vez mais perto do público em todo o mundo, e o mundo tem cada vez mais poder de crítica sobre o mesmo. Por isso, a vitória de “Green Book: O Guia“, e toda polêmica e desejo de mudanças gerados, devem refletir em melhoras em futuras produções do tipo na industria do cinema
Sobre o Filme
1962. Tony Lip (Viggo Mortensen), um dos maiores fanfarrões de Nova York, precisa de trabalho após sua discoteca, o Copacabana, fechar as portas. Ele conhece um pianista e quer que Lip faça uma turnê com ele. Enquanto os dois se chocam no início, um vínculo finalmente cresce à medida que eles viajam.
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