Ainda em cartaz nos cinemas, “Homem com H” é um de nossos favoritos do ano
O longa “Homem com H”, cinebiografia sobre Ney Matogrosso, está no catálogo da Netflix desde esse 17 de junho e ainda pode ser conferido nos cinemas de todo o Brasil, e é mesmo tudo isso que estão comentando. Confira nossa crítica abaixo, sem spoilers — se é que poderia haver algum!
Minha alma cativa

Dizem que se você repetir três vezes biopic no espelho de madrugada aparece um grande estúdio querendo lançar uma cinebiografia duvidosa. Falem bem ou mal, mas que continuem falando: o massacre da crítica em filmes como “Silvio” (2024) e “Meu Nome é Gal” (2023) não vai impedir que outras aberrações cinematográficas continuem se proliferando aos montes: é um formato de relativamente fácil reprodução, popular, e que dá muita margem para se tornar referência — mesmo que negativa — sobre a história de uma figura.
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Soma-se a isso uma série de problemas: família e espólio preocupados com a imagem do falecido, a postos para controlar a narrativa de forma a favorecer os próprios interesses; isto quando, pior, a figura em questão não está viva, como é o caso de Ney Matogrosso, um ícone por inúmeras razões, mas também uma isca com a receita para dar muito errado — afinal, é preciso de um grande desprendimento do ego para reconhecer suas complexidades e contradições.
No entanto, “Homem com H” vai na contramão do que esperamos.
Dos princípios em um lar abusivo, pincelando a sua passagem pela aeronáutica, o início do filme é provavelmente a parte do longa que mais sofre com os vícios do formato; durante uma boa parte o telespectador se vê assistindo sequências picotadas, esquetes dramáticas para o espectador simpatizar com o protagonista. Elas estão lá, são importantes, contudo não ditam o ritmo.
Ao contraintuitivo que pareça, este não é um filme sobre Ney Matogrosso — quer dizer, é, mas não é. Assim que Jesuíta Barbosa engata no papel do astro, sobretudo quando a música entra, somos apresentados à verdadeira força de “Homem com H”, já que o ator entendeu bem o recado: não pode haver outro Ney Matogrosso, então, ao invés de copiar os maneirismos, abraça e cria em cima — exemplo? Basta ver o clipe de Jesuíta lado a lado com a cena referenciada, performance de “Sangue Latino” em 1973 na TV Cultura. Não podíamos não ser clichês com uma frase dessas, mas mais que uma biografia, essa é a história de alguém que foi para a metrópole e conquistar seu espaço no estrelado, mesmo sendo gay, afeminado, em plena ditadura militar.
Para o Brasil inteiro saber

E como ventos do norte não movem moinhos, esse filme pode até seguir o arroz com feijão comercial ali no seu esqueleto, porém é extremamente respeitoso com a obra do artista; seria uma blasfêmia tentar encaixar a vida de Ney em um blockbuster para a família — por mais liberal que a sua seja. Emir Filho entendeu o recado e não é bobo: ele transborda sensualidade e não poupa sexo, drogas, e vira-vira; o destaque fica para a cena da canção tema, uma aula de composição. Se Hollywood fosse justa e falasse português, Azul Serra, diretor de fotografia, seria a conversa de qualquer bolha de cinéfilos na gringolândia.
Sumarizando, o filme tem seus momentos pouco inspirados, mas que compensam nas sempre explosivas sequências musicais, e não é artifício barato, podemos puxar da memória algumas biografias bem medíocres que até enganam por causa da trilha — caham, “Bohemian Rhapsody” — porém aqui há um trabalho poucas vezes visto no gênero, e que ousamos dizer que o eleva entre as melhores biopics que já produzimos. Seria um exagero quatro estrelas? Talvez, mas que demos um crédito de meia estrela para Ney por ter aguentado Cazuza.
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Brincadeiras a parte, apesar de questões com passing, não é um projeto megalomaníaco, e nem seria elegante comentar, pensando apenas na arte, o que entra e o que deixa de entrar — embora sejam ponderações pertinentes em contexto — o filme faz, acima de tudo, um bom trabalho em construir um argumento sobre a transgressão dos padrões pela autoafirmação e arte, e o faz sem precisar ser didático em sua maior parte — como pelo simbolismo do bicho, repetido algumas vezes — o que transcende o intuito biografia, mas também não o torna um Esopo (o que é um baita trabalho de se evitar!).
“Saiu a carta da morte três vezes para você, você não é normal”.
Imagem Destacada: Divulgação/Paris Filmes

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