Espetáculo “Leci Brandão – Na Palma da Mão” aborda o percurso da artista, sua ancestralidade e sua atuação política
Leci Brandão da Silva, mais conhecida como Leci Brandão, é uma das mais importantes personalidades do samba. Mas a Leci da Lecy, também é uma mulher que ousou. Assumiu ser uma pessoa LGBT antes mesmo da sigla existir, falou da sua vida, do cotidiano do trabalhador, estudou. No musical “Leci Brandão – Na Palma da Mão”, a vida e a obra dessa artista singular da música popular brasileira ganha um tributo fluido, unindo todas as facetas de Leci de forma orgânica através de música e diálogos carregados de afetos. Confira a seguir a crítica:
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Leci Brandão foi uma pioneira em muitos aspectos. Foi a primeira mulher a integrar a Ala de Compositores da Mangueira. Assumiu-se lésbica publicamente em plenos anos 1970, em entrevista ao jornal Lampião da Esquina. Bacharel em Direito, se elegeu Deputada Estadual por São Paulo pela primeira vez em 2010, e se tornou a primeira mulher negra a cumprir 4 mandatos consecutivos na história da ALESP. Para defender sua obra e as coisas que acredita, assumiu um enorme risco ao romper o contrato com a gravadora. Esse rompimento tornou possível o lançamento de sua composição de maior sucesso “Zé do Caroço”, regravada por uma pluralidade de artistas.
Equilíbrio perfeito entre diálogos e as músicas de Leci
Na montagem com texto de Leonardo Bruno e direção de Luiz Antonio Pilar, a trajetória de resistência e conquistas de Leci é construída de maneira inovadora e consistente. Nada da existência de Leci fica para trás. As conquistas como artista, os desafios na vida pessoal, sua atuação como ativista política são valorizados com um equilíbrio perfeito entre os diálogos e as músicas selecionadas.
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O espetáculo contempla músicas significativas da artista como “A Filha da Dona Lecy”, “Ombro Amigo”, “Gente Negra”. Além disso, figuram outras que marcaram seu percurso como “Corra e Olhe o Céu”, de Cartola, e o samba-enredo da Mangueira “História pra Ninar Gente Grande”. O Candomblé, elemento potente da vida de Leci Brandão, permeia toda a encenação para evidenciar sua ancestralidade.
Direção de movimento potencializa o trabalho do elenco
No elenco, Verônica Bonfim e Tay O’Hanna atuam, respectivamente, como Leci e a mãe da cantora, fazendo um trabalho impressionante. Se entregam com energia ímpar tanto à interpretação dessas personagens tão únicas quanto ao canto. Quem as acompanha com igual competência é Matheus Dias, que representa diversos personagens masculinos que atravessaram a vida de Leci, do orixá Ogum ao líder comunitário Zé do Caroço, que inspirou um de seus maiores sucessos.
É preciso ainda ressaltar o excelente trabalho de corpo do elenco, que teve direção de movimento de Luiza Loroza. Os movimentos aparentemente simples que levavam os atores por todo palco e entre os músicos engrandece a complexidade característica das montagens de Pilar. Ele integra tudo que está presente em cena para compor a narrativa. Felizmente, “Leci Brandão – Na Palma da Mão” escapa da tendência atual dos musicais de se parecer mais com um show do que com um espetáculo teatral. Ao final do espetáculo, somos convidados a dar voz a sua composição mais famosa, tantas vezes regravada. É com esse simbolismo cheio de afeto da artista do povo que saímos do teatro.
Imagem Destacada: Divulgação/Teatro João Caetano
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