“Longa Pétala de Mar” | O romance que nós precisávamos

Conheça a incrível história de Vítor Dalmau e Roser Bruguera, um amor que se formou através dos anos

Muito se fala sobre o amor; muito se falou e continuará falando, pois não há nada mais humano do que amar. Amor de pais, de irmãos, de amigos, de amantes. Amor é amor, só muda de forma. Tantos textos têm as dores e os alívios do coração como tema; tantos romances, contos, poemas, cordéis… Mas poucos são tão memoráveis quanto o amor entre Victor Dalmau e Roser Bruguera, tão intenso capaz de arrancar lágrimas até suas últimas páginas.

“Longa pétala de mar”, de Isabel Allende, foi publicado pela Bertrand Brasil, do Grupo Editorial Record, em 2019, sendo mais um livro do extenso trabalho da autora. Como Allende explica nos agradecimentos, a narrativa é baseada em fatos e pessoas reais, encontradas graças a árdua investigação feita pela escritora a fim realizar o livro, motivado pelo tempo em que ficou exilada durante a ditadura militar no Chile. 

O título dessa obra é uma referência a um poema de Pablo Neruda, poeta chileno que descreve sua pátria como uma “longa pétala, de mar, de vinho e neve”. Seu nome não intitula o livro por acaso, em 1939, quando a Guerra Civil Espanhola foi vencida pelo General Francisco Franco e a Segunda Guerra Mundial se iniciou, Neruda mandou um navio buscar refugiados espanhóis para que fossem abrigados no Chile. Fato é (pelo menos dentro da história) que dentro desse navio estava Vítor Dalmau, um médico republicano que se vê obrigado a abandonar seu país por conta do cruel destino autoritário que se aproximava, deixando tudo para trás, a não ser Roser e Marcel, mãe e filho que de repente começaram a ocupar um grande espaço em sua vida. 

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A trama está envolvida em tempos de instabilidade política, que duraram até o fim da União Soviética, em 1991, então tudo é cercado por uma atmosfera de tensão: as relações familiares, o contato entre estranhos, amigos, conhecidos, as decisões políticas, a vida dos cidadãos como um todo, ninguém estava livre dos efeitos da Guerra Fria, e é nesse ponto que o impecável trabalho de pesquisa de Isabel Allende se destaca. A experiência da guerra, da ditadura e dos “tempos de paz” é contada com primor, é possível sentir o desespero, o medo e a insegurança dos combatentes, perseguidos e despatriados, como se o leitor estivesse ao lado deles. 

Podemos navegar, através da mão do narrador, pelo imaginário de todas as classes sociais, desde a mais alta até a mais baixa, o que nos motiva a tentar compreender a mente da população naquele momento e perceber como a ideologia, para alguns, pode ser maior do que a humanidade.

As atrocidades da guerra e da ditadura cortam a histórias de amor apresentada, pois não é ela que conduz a narrativa, e sim os acontecimentos históricos. Porém, tempos sombrios podem unir mais do que tempos alegres, como aconteceu com Vítor e Roser.

Esse amor teve diversas fases antes de virar romântico, já foi amizade e irmandade por um longuíssimo tempo, mas isso nunca os impediu de serem confidentes um do outro, o porto seguro onde que podiam descansar do caos. Muito antes de serem amantes já não podiam viver separados, e isso é uma das coisas mais belas que se pode presenciar.

“Longa pétala de mar“ é uma mistura de desespero e acalento, de calmaria e agitação, que faz transbordar diversos sentimentos a cada página da vida de Vítor. É impossível não se importar com ele e sua família, o leitor fica muito próximo deles… pode até não gostar de algum personagem, mas inevitavelmente vai querer saber seu paradeiro, pois essa história consegue de fato ocupar um lugar no nosso coração. O amor é capaz de sustentar vidas inteiras, e isso é demonstrado nesse livro; sem o amor de Roser, Vítor dificilmente teria vivido tanto, assim como todos nós, pois não sobrevivemos à indiferença, e por isso devemos valorizar o amor saudável, que nos motiva e consola.

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