Machos Alfa somos todos nós

2ª temporada da série “Machos Alfa”, na Netflix, escancara machismo estrutural de forma crítica e bem humorada

 A série “Machos Alfa”, na Netflix, promove uma discussão e reflexão sobre o machismo estrutural presente na sociedade de forma muito sagaz. A 2ª temporada acabou de estrear. Antes de falarmos sobre as novidades e as relações com a de estreia , vamos começar pelo conceito de macho alfa entre os animais, os homens e a masculinidade tóxica.

Segundo o site Significados o termo macho alfa é:

Entre os homens

No caso do ser humano, um macho alpha (ou homem alpha) é a designação de um indivíduo dominante e confiante, que exerce uma função de liderança perante outros elementos do grupo. As características do homem alpha permitem com que ele tenha uma elevada capacidade de sedução e conquista.

Na Natureza

No mundo dos animais irracionais, um macho alpha assume o topo da hierarquia dentro da sua comunidade, tendo vários privilégios, como acesso prioritário à comida. Além disso, também pode escolher as fêmeas com as quais vai se reproduzir.

Masculinidade tóxica

São os comportamentos masculinos nocivos a si e a sociedade em geral. Como os estereótipos de gênero, violência de gênero para dizer os mais comuns. 

Ideias como, por exemplo: homem não chora, faz mal a eles e a sociedade em geral. Quando em busca de afirmar a sua virilidade, adota comportamentos agressivos e repressores. Por não se sentir livre para expressar o que sente, e pode gerar situações como violência de gênero e até feminicídios em casos extremos.

A série “Machos Alfa”

Vemos claramente na série o quanto os conceitos de macho alfa e de masculinidade tóxica estão presentes. Destaque que na série o macho alfa reúne as melhores características do macho alfa na natureza e entre os homens.

Vejamos agora um resumo das duas temporadas:

1ª temporada de “Machos Alfa”

O quarteto de amigos: Pedro, Raúl, Luiz e Santí com as suas nuances individuais percebem nas experiências pessoais e amorosas os privilégios que tem como homens e se gabam por isso. Principalmente Pedro e Raúl, os mais bem sucedidos profissionalmente, até que as coisas começam a mudar. 

Luiz e Santí por sua vez, são forçados pelas circunstâncias dos respectivos relacionamentos a repensarem suas condutas masculinas. Esse é o mote da 1ª temporada e a principal virada acontece no curso de Desconstrução da Masculinidade Tóxica que os 4 participam juntos.

O curso ajuda principalmente Santi e Luiz a repensarem suas vidas amorosas. Santí enquanto recém-separado e Luiz em um casamento em crise conseguem ter um final de temporada que aponta para um futuro êxito.

Já Pedro e Raúl tem maior resistência não à toa, o desfecho de ambos é junto e em situação desfavorável.

Leia Mais: Machos Alfa | Série Espanhola que Desafia os Padrões Masculinos com Bom Humor

2ª Temporada de “Machos Alfa”: primeira impressão é que vem afiada na crítica ao machismo estrutural

Enquanto base para a masculinidade tóxica, é possível ver de forma escancarada o quanto a sociedade é contaminada por ele e também questioná-lo:

Contém spoilers:

• De início, Pedro está em busca de um novo trabalho, visto que somados: a sua demissão e o cancelamento, devido ao seu conteúdo sobre virilidade, afetaram gravemente seu padrão de vida.
• Raul em busca de um novo sócio ainda acredita que pode reconquistar Luz, inocentemente. Após os últimos acontecimentos do final da 1ª temporada, se sente desconstruído como homem e para piorar a situação dele e garantir risadas do público: seu novo sócio é gay.
• Santi está às voltas com Blanca (sua ex) e resolve buscar pelo sonho da arquitetura, mas ainda sem a assertividade necessária para encarar as suas decisões.
• Luiz, apesar de ter mudanças no relacionamento, ainda não se sente confortável em executá-las e se depara com o comportamento machista de Esther, sua esposa.

Curiosamente em um dado momento Luiz afirma que Esther tem masculinidade tóxica, porém isso não é possível conceitualmente. Inegavelmente se percebe condutas baseadas no machismo estrutural. Ele, agora esclarecido, identifica na esposa que parece não se importar com o tema.

Há também vários momentos de referência ao curso de desconstrução da masculinidade tóxica da 1ª temporada. Ele é citado seja para um amigo relembrar ao outro, em tom de ajuda, gozação ou crítica. E até sugerir a outrem. Luiz, por exemplo, sugere a Esther que o faça.

Dai vemos o impacto dos conteúdos nos desdobramentos da 2ª temporada.

Machismo Estrutural é pano de fundo de “Machos Alfa” 2ª temporada

Ele sim: o machismo estrutural, ao que tudo indica, permeia os episódios da 2ª temporada, mas agora de uma forma mais esclarecida. 

• Um menino não pode bater em menina por ser violência de gênero, porém o inverso é permitido?
• O machismo estrutural é perpetuado pela educação dada pelas mães aos filhos?
• Quais profissões cabem melhor ao homem e à mulher? 
• Um homem bem-sucedido precisa necessariamente ter uma parceria amorosa?
• Uma mulher precisa seguir padrões? 

Isso sem contar à crítica ao universo dos influencers e várias outras pitadas de situações atuais que promovem risos através do desconforto.

Quanto às mulheres:

• Luz, ex de Raúl, apesar de toda a modernidade em querer relacionamento aberto, ser desapegada e saber lidar com os homens, pela primeira vez se questiona sobre a maternidade, apesar de parecer um assunto resolvido.
• Esther, esposa de Luiz, se revela machista ao nível que surpreende Luiz. Também não consegue se adaptar as mudanças no casamento e precisa lidar com os ciúmes.
• Daniela, ex de Pedro, se torna uma influencer cada vez mais famosa e escreve um livro, porém suas indicações começam a ser questionadas. A fama perde o encanto e a partir disso ela se desmotiva.
• Blanca, ex de Santi, surpreende em aceitar a atual decisão dele e vai em busca dos 10 corpos no Tinder em seguimento ao conselho da filha.

Os episódios têm narrativa interessante e sagaz. Ao longo dos 10 episódios da 2ª temporada, seremos certamente levados a rir e questionar o macho alfa que há em todos nós.