O principal objetivo desta coluna na Woo! Magazine também é divulgar e fomentar os quadrinhos nacionais, sobretudo os independentes. E justamente estes, devido aos altos custos de produção, nem sempre podem ser encontrados em edições impressas em off-set com belas capas cartonadas coloridas. É justamente nesse ponto onde entram os fanzines, as publicações autorais underground onde muitos dos autores consagrados começaram. Justamente por isso, embora os fanzines tenham aspecto bem simples, muitas vezes eles guardam verdadeiras pérolas artísticas em formato de histórias em quadrinhos.
E com toda certeza esse é o caso de “Manicomics”, um fanzine que foi iniciado há quase vinte anos por JJ Marreiro, Daniel Brandão e Geraldo Borges. Consagrado por três vezes com o prêmio HQ Mix para o melhor fanzine brasileiro (em 2001, 2004 e 2005), o “Manicomics” teve 43 mil exemplares distribuídos em 34 edições lançadas ao longo de dez anos, além de dois números especiais. E para celebrar estas duas décadas, estão programadas palestras e participações em eventos de quadrinhos, algumas delas com as presenças dos três editores. Além disso, será lançada uma edição especial com material inédito e um livro contando a trajetória da publicação que colocou a produção independente do Ceará no cenário dos quadrinhos nacionais.
Como é comum em diversos fanzines, eles se tornam um espaço democrático e incentivador, ou seja, além das HQs autorais dos próprios editores, muitas páginas são cedidas para colaboradores diversos da cena alternativa. Na última edição do “Manicomics”, por exemplo, teve quadrinhos de Ultrax e Mulher Estupenda, por E.C. Nickel; A Aventura Perdida de Naiara, por Laudo e Omar (Tianinha e Belinda) e Cariawara, de Daniel Brandão e R. Mendes. Entre personagens dos editores e de convidados, alguns deles ficaram consagrados por suas aparições recorrentes nas páginas do “Manicomics”. São eles:
Mulher-Estupenda (JJ Marreiro): Uma super-heroína nos moldes clássicos cujas aventuras se passam nos anos 40 até início dos 60. Com a ajuda do parceiro mirim Rapaz Assombroso ou em aventuras solo, a estonteante Mulher-Estupenda enfrenta cientistas malucos, gângsteres, robôs gigantes e malfeitores encapuzados sempre voltando para casa ao fim do dia para tornar-se a pacata professora do primário Carol Rosas.
Lucy & Sky (JJ Marreiro): Duas crianças em constante questionamento sobre o mundo que as cerca. Lucy é ativa, crítica, intelectual e engajada; Sky é ingênuo e desligado.
Noite (Daniel Brandão): Durante seu primeiro período na Oficina de Quadrinhos da UFC , por volta de 1995, o Quadrinhista Daniel Brandão recebeu o desafio de escrever uma HQ de uma página com personagem próprio. Para cumprir a missão o artista lançou mão da criatividade e apresentou um guerreiro urbano obcecado por justiça, mas constantemente atacado por flashes de um passado perturbador.
Cronium (Geraldo Borges): Durante uma excursão Tony Barreto cai acidentalmente num tonel de um produto químico desconhecido e torna-se invulnerável. Trajando uma roupa especial ele combate os Democlocks (criaturas metade monstro, metade robô) que aparecem misteriosamente causando pânico e destruição
Cumpade Zé & Cumpade Mané (Daniel Brandão): Moradores de alguma cidade qualquer de um interior qualquer, essa dupla de caipiras tece reflexões e críticas indo dos temas mais banais aos mais profundos com um humor muito leve e solto. O Cumpade Zé expressa um olhar mais sábio enquanto o Cumpade Mané manifesta uma clara displicência intelectual.
Zohrn (JJ Marreiro): Publicado originalmente em 1994 no Pergaminho (primeiro fanzine de RPG do Brasil segundo a Revista Dragon Magazine), o personagem surgiu nas mesas de RPG e foi ganhando mais dimensão e personalidade com o tempo. O Elfo Ranger (para alguns um Elfo Bárbaro) peregrina a procura de aventuras e perigos que possam ser rentáveis. Suas aventuras são auto-contidas e algumas vezes suas missões são compartilhadas com a maga Lenka ou a elfa guerreira Pandora, que parecem cientes dos segredos obscuros do passado do Elfão Pouco-Tato.
Red Roger Chilli Peppers (Denilson Abano): Red é um garoto de inteligência privilegiada que, de tão mergulhado no universo da ficção, não consegue se relacionar normalmente com ninguém, exceto talvez com seu amiguinho Anderson Lauro, outro personagem de Denilson Albano que acabou ganhando tira própria, álbuns e até um fã clube.
Kário (Jean Okada): Um peregrino com uma percepção apurada que vai além do mundo material. Situado num ambiente de fantasia que remete às civilizações pré-colombianas, Kário propõe uma jornada que une simplicidade e profundidade.
Rato do Prédio (Falex): Em sketchtown os personagens são explorados e oprimidos por uma grande corporação que lucra milhões às custas de uma exploração cruel e desumana. Todos sofrem resignadamente até que um cartum, o Rato do Prédio, ergue-se contra o sistema. Apesar de tratar-se de um Rato, o personagem de Falex foi inspirado num cachorro do autor.
Apache, o macaco-índio (de Edicarlos): Era uma vez um macaquinho travesso e boa praça que usava uma capa e um capuz porque queria ser super-herói. Com HQs e tiras nonsense, Apache invariavelmente entra em enrascadas graças a seu amigo o Coelho Maluco.
Bezerro Bizarro (Lene Chaves): A exemplo dos desenhos animados de animais da Hanna-Barbera, cada aventura do Bezerro Bizarro é explora uma determinada situação sem conexão cronológica com aventuras anteriores nem posteriores. As ações do personagem, risonho e alegre, misturam de infantilidade e insanidade compondo um diálogo extremamente divertido em sua parceria com o Castor Castro.
Exosec (Asteca & Sergio Otomo): Dotado de uma armadura e equipamentos de alta tecnologia, o personagem é um reflexo da influência do gênero tokusatsu com referência a personagens como Kamen Rider e Esquadrão Winspector. No aspecto visual é possível ver algo de Homem-Aranha e Homem de Ferro embora isto não pareça proposital.
Monga (Cristiano Lopez): Um andarilho que apronta muitas confusões em um mundo repleto de bárbaros feiticeiros e dragões. As influências de Sérgio Aragonés são patentes, além de John Buscema e seu Conan, entretanto sob a ótica do humor.
O Manicomics era publicado em formato A5, geralmente com 28 páginas em preto e branco e a capa dos primeiros 100 exemplares era cartonada. Mais informações e materiais extras do fanzine podem ser encontradas no site manicomicsblog.blogspot.com ainda no ar.
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