O episódio de Alexandre, o Grande na conquista do Egito, não só é um dos fatos mais marcantes da História mundial como também rendeu inspiração para romances, filmes e peças de teatro. Decorrente desse período que ocorreu a partir de 330 a.C. houve uma fusão entre as duas culturas antigas. Mais tarde, já no final desse período histórico, ocorreu outro momento que ficou eternizado nos livros de História: a união de Cleópatra e Júlio César como amantes a fim de unir forças entre os dois impérios. Entretanto, a despeito dessa comunhão de duas mitologias tão ricas, pouco se produziu em termos de literatura, cinema, etc. Levando em conta a complexidade de ambas as culturas, são imensas as possibilidades de dramatização a respeito dessa fusão.
Foi justamente essa oportunidade que os roteiristas Eduardo Kasse e Raphael Fernandes encontraram para produzir sua graphic novel de 88 páginas intitulada “A Teia Escarlate”. Porém esse álbum não se resume a si próprio. Na verdade, ele faz parte de um universo já existente criado por Eduardo Kasse, que se chama “Tempos de Sangue”, cujo mote trata de deuses que criaram seres imortais para se alimentarem do sangue dos humanos, de forma a se vingarem contra suas crias que um dia deixaram de adorá-los. Essa série é uma fantasia histórica medieval que se passa entre os séculos X e XV (os romances, pois os contos têm uma abrangência temporal mais longa) – na Europa e conta as histórias de pessoas comuns que, por escolha ou acaso, tornaram-se imortais sedentos por sangue. Portanto “A Teia Escarlate” vem expandir esse universo para bem antes da Idade Medieval, mostrando como as origens das criaram imortais que vivem do líquido rubro que corre nas veias humanas.
A história de “A Teia Escarlate” se inicia em uma pequena e esquecida cidadela na região do Rio Nilo. Neste lugarejo está situado o templo proibido de Neith, também conhecida como a Deusa Arachne dos Antigos Egípcios. A rotina da cidade é se resume aos cultos que os habitantes locais promovem para saciar os incansáveis desejos da divindade cruel. Entretanto esse marasmo vai ser alterado com a chegada das legiões romanas sob o comando do centurião Quintus, que vem representando o imperador Júlio César. Isso porque o militar romano jurou destruir todas as divindades após a morte de sua esposa.
Partindo do universo ficcional criado por Kasse, essa História em Quadrinhos foi escrita em parceria com Raphael Fernandes. A premissa de fundir as mitologias egípcia e romana é, no mínimo interessante, e tem potencial para desenrolar aventuras ricas e criativas, misturando realidade e fantasia. A figura do vampiro, ser imortal que vive entre os humanos, faz uma conexão muito fácil com o conceito dos semi-deuses romanos e com os deuses antropomorfos do antigo Egito. As referências históricas e mitológicas estão bem embasadas, o que confere uma densidade narrativa muito mais intensa ao realismo fantástico proposto pelo autor.
As artes de “A Teia Escarlate” ficaram a cargo de uma dupla bastante competente e ainda o ilustrador Ioannis Fiore que elaborou a capa. Clayton InLoco desenhou o primeiro capítulo do álbum, onde sua arte clean com traços delicados concebeu os principais cenários, como os palácios romanos e os desertos egípcios. A expressividade de seus personagens consegue impor uma carga dramática mais autêntica à HQ e com isso gera mais impacto junto ao leitor. A segunda metade da história foi ilustrada por Daniel Canedo, na qual já é retratada a decadência da Idade Média. Para entregar uma composição que criasse mais sinergia com a história, a arte é bem mais carregada de sombras ao mesmo tempo em que traz cenários e situações muito realistas e detalhadas.
Publicada pela Editora Draco, “A Teia Escarlate” além de se mostrar uma ótima HQ ainda faz uma ponte transmídia com os livros do autor, enriquecendo ainda mais esse universo interessantíssimo que traz uma nova visão à temática de vampiros.
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