Estamos em pleno carnaval, este período marcado por desfiles e bailes populares. A alegria coletiva toma conta da cidade nesses três dias anteriores à quarta-feira de cinzas. Aqui nos encontramos em meio a festejos onde os desejos e os instintos humanos sobressaem frente a moral e a razão humana.
Já dizia o poeta francês Jean-Nicolas Arthur Rimbaud (1854-1891) que “a moral é a debilidade do cérebro”. O poeta, em busca de destino nenhum, construiu uma obra poética para alguns curta, porém densa. E é através do seu testemunho poético que me permito fazer a relação de alguns dias de sonho e devaneios com o relâmpago que são os versos de Rimbaud, jovem cansado da hipocrisia “Oh! Todos os vícios, cólera, luxúria, – magnífica, a luxúria; – sobretudo mentira e indolência.” e ávido por descobrir outras facetas de si mesmo “Ah! mais ainda: danço o sabá numa rubra clareira, entre velhas e crianças.” (Sangue ruim)
É certo que essa busca frenética do jovem Rimbaud abriu um caminho pouco revelado dentro da Literatura no século XIX, a incursão pelo mundo marginal, bem como o álcool, o ópio e o absinto como instrumentos do conhecimento.
Tal como nosso clima carnavalesco, sua intenção em transmutar as experiências vitais em palavras deixou uma obra prima revolucionária da poesia. Para alguns, atinge a alma e golpeia forte. Assim como a festa dionisíaca da carne, o Carnaval.
“Não tive eu uma vez uma juventude amável, heroica, fabulosa, para ser escrita em folhas de ouro, – sorte a valer! Por que crime, por que erro, mereci a fraqueza atual? Vós que achais que animais dão soluços de dor, que doentes desesperam, que mortos têm pesadelos, tratai de narrar minha queda e meu sono. Quanto a mim, posso explicar-me tanto quanto o mendigo com os seus contínuos Pai-nossos e Ave Marias. Não sei mais falar!
Contudo, creio ter terminado hoje a narração de minha temporada no inferno. Era realmente o inferno: o antigo, aquele cujas portas o filho do homem abriu.
No mesmo deserto, à mesma noite, meus olhos cansados sempre despertam sob a estrela de prata, sempre, sem que se emocionem os Reis da vida, os três magos, o coração, a alma, o espírito. Quando iremos, além das praias e dos montes, saudar o nascimento do trabalho novo, a sabedoria nova, a fuga dos tiranos e dos demônios, o fim da superstição, adorar – os primeiros! – o Natal sobre a terra?
O canto dos céus, a marcha dos povos! Escravos, não amaldiçoemos a vida.”
Manhã (Tradução de Lêdo Ivo)
Clássicos Francisco Alves
Uma temporada no inferno & Iluminações
Rimbaud
Por Susana Savedra
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