Conheça peças teatrais polêmicas que ocuparam os teatros os anos 1960 e 1990
Na primeira matéria da série, nós listamos alguns espetáculos teatrais cheios de polêmica, encenados entre o final do século XIX e a primeira metade do século XX. Seguimos nosso passeio pela história do teatro com mais espetáculos que desafiaram as convenções sociais, abordaram temas tabus ou provocaram a ira de grupos religiosos e políticos.
Confira a seguir alguns espetáculos que causaram polêmica nos teatros entre dos anos 1960 até o final dos anos 1990:
Leia mais: Os espetáculos que causaram polêmica no teatro | Parte I
Hair (1968) de James Rado e Gerome Ragni
O musical de James Rado e Gerome Ragni aborda temas de grande controvérsia para os americanos, como a Guerra do Vietnã, o uso de drogas e a liberdade sexual. Apenas pelo enredo da peça, “Hair” já tinha os elementos necessários para gerar protestos por parte de grupos conservadores.
A primeira montagem de 1968, apresentada na discoteca Cheetah, tinha como protagonistas um grupo de hippies politicamente ativos e pacifistas. O grupo questionava valores religiosos, fazia apologia do uso de drogas e criticava o tratamento da sexualidade pela sociedade americana. Em uma das cenas mais polêmicas, atores completamente nus se comportavam de maneira irreverente diante da bandeira dos Estados Unidos da América.
Após a temporada na Cheetah, estreia na Broadway com muitas modificações. Além disso, “Hair” ganharia ainda uma adaptação para o cinema em 1979.
Roda Viva (1968) de Chico Buarque
Com direção de Zé Celso, a peça conta em dois atos a história de ascensão e queda do músico Benedito Silva, que passou a adotar o nome de Ben Silver. O artista conquistou fama e sucesso, mas se vê limitado criativamente e acaba suicidando ao cair em decadência.
“Roda Viva” inclui várias inquietações do autor, Chico Buarque, com indústria fonográfica, o consumo capitalista da música e suas críticas ao Regime Militar, que censurava e atacava artistas. A montagem, que incluía uma cena em que o elenco devorava um fígado de boi cru, respingando sangue nos espectadores da primeira fila, foi proibida pela censura após poucas apresentações. A peça voltou aos palcos novamente apenas em 2018 e 2019, atualizada pelo Teatro Oficina.
Leia também: Clássicos do Teatro Brasileiro | Roda Viva (1968)
Cordélia Brasil (1968) de Antonio Bivar
Primeira peça do dramaturgo Antonio Bivar, com direção do então iniciante Emílio di Biasi, “Cordélia Brasil” é uma auxiliar de escritório que começa a se prostituir, para sustentar seu marido Leônidas Barbosa, que sonhava ser escritor de histórias em quadrinhos. Um dia leva para casa Rico, um jovem cliente de 16 anos, convidado por Leônidas a viver com eles. Porém, Cordélia se vê sozinha nesse triângulo amoroso, com a crescente cumplicidade entre os dois homens, o que a leva a um ato trágico.
Além de explorar a temática do adultério e da traição, ainda causou polêmica por sua linguagem sexual explícita e pela ambiguidade moral dos personagens em plena Ditadura Civil-Militar no Brasil. Em 1969, a atriz Norma Bengell foi sequestrada no Teatro de Arena e levada ao Rio por três homens do 1º Batalhão Policial do Exército. No DOI-CODI, foi interrogada, detida e exilada.
Mistérios Gozosos (1995) de Zé Celso
O musical é uma adaptação livre de Zé Celso para o poema “O Santeiro do Mangue” do modernista Oswald de Andrade. O espetáculo conta a história de Seu Olavo, um vendedor de santinhos dividido entre a mulher grávida, Deuzolinda, e uma jovem prostituta, Eduleia, que trabalha no Mangue, uma das mais notáveis áreas de prostituição do Rio de Janeiro na década de 1940. No entanto, a polêmica se dá pela cena em que o ator Marcelo Drummond, que interpretava Jesus, oferece seu corpo e sangue a outro ator em forma de banana e champanhe, ao invés de pão e vinho.
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A peça foi alvo de uma ação judicial movida por um padre, que alegou uma suposta profanação de objetos religiosos. Felizmente, o processo foi arquivado e a peça ganhou outras montagens no Teatro Oficina.
Corpus Christi (1998) de Terrence McNally
“Corpus Christi” é uma peça musical americana de 1998 escrita por Terrence McNally um ano antes. A primeira montagem acontece em Nova York, e faz uma dramatização da história de Jesus e dos Apóstolos, que seriam homens gays vivendo no estado americano do Texas, nos dias atuais.
McNally conduz a narrativa através de anacronismos que representam a ocupação romana. A peça causou furor entre grupos religiosos cristãos que consideraram a obra blasfema, sendo alvo de diversas ameaças e fake news. Pelo clima de insegurança, a peça foi suspensa por alguns meses. Contudo, retornou no circuito off-broadway entre outubro e novembro de 1998. Além disso, foi encenado em temporadas curtas em outros países nos anos seguintes, inspirando um filme homônimo em 2012, com direção de Nic Arnzen, James Brandon.
E então, já conhecia alguma dessas montagens controversas? Siga com a Woo! Magazine para conhecer mais espetáculos que causaram polêmica.
Imagem destacada: Divulgação/Teatro Oficina (Crédito: Jennifer Glass)
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