“Um corpo, seis vítimas”.
A chamada encontrada logo na capa de “Boneco de pano” mostra preliminarmente que já temos um mistério nas mãos antes mesmo de abrirmos o livro. Se o intuito era chamar a atenção do leitor, Daniel Cole teve êxito em sua tarefa.
Willian Oliver Layton-Fawkes já chegou a ser um renomado detetive. Mas por surtar em um julgamento, cujo réu – capturado por ele – havia sido inocentado, Fawkes foi afastado judicialmente de suas funções, reassumindo seu cargo – agora sem tantas condecorações – alguns meses depois. Nesse período de afastamento, ele foi preso por tentativa de homicídio, depois internado em uma clínica psiquiátrica e acabou levando um sublime pé no traseiro de sua linda – e atual ex – esposa Andrea Hall.
Wolf, como ele era chamado entre os colegas de trabalho, por causa das iniciais de seu nome, ficou famoso por agredir em pleno julgamento o homem conhecido como “O Cremador”, um dos maiores serials killers de toda história londrina. Certo de que ele era culpado pelas 27 mortes (em 27 dias), viu-se despedaçado quando a sentença saiu a favor do encriminado. Não acreditando no que tinha visto e ouvido, partiu para cima de Naguib Khalid (o Cremador) a fim de fazer justiça com as próprias mãos. Pondo sua própria carreira à prêmio, Wolf acabou tendo que fazer um tratamento psicológico. E depois desse episódio fatídico em sua vida, ele estava de volta à cena policial e queria mostrar que ainda era tão bom quanto fora outrora.
Voltar, inspirava novidades. E agora ele assumia um novo e complicado caso. Certa noite, acordado pela sua (ex) parceira de trabalho, Emily Baxter, Wolf é chamado para mais uma cena de crime. O diferencial dessa vez? Tudo tinha acontecido a metros do seu apartamento e ninguém viu absolutamente nada. No local, onde o corpo havia sido encontrado não havia uma única gota de sangue, e o mais bizarro de toda situação, é que ao se aproximar da vítima, tanto Wolf, quanto Emily puderam perceber, que na verdade, não se tratava de um só corpo. O que eles tinham em mãos era algo muito mais bizarro.
Amarrado no teto, como uma espécie macabra de marionete, o que eles viram foram partes de diferentes pessoas montando um grotesco boneco humano. À primeira vista, conseguiam identificar que eram homens e mulheres de diferentes idades, etnias e tamanhos. Mas quem eram? E como alguém podia ser louco o suficiente para cometer aquele tipo de atrocidade?
E como já diz o ditado, “não há nada tão ruim, que não possa piorar”. Para dar mais um climax nessa caçada policial, Andrea Hall, a ex mulher de Wolf e também repórter da televisão local, recebe uma lista com mais seis nomes de pessoas que serão assassinadas nos próximos dias. Tal lista também continha as datas e os horários. E adivinhem quem era o número 06?! Willian Oliver Layton-Fawkes. Iniciada a caçada, Fawkes tinha um motivo bem maior do que descobrir quem cometeu esses crimes e salvar sua carreira. Ele precisava, acima de tudo, salvar a própria pele.
“Boneco de pano” é o clichê daqueles trailers americanos. Temos a delegacia de polícia e seus detetives com suas particularidades. Temos cenas de crimes improváveis, bem como assassinos improváveis. Cenas de perseguição, mistério e tensão. Alguns pontos para deixar o clima mais tênue e muitos, muitos personagens. Inclusive, esse excesso de personagens em obras desse tipo, são deveras importantes, visto que deixa o leitor confuso – propositalmente – já que são usados como recursos linguísticos. Afinal, quanto mais pessoas, mais suspeitos, mais mortes; mais ação.
Uma curiosidade sobre a obra, é que inicialmente, ela fora escrita não para virar um romance policial, mas sim uma série de televisão. E talvez isso tenha atrapalhado um pouco o desenrolar dos detalhes. A sensação, é que falta algo. Talvez um contexto histórico ou um perfil psicológico dos personagens, visto que eles começam tudo “já sendo”. E talvez, essa obra pudesse ter, ou até mesmo ser, continuação de outra.
Emily, por exemplo, tem um problema que só Wolf sabe. E isso só é apresentado para o leitor depois de muitos capítulos – mais da metade do livro. O autor lança a bola, mas não marca o gol. O problema é mencionado como um au passant. Mas não diz quê, nem porquê. E muito menos se será solucionado. Assim como o próprio Wolf tem um perfil bastante peculiar que fica só na imaginação do leitor o motivo dele ser assim.
A história não é de todo ruim. E a metodologia como o vilão foi construído, foi bem-feita e bem direcionada. No entanto, não é um enredo para um livro só. O que, para quem gostou da obra, temos uma boa notícia: Willian Oliver Layton-Fawkes será o personagem de mais um livro, que talvez, explique o que ficou a desejar em “Boneco de pano”.
Para um estreante, Daniel Cole talvez tenha dado uma bola dentro. Afinal, nós seres humanos, meros mortais, somos – ainda que não assumamos – movidos pela curiosidade. Logo, ter nas mãos um crime, um mistério, e um assassino para descobrir, faz com que Cole tenha acertado em cheio nesse exórdio.
Então, Booklanders: Estão entediados, está faltando emoção? “Boneco de pano”. O livro saiu esse ano e foi publicado pela Editora Arqueiro. São 336 páginas de pura adrenalina.
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