Não são só Agatha Christie e Sir Arthur Connan Doyle que colhem todo o ouro da literatura policial mundial. Apesar de ambos terem uma fama indiscutível e as melhores obras de todos os tempos, além de perpetuarem, claro, o peculiar humor britânico; hoje, o Bookland veio mostrar que abaixo da linha do Equador, em terras portenhas, um senhor fez a lição de casa e trouxe para a América Latina, todas as manhas e deduções criminais dignas de um Sherlock Holmes.
“Variações em Vermelho”, nossa dica do dia, vem mostrar que não só são os ingleses que criam boas tramas policias. Muito pelo contrário. Rodolfo Walsh nasceu na Argentina em 1927. Foi escritor, historiador, romancista, jornalista, tradutor; e fez parte das tropas de guerrilhas, lutando ativamente contra o terrorismo do Estado. Isso, inclusive, faz com que não saibamos a data exata de sua morte, já que Walsh desapareceu em 1977 na última ditadura militar.
Jornalistas e escritores usam como armas de guerra papel e caneta. Logo, seus escritos eram mais do que literatura. Nosso autor foi o precursor no que chamamos “Romances não-ficcionais” cujo objetivo era relatar a realidade cruel dos regimes ditatoriais da época. Em “Operação Massacre”, seu primeiro livro, relatou uma série de assassinatos cometidos pelo Governo. Além de trazer entrevistas de pessoas que tiveram parentes desaparecidos na época do regime. Mal sabia que ele mesmo, anos depois, viria integrar a lista de nomes daqueles que nunca mais foram encontrados.
“Variações em Vermelho” não faz parte dessa linha de romances – os não ficcionais – no entanto, vemos que em cada relato, em cada crime cometido ao longo da narrativa, há uma tentativa quase insana de que todos casos tenham soluções e seus culpados sejam punidos. Walsh trouxe para a ficção o que ele não conseguiu fazer na vida real. Justiça! E é a partir dessa premissa que nossa história se desenvolve.
Para começar, não se trata de uma história linear. E a obra conta apenas com dois personagens principais e uma gama de personagens secundários que não se repetem ao longo da narrativa. Isso se dá, porque na verdade, estamos falando de “casos”. Sim! É um livro que foi dividido em casos policiais. E cada caso tem seu morto, pseudo-suspeito, assassino e história. O que é uma vantagem, já que desse modo, o leitor pode escolher por onde começar na leitura.
Daniel Hernándes é nosso Sherlock Holmes latino. E o que o diferencia dos “verdadeiros” investigadores é que, na verdade, ele nunca foi do ramo policial. Hernándes é revisor de provas. É… ele é aquele cara que lê todos os livros – os corrige – antes que eles possam ser lançados. Ainda que seja inusitado, Walsh trouxe luz à profissão dos revisores. Mostrando, que tanto o revisor, quanto o detetive tem que ter perspicácia em analisar detalhes minuciosos.
Ao lado de Daniel, temos o delegado Jiménez. Que tem até muita boa vontade. Mas só enxerga até onde seus olhos podem ir. É Daniel Hernándes que lê nas entrelinhas – seja dos assassinos ou dos assassinados.
São cinco casos. E em todos eles, o leitor fica envolto em uma trama de intriga e conspiração. Além de ser compelido a ficar naquela adivinhação interna de quem será o assassino dessa vez. Até porque todas as dicas acabam te levando ao sentido contrário de tudo aquilo que você pode vir achar. É o típico “tudo que parece não é”.
“Variações em Vermelho”, além de ser o nome da obra é também o nome do segundo conto. E quiçá, o mais esquizofrênico de toda a narrativa. Mas é também uma homenagem a Sir Arthur Conan Doyle, que escreveu “Um Estudo em Vermelho”. E assim, trazendo um pouco da Londres de Holmes, para o mundinho de Daniel.
Para quem quiser se aventurar, essa é a Woo! dica de hoje. Mas fica um adendo, separe um tempo para a leitura. Porque essa é daquelas que o leitor não consegue parar de ler.
“- Você não cansa de ler? – disse ela, apontando o livro que Daniel levava debaixo do braço.
Ele sorriu.
– Às vezes – disse –, mas um é livro uma extensão natural da minha mão. Gruda nos meus dedos, mesmo quando não quero ler. Deve me dar certa sensação de força, sei lá. Um fenômeno de compensação.” [p.137]
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