Sasaki and Peeps | Sobre como fazer isekai na era da saturação

Em estreia no noitão de anime do sábado da Crunchyroll, Palco Ultra da CCXP23, “Sasaki and Peeps” é a próxima aposta de uma comédia do cotidiano com isekai e dois protagonistas muito carismáticos. Confira nossas primeiras impressões sobre o anime, que estreia em janeiro no streaming.

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Quem acompanha anime há mais de uma semana está mais que ciente que há uma profusão na disponibilidade de isekai para assistir — e toda temporada saem mais vinte. Há alguma implicância, talvez injusta, com o gênero? Não é algo que se possa dizer na lata. Esse é um gênero muito popular, sobretudo no Japão, e faz sentido que, comercialmente, esforços se direcionem a atender esse público.

Não é novidade também que, como resposta a essa onda existam aqueles que, para se mostrarem cientes dessa enxurrada, zoem com o próprio gênero e abusem da metalinguagem. Os exemplos mais claros incluem “Isekai Quartet“, “Konosuba” e “That Time I Got Reincarnated as a Slime“, mas não exclusivamente. Mas mesmo com tanta “desconstrução” do gênero, chega uma hora que cansa, e devemos nos perguntar qual que é o problema.

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“Sasaki to Pii-chan“ está inserido nesse vórtex e de uma maneira ou outra se prejudica e beneficia da situação. Independente da opinião sobre o gênero, é preciso separar com cuidado a obra da discussão maior — um isekai não é ruim porque saem outros vinte toda temporada, mas porque é objetivamente ruim, ou simplesmente é um copicola do que já foi feito e, portanto, não dá ânimo para ser assistido.

Nos primeiros vinte e cinco minutos da série, no entanto, a produção é eficiente em contar uma história de forma a suspender os absurdos na imaginação do espectador, que incorpora os elementos fantásticos escrachados graças à irreverência do próprio roteiro.

Ah, que grosseria a nossa: nem falamos sobre a trama!

Na história, Sasaki é um homem trintão acomodado em seu emprego mediano, de salário mediano em uma empresa mediana, da qual, embora pense que seria possível buscar algo melhor, é grato pela situação em que se encontra — pois viveu para ver o horror da crise econômica e valoriza a estabilidade.

Como um assalarido solitário, Sasaki encontra nos vídeos de bichinhos na internet uma nova paixão e decide arrumar um no pet shop local. Sasaki se apaixona a primeira vista por um passarinho incomum, o qual chama de Peeps (ou Pii-chan). Peeps na verdade é um poderoso feiticeiro banido de seu mundo e reencarnado como animal na Terra.

Peeps quer comer bem, mas Sasaki não tem dinheiro para comprar comida cara. Os dois fazem um pacto e Peeps ensina Sasaki seus conhecimentos mágicos, que aos poucos vão mudando o dia a dia do trabalhador de escritório. Nesse meio tempo, Sasaki viaja entre os dois mundos vendendo produtos comuns da Terra por um grande valor na outra dimensão, aos poucos montando seu próprio império (e juntando grana para saciar os gostos caros de Peeps).

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Não pretendemos falar de uma “desconstrução” do isekai, como incontáveis vezes já se falou, mas “Sasaki and Peeps” oferece um ponto de vista diferente — pode não inventar a roda — com um protagonista mais velho e cuja principal arma é a retórica. Há as doses de apelo ao fan service pela autoidentificação a um público específico, mas elas não chegam a incomodar, ao menos por ora.

Em retrospecto, estamos curiosos para ver a que lugar Sasaki to Pii-chan ainda vai levar e se a qualidade dos outros onze ou doze episódios conseguirá acompanhar o ritmo da primeira sequência. É interessante, apesar de isekai, e é bom, justamente porque é isekai; há sempre espaço para histórias boas contadas com a alma (e não visando apenas o lucro).