Apresentando-se na noite de sábado (09), a Mamba Negra trouxe Cashu, Paulete Lindacelva e Valentina Luz para o New Dance Order. A Woo! foi conversar sobre a história das garotas e como ela se entrelaça com a da festa em uma entrevista exclusiva.
Carisma dentro e fora das pistas
Nick de Angelo: Novamente gostaria de agradecer pela oportunidade de vocês estarem podendo ceder esse espaço para a gente da Woo! Magazine, e eu gostaria de começar perguntando:
A gente sabe que o Brasil é um país infelizmente muito complicado para se viver sendo mulher, não branco, LGBT. Gostaria de saber se vocês sentem, e Cashu poderia dar mais detalhes porque está saindo em turnê internacional, que há mais reconhecimento artístico fora do que aqui.
Cashu: Sim, na Mamba a gente sempre tem muita Teve muita banda, sempre uma diversidade de som, apesar de ser mais techno oriented, mais música eletrônica, e aqui a gente selecionou, né? A gente vai tocar Paulete Lindacelva, a Valentina luz e eu, a Cashu, e vai ser mais House, mas a gente sempre mistura muita coisa, então tem boas novidades por aí.
N.A.: A gente sabe que o Brasil é um país infelizmente muito complicado para se viver sendo mulher, não branco, LGBT. Gostaria de saber se vocês sentem — e Cashu poderia dar mais detalhes porque está saindo em turnê internacional — que há mais reconhecimento artístico fora do que aqui?
Cashu: Eu acho que aqui também tem bastante reconhecimento, claro, a Mamba é super reconhecida, mas lá fora tá bem grande mesmo. Para mim, por exemplo, eu tenho mais conhecimento lá fora do que aqui.
Paulete: Não sei… eu não consigo/eu não vejo da mesma maneira, eu acho que sim, talvez fora do Brasil haja, enfim, caminhos e políticas mais voltadas para essa população, mas eu acho que em termos de diálogo e entender e ampliar discussões sobre isso — inclusive a nível de políticas públicas — a gente tem parlamentares, o Brasil caminha a frente, tanto que os olhos se voltam para o Brasil nesse momento em termos de explorar como que a gente faz política pública e como que a gente cria enfim esses espaços seguros.
Acho que não há um espaço de festa como o nosso e também não figuras políticas emblemáticas como tem no Brasil
N.A.: E espaço de festa também é resistência, não é?
Bem, quando falamos de Mamba, proibição não é uma boa palavra para se pensar em mistura. Tem alguma coisa, no entanto, que vocês ouvem, mas não trazem? Seja por que acham que não colou ainda, porque ainda não acharam uma maneira?
Paulete: Acho que para mim não sei se tem muito uma limitação musical ou estética a nível de sonoridade, sabe? Acho que tudo é possível, até porque cair nessa lógica do que é boa ou uma música é muito medo — e seria muito medo da nossa parte, talvez reproduzir esse tipo de discurso — mas, não. Acho que não, acho que tudo é possível, tudo é cabível no Brasil, né! Abençoado por Deus plantando tudo bem, querida.
Cashu: Eu sinto a mesma coisa [risos]. Obviamente que eu sou louca para lançar um pagodão assim de manhã, entendeu? [risos] Mas às vezes é um pouco difícil, mas eu acho que é possível.
N.A.: Além do The Town, que outro momento vocês caíram em si e perceberam que – “caraca, eu tô fazendo sucesso!”?
Paulete: [Gesticulando para Cashu] Você, que é mais vasta [risos].
Cashu: Eu acho que teve muitos momentos assim na minha carreira, quando [teve] a primeira vez que eu fui tocar lá fora também quando eu fui chamada pro Boiler Room no Dekmantel, chamada pro Berg… foram momentos que eu falei: “Tá? Acho que tô tendo um reconhecimento assim e aqui no Brasil são esses grandes festivais também. É a primeira vez quando eu toquei em festival grande foi no Dekmantel aqui, naquela edição que teve em São Paulo que foi bem importante também para minha carreira.
N.A.: Primeiro de muitos, huh?
Cashu: E nesse nível Brasil mesmo, acho que o The Town é o maior, porque alcança um nível de Brasil que eu nunca alcancei na minha carreira assim. [É] realmente toda minha família perguntando, porque viu na televisão, saiu em todas as mídias do Brasil; é um reconhecimento a nível Brasil que eu não tinha alcançado até agora.
N.A.: E pensando nessa questão agora, com essa superprojeção, muita gente também vai conhecer vocês, já conhecia, mas vai conseguir furar um pouco mais a bolha. O que que vocês acham que ainda querem alcançar com som de vocês nos próximos meses, nos próximos anos, nos próximos projetos?
Paulete: Acho que eu não tenho muito esse delírio. Acho que eu me apego muito quando — e fico muito feliz quando — a minha sonoridade chega, por exemplo, na equipe de limpeza, nos funcionários, quando [se] cria esse espaço de memória afetiva em pessoas que inclusive não circulam, ou que de alguma maneira não acessariam esse espaço sem ser como prestador de serviço, sabe?
Então acho que, para mim, furar bolha tá nesse lugar de se relacionar com figuras que estão no recorte que não perpassam, que não são atravessados diretamente por esses lugares. Então acho que esse é o grande ganho para mim enquanto artista, mas principalmente quando pessoa, né?
Inclusive sendo uma figura que sai desses lugares mais subalternos, acho que está alinhado um lugar de subalternidade, e ouvir o feedback dessas pessoas para mim é valioso, é grandioso e engrandece o meu trabalho como artista, sabe?
N.A.: Gente, novamente muito obrigado por ceder o espaço de vocês. Muito obrigado pela entrevista e foi um prazer conhecer vocês. Desejamos muita sorte no show de daqui a pouco, huh?
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