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Entrevistas

Zeca Brito | O diretor fala sobre “Arte da Diplomacia” e a influência da cultura brasileira na luta contra o nazifascismo

Zeca Brito discute a relevância da diplomacia cultural dos artistas modernistas brasileiros na Segunda Guerra Mundial e seu documentário, destacando o impacto da cultura brasileira no cenário internacional atual e seus próximos projetos.

Imagem: Divulgação/Zeca Brito (Crédito: Edison Vara/Agência Pressphoto)

O Cineasta Zeca Brito Compartilha A Incrível Detalhes Sobre A Produção Do Documentário “Arte da Diplomacia” E Seu Compromisso Com A Cultura E A Memória Do Brasil.

Em um mergulho profundo no coração da cultura brasileira e na influência global da diplomacia, o diretor, produtor e roteirista Zeca Brito nos conduz através do fascinante mundo de seu mais recente documentário, “Arte da Diplomacia”. Durante nossa entrevista, ele revela a origem dessa intrigante história e o papel desempenhado pelos artistas modernistas brasileiros durante a Segunda Guerra Mundial.

Com uma paixão evidente pela exploração de temas políticos e culturais em sua obra, Zeca Brito aborda como a arte brasileira desafiou o regime nazista, tornando-se um símbolo de resistência e criatividade em um momento conturbado da história. O diretor compartilha sua visão sobre o impacto dessa jornada cultural na percepção internacional da arte brasileira e como essa memória esquecida pode inspirar o mundo moderno.

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Zeca Brito nos convida a relembrar o passado e a considerar o poder duradouro da cultura em nossa sociedade.

Imagem: Divulgação/Zeca Brito (Crédito: Joba Migliorin)

Entrevista com Zeca Brito

Daniel Gravelli | Como e quando surgiu a ideia de contar essa fascinante história de diplomacia cultural realizada pelos artistas modernistas brasileiros durante a Segunda Guerra Mundial? 

Zeca Brito | A ideia chegou até mim pela produtora Letícia Friedrich, com um convite para criar e dirigir um documentário sobre o assunto. A notícia de uma exposição organizada pela embaixada brasileira em Londres em 2018 nos chamou a atenção, pois vivíamos momentos difíceis na democracia brasileira e o Reino Unido acabara de votar sua saída da União Europeia. A certeza que teríamos uma história interessante e com diversas camadas aconteceu quando nos deparamos com a fabulosa pesquisa do diplomata Hayle Gadelha. É surpreendente que essa história não tenha sido contada antes, talvez pelo caráter político que o episódio traz ao debate.

D.G | Como você acha que esse gesto diplomático impactou a percepção internacional da cultura brasileira na época e ainda hoje?

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Z.B | Pela primeira vez o Brasil mostrava que poderia ser um produtor de idéias. Um país que passava a cultivar em sintonia com o mundo seus ideais modernos, e nossa arte se mostrava aberta para a exportação e o diálogo, o evento resultou em um amplo apanhado de nossa produção artística, uma exposição com ampla repercussão internacional na época. É surpreendente e revelador que o episódio tenha sido esquecido pela historiografia oficial. 

Leia Mais: Entrevista com a atriz Goretti Ribeiro

D.G | Na sua opinião, qual é a importância de resgatar a memória desses artistas e suas obras, especialmente considerando o seu esquecimento na história brasileira?

Z.B | A memória destes artistas é a memória da história da arte brasileira, que costuma ser contada de forma cíclica. Os vencedores das disputas sociais costumam ocupar as narrativas e cabe aos historiadores a revisão da história. Durante a ditadura esse episódio foi deixado de lado pelas narrativas oficiais, talvez por evocar um pensamento crítico contra os modelos autoritários. Ao resgatar essa memória vemos o papel heroico ocupado pelos artistas brasileiros na luta contra o nazifascismo. 

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D.G | Pode nos contar sobre sua experiência ao gravar o documentário nas galerias brasileiras e europeias e como isso afetou sua visão sobre a arte modernista brasileira?

Z.B | O processo de investigação consistiu em visitar as galerias públicas no Reino Unido e alguns museus no Brasil. Acho que fica latente nossa surpresa ao encontrar diversas obras e artistas ou que são muito conhecidos ou completamente anônimos. E essa diferença de lugar de importância histórica tem a ver com diversas questões sistêmicas, que passam pelo machismo, pelo racismo e pela posição social que cada um ocupou em seu tempo. A história da arte costuma ser contada muitas vezes por uma perspectiva de mercado, ignorando questões políticas, o filme buscou dar luz a essas incoerências entre o lugar no mercado e o lugar na história na trajetória de alguns importantes artistas. Um exemplo é Tarsila, uma artista socialista cuja visão política é completamente ignorada pelo mercado e pelos colecionadores atualmente. 

Imagem: Divulgação/Anti Filmes

D.G | Como você acha que a arte e a cultura brasileira são percebidas no cenário internacional atualmente?

Z.B | Acho que a cultura do país é um grande ativo no cenário internacional, nossa música principalmente, mas também nossa gastronomia, nossas artes visuais e nosso cinema. Se tem alguma coisa que podemos apresentar ao mundo com orgulho é nossa cultura, nela encontraremos a confluência étnica, o hibridismo de origens e misturas. Acredito que a imagem de nossa cultura é mais forte inclusive que a imagem de nossa democracia, mais estável e com mais credibilidade frente aos olhos do mundo. 

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D.G | Como espera que o seu documentário “Arte da Diplomacia” influencie a percepção e apreciação da cultura e da arte brasileira no Brasil e no mundo?

Z.B | Espero que o filme possa recuperar essa memória esquecida e dar luz ao episódio. E espero que o Brasil possa assistir e refletir sobre a importância de seus artistas e da cultura dentro de uma engrenagem democrática. Esse exemplo pode ser levado ao mundo, que o fascismo é inimigo da arte e dos artistas e que um país que cultive a arte e a cultura está mais distante de cair nas mãos do fascismo. 

Leia também: Crítica de "Arte da Diplomacia"

D.G | Pode compartilhar um pouco sobre sua visão e abordagem pessoal ao dirigir documentários? Como sua perspectiva artística influencia seus projetos?

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Z.B | Cada filme é um filme, não existe uma fórmula. Existem experiências que dão mais certo e outras que dão menos certo, mas é importante que haja uma descoberta, algo a ser respondido que ainda não se saiba. É muito chato quando o investigador já sabe  a resposta que irá encontrar, esse livro aberto é o que me interessa num processo documental. Um mínimo de planejamento, e uma boa base de pesquisa, mas com abertura para seguir por outros caminhos. Minha perspectiva artística é costumeiramente política, e acho que isso aparece na minha obra documental. “Arte da Diplomacia” poderia ser apenas filme sobre arte, e poderia ser um bom filme, mas acredito que sua qualidade é olhar para arte sob a perspectiva da não inocência, sem isenção, pois o que movia os artistas em 1944 era um sentido político. 

D.G | À medida que a indústria cinematográfica evolui, como você enxerga o papel dos documentários em contar histórias e documentar eventos culturais? Quais são os desafios e oportunidades que você vê para documentaristas no cenário atual?

Z.B | A narrativa ou registro documental caminham juntos com a linguagem audiovisual. Nossa necessidade de narrar socialmente os fatos que constituem a vida é algo que existe desde sempre, o documentário cumpre esse papel, de relato. Os fatos históricos e os personagens e eventos da história da cultura são elementos e temáticas que continuam se fazendo presentes e ajudam na oferta de conteúdos ao público. O que me levou a ser documentarista é a minha necessidade de expressão direta com a câmera, para mim a câmera é uma caneta que deve poetizar livremente sobre o real, tem sido essa minha principal motivação para fazer documentários, a relação direta com a linguagem e seu enfrentamento com a realidade. 

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Compre Agora: Introdução ao documentário

D.G | O que podemos esperar de seus projetos futuros? Você já tem alguma outra produção em mente, ou já encaminhada, que gostaria de compartilhar com seu público?

Z.B | Acho que as questões políticas e sociais tendem a despertar meu interesse e acho que assim deve caminhar meu cinema. Estou realizando um documentário sobre a porta-bandeira Squel Jorgea, um dos maiores nomes do carnaval brasileiro. Estou dividindo a direção com a diretora Celina Torrealba e tem sido uma bela experiência de aproximação com a cultura popular e o universo do samba e seus fundamentos. Também estou escrevendo um novo um roteiro de ficção com o roteirista Alessandro Engroff chamado “Bragado”, um filme bastante pessoal com temática LGBT no contexto cultural gauchesco. Como vivo dessa profissão é necessário estar sempre produzindo. 

Na busca incessante por preservar nossa cultura e história, Zeca Brito revela um capítulo essencial em “Arte da Diplomacia”. Assista o filme e comenta aqui o que achou.

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Daniel Gravelli é especialista em comunicação de alta performance, apaixonado pela arte e pelo seu potencial na conexão humana. É diretor, produtor, ator, roteirista, e acumula mais de 30 anos de experiência no mercado cultural. Adora cozinhar e descobrir novidades sobre o mundo.

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