Há quem pergunte, nos dias de hoje, onde estão os Deuses do sexo. A visão que temos na atualidade é a de semi-deuses sem deleites, e menos ainda, de imaginação, talvez, até um pouco apáticos; apatia esta advinda da necessidade de sublimar desejos e colocá-los no campo da aparência egoica, mediante selfies bem tiradas, do físico bem trabalhado nas academias, da disposição que os remédios podem dar quando as pessoas, desesperadas (mesmo que não aparentem tal desespero) investem em tratamentos ortomoleculares para estimular o que está adormecido mas já existe em cada ser humano.
Quando o tempo deixava que as pessoas realmente se estirassem em suas camas, “(…) o homem beija-lhe a boca, levemente, silencioso, então lhe fará perguntas sobre assuntos que ela talvez conheça ou ignore” o sexo era diferente?
Quando se tem a oportunidade de percorrer cada caminho do corpo alheio, como em uma dança poética, as posturas sexuais acontecem naturalmente, “(…) se introduzir o membro na boca, até a metade, beija-o e suga-o com força, isso é denominado´chupar manga´.)”. Bom, quanto a isso, nós temos receio de que tal escrito seja retomado para levar a política para a cama, ou mesmo para banheiros, carros ou qualquer locação onde se pratica o ato mais natural do mundo, ao qual, devemos reverenciar – caso contrário, não estaríamos aqui – e que hoje é tratado como necessidade de afirmação ou postura política. Cada um é o que é, e passível de mudança, porém de dentro para fora e não por intermédio das necessidades do mercado, que, apesar de manifestar-se de outra forma, segue moralizando, inclusive, o que devemos fazer em nossas intimidades.
Há ainda o outro lado, a dos gritos artificiais, histriônicos e posturas corporais falsas que só possuem o intuito de mostrar dotes físicos conseguidos com muito sacrifício (que devem ser notados, reverenciados e aplaudidos) e que parece moldados somente para o ato da masturbação, um tipo de sexo também, mais narcísico e sem entrega, ainda que sirvam para estimular nossos desejos.
Mas apesar disso tudo, há ajustes para todos nesses tempos de incógnita sexual, e não me refiro a identidades de gênero, mas sim ao lado psicológico, aos seres recalcados que nos tornamos, onde a preocupação com a perfeição e performances que visam mais ao “parecer” que “ao ser” são a chave-mor para nossas existências como sujeito.
“Mas sendo assim, se os dois parceiros são incapazes de saber qual espécie de prazer sentido por um e por outro, como afirmar que o prazer de um é diferente do outro? (…) No entanto cabe observar que em casos comuns, quando há coisas que se movem muito rápidas, como um torno de um fabricante de vasos de barro, ou um pião, esse movimento começa vagaroso e só depois é que se torna rápido.”
Outrora, no tempo dos Deuses falhos, como nós, os frágeis humanos, o sexo desenrolava-se com a música dos gemidos naturais. Hoje, entre quatro ou mais paredes, ou em qualquer outro lugar, está mais caracterizado por exigências sem sentido, que nada tem a ver com o prazer, e que muitas vezes, nos privam do próprio. Não sabemos se a tendência é nos robotizarmos em busca de algo cada vez mais inumano, ou se passamos por um momento de transição onde os valores são e devem ser revistos. Mas por que afetar o ato que nos devolve a nossa condição mais pura, animal e inflexível a respeito de nós mesmos? Medo do próprio instinto? Afrodite Pandêmia chora nesta falta de diálogo entre os séculos que ainda não resolveu a questão que cura todos os males da sociedade: o sexo.
Há quem ainda precise ler o Kama Sutra (guia dos prazeres eróticos) de Vatsyayana.
Nota: Os trechos citados acima referentes a posturas sexuais foram retirados do Milenar Kama Sutra.
Por Susana Savedra
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