A Avenida Paulista certamente é o principal cartão postal da cidade de São Paulo. Inaugurada em 8 de dezembro de 1891 por iniciativa do engenheiro Joaquim Eugênio de Lima, atualmente ela reúne dezenas de edifícios comerciais e residenciais, lojas, escolas, shoppings, restaurantes, hotéis, praças e centros culturais. Com mais de 200 mil habitantes em sua extensão de quase 3Km, se fosse uma cidade, ela estaria entre as 100 maiores do país. Atualmente fechada para o trânsito de carros aos domingos, a avenida que é um dos principais centros financeiros da América Latina, também vem se tornando um dos principais pontos culturais.
Homenageando esse marco da cidade, existe uma obra-prima em quadrinhos que ficou quase duas décadas perdida em sua limitada publicação original. Quando a famosa avenida estava para completar 100 anos, a marca de pneus Goodyear decidiu fazer uma reportagem em formato de quadrinhos sobre a região. Para isso foi convidado o desenhista e arquiteto Luiz Gê, que na época era bastante conhecido por seus trabalhos nas revistas alternativas Animal e Chiclete com Banana. Projetada para ser uma matéria seriada intitulada Fragmentos, o projeto cresceu mais do que o esperado e se tornou uma edição extra da Revista Goodyear, destinada apenas e um número limitado de assinantes. A tiragem foi esgotada e apenas aquele restrito mailing teve acesso à obra. Felizmente em 2012, quase vinte anos depois, a Editora Companhia das Letras convidou o quadrinista para atualizar o material e lança-lo sob formato de graphic novel.
Misturando pesquisa histórica e iconográfica com uma narrativa típica de fantasia cyberpunk, Avenida Paulista retrata a tão famosa via paulistana como um personagem que vive, sofre e se deleita com seu próprio crescimento e com o avanço tecnológico dos humanos que por ali circulam.
No álbum, a história da avenida começa antes mesmo de sua inauguração, quando o bairro na qual foi instalada ainda se chamava Alto do Caaguaçu. A inauguração da ferrovia São Paulo Railway é o primeiro momento da HQ onde se apresenta as inúmeras referências arquitetônicas das culturas internacionais que contribuíram para o crescimento, não só da avenida, mas de toda a cidade. Em seguida a história vai passando década por década do século XX, apresentando os principais acontecimentos de cada período.
Para quem é natural da capital de São Paulo, soa muito divertido ver a quadrinização de passagens históricas como a inauguração do Conjunto Nacional, denominado “o mais avançado shopping center do mundo”, industrialização da cidade. a polêmica construção do MASP, a substituição dos casarões centenários por arranha-céus corporativos e o início da especulação imobiliária. Aliás, esse é um dos momentos mais dramáticos da HQ, pois os belíssimos desenhos mostram o quanto a velha avenida sofre com essa mudança em sua arquitetura característica.
Mas a HQ vai em frente, especulando o que poderia ser o futuro da famosa avenida. Chegando aos dias atuais, Luiz Gê imagina dois possíveis desdobramentos para a história da avenida: o primeiro é catastrófico, com edifícios se sobrepondo uns aos outros até se autodestruírem. O segundo segue o viés da sustentabilidade e da preocupação ambiental, resultando em uma avenida ecologicamente correta.
Luiz Gê, que já havia demonstrado seu talento quadrinhístico em diversas publicações autorais, esbanja habilidade, técnica e criatividade. Os traços bastante estilizados se transmutam conforme a época retratada, fazendo referência aos movimentos artísticos em alta a cada tempo. Com isso pode-se notar claramente as referências ao Modernismo, ao Futurismo, à Pop Art e à arte urbana. Esse recurso narrativo também se estende às cores, as quais mudam de saturação, temperatura e diversidade da paleta conforma o “clima” de cada temporalidade retratada. A riqueza de detalhes em cada quadro completa o tom de obra-prima que a graphic novel reflete. O resultado é indescritível, de tão lindo! Avenida Paulista é, ao mesmo tempo uma biografia e uma homenagem apaixonada.
Todo esse esplendor retratado em Avenida Paulista ficou ainda mais rico nos dias de hoje, em que a via se torna uma grande praça pública aos domingos. Aberta aos pedestres e cidadãos que a ocupam legitimamente para passear, se divertir e consumir as mais variadas atividades artísticas, a avenida vem se configurando como um polo cultural inigualável. Para reforçar esse status, no próximo domingo, dia 11 de março, bem como estimular a visitação e o engajamento de públicos diversos com museus e centros culturais, diversas entidades culturais estão organizando a primeira edição da #PaulistaCultural. A iniciativa prevê uma programação especial e atividades gratuitas nas sete instituições participantes do evento: Casa das Rosas, Centro Cultural Fiesp, IMS Paulista, Itaú Cultural, JAPAN HOUSE e MASP, além de uma programação paralela de CINEART-Conjunto Nacional, Caixa Belas Artes, Espaço Cultural Conjunto Nacional, Espaço Itaú de Cinema, Instituto Cervantes São Paulo, Livraria Cultura/Fnac, Mirante 9 de Julho e Teatro Gazeta.
Título original: AVENIDA PAULISTA
Páginas: 88
Formato: 21 X 27 cm
Acabamento: Brochura
Editora: Companhia das Letras
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