Você já ouviu falar de Extropianismo, Transumanismo, Biotecnologia, Neurotecnologia, Exteligência ou Tecnoética? Se arriscou dizer que são termos relacionados ao universo CyberPunk de William Gibson acertou. Mas não são termos restritos a esse gênero de ficção científica. Muitos cientistas, antropólogos e sociólogos estão realmente envolvidos em pesquisas sobre estes assuntos.
Mas voltando à ficção, BioCyberDrama vai partir deste mote para nos levar a um tempo futuro onde estes conceitos se tornaram a realidade vigente. Temos dois tipos de personagens além dos humanos. Os Extropianos são aqueles que migraram suas consciências humanas para chips de computador, trocando seus corpos orgânicos por interfaces robóticas.
E os Tecnogenéticos são os que se beneficiaram da mixagem antropomórfica da bioengenharia e adotaram a hibridização genética entre humanos e animais. Estas três espécies vivem em conflito em cidades-estado ao redor do planeta. Esse universo é tão complexo que os autores sentiram a necessidade de incluir um prefácio explicando em mais detalhes todos estes conceitos, fundamentos e mitologias.
Neste universo inusitado vamos encontrar Antônio Euclides, um humano ainda puro, mas indeciso sobre qual caminho seguir em termos de espécie. Esse conflito de identidade do personagem reflete exatamente a situação social e política deste mundo futurista chamado de Aurora Pós-humana. A trama se inicia em torno de Antônio e sua amiga e então se expande para mostrar toda a complexidade do universo, da mitologia e das relações entre as espécies.
Para entender as particularidades deste álbum tão peculiar é necessário ir além da própria HQ e compreender seus autores e o processo de publicação. Edgar Franco inaugurou um estilo de HQ/ilustração que foi batizado de quadrinhos poéticos, pois possuía uma estética surreal e fugia a algumas regras básicas das HQs. Em fanzines publicados na década de 1990 ele foi criando e desenvolvendo essa arte que já rascunhava os conceitos de hibridização. Felizmente eu pude acompanhar e até publicar estes trabalhos gestacionais que realmente eram diferentes de tudo o que eu conhecia. Daí fica muito claro que BioCyberDrama se trata da consolidação destas ideias e mitologias cercando personagens profundos e realistas.
Para quem não conhece Mozart Couto, posso assegurar que ele é dos mais importantes desenhistas de quadrinhos, que não deve nada para os grandes artistas do mundo. Apesar de ser um artista um tanto recluso, o mineiro ilustrou grandes obras de ficção e fantasia e conquistou inúmeros prêmios ao longo de sua carreira ainda produtiva. O leitor irá notar uma diferença contundente entre o primeiro capítulo da saga e os demais. Isso aconteceu devido ao ato de que essa parte foi publicada separadamente em 2003. Nessa época Mozart estava testando a estética dos mangás e isso influenciou seu traço em BioCyberDrama. Devido a uma série de dificuldades o álbum completo somente foi publicado dez anos depois pela editora UFG e com o status SAGA.
Do lado da literatura é complicado classificar BioCyberDrama, pois o universo transita entre a distopia, a ficção futurista e a estética cyberpunk. Do lado da tecnologia, apesar de abordar temas tão inusitados, sentimos um “quê” de realidade ao olharmos para os avanços da impressão 3D, da ubiquidade e da ciência em geral. Seja como for, é uma obra que merece ser contemplada por misturar tantos elementos inovadores.
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Amigo Tércio,
Que resenha sensacional, e ela chega em um momento oportuno, já que acaba de ser lançada a segunda edição ampliada do álbum, incluindo uma nova capa e também um epílogo inédito de 10 páginas. A edição é em capa dura agora! Eis aqui mais detalhes: http://ciberpaje.blogspot.com.br/2016/10/lancamento-biocyberdrama-saga-segunda.html
Um abraço e gratidão por sua sensível resenha!
Edgar Franco
Que bom reencontrá-lo após tantos anos Edgar! Aos poucos estou retornando ao cenário independente. Fico muito feliz que tenha gostado da resenha, é sempre um grande prazer divulgar os trabalhos de quadrinhos nacionais!!
forte abraço!