Romance nos conduz à construção de uma relação a partir de uma carona.
“Carona: O amor não é apenas uma palavra”, de Guibarra Loureiro de Andrade, foi publicado pela Artêra Editorial em 2023. Apresenta na contracapa uma breve explicação sobre ser uma história de amor despretensiosa que ocorre entre um homem e uma mulher ainda jovens, cujos caminhos da vida os reúnem em um restaurante de beira de estrada, durante uma tarde chuva de meados de agosto.
De fato, não é uma história rocambolesca cheia de tramas paralelas que vão e vem e parecem intermináveis. O fio condutor é a carona que nos conduz do Rio Grande do Sul ao Paraná e à história de amor de Ronaldo e Andreia, permeada por outras tramas que se desenrolam naturalmente e se cruzam com a principal de forma harmônica.
Resumo de Carona
A narrativa é bem construída e cativante. O autor descreve muito bem os ambientes, logo no início do livro já nos apresenta Ronaldo, sua viagem para resolver questões pessoais no Rio Grande do Sul, e como se compadece de Andreia.
Ela por sua vez, está em situação absolutamente vulnerável: sozinha com sua filha Lisbeth numa lanchonete à beira da estrada, fingindo estar à espera do marido.
Com o desenrolar da história entendemos os motivos que a fizeram estar ali e confirmamos a impressão inicial de Ronaldo: sim, ela estava em fuga.
Ele com sua sensibilidade e perspicácia consegue conduzir a situação de forma que ela aceita a sua ajuda apesar da desconfiança inicial.
A partir disso, se inicia a carona que nos leva a conhecer a história de Andreia, parte da de Ronaldo (detalhes são revelados mais no final) e nos apresenta outros personagens:
- Luiz Fernando, amigo de escola de Ronaldo, se torna Policial Rodoviário Federal, estudou pouco e está à espera da aposentadoria com uma vida pacata junto à esposa. Os filhos estudam em outro Estado.
- Edna e Sérgio, um casal de namorados que em uma aventura regada a drogas e álcool se envolve um acontecimento impactante.
- Maristela, Gilberto e Ana Lívia. Irmã, cunhada e sobrinha de Andreia que a recebem no Paraná
- Jairo, marido de Andreia.
Durante a carona, ocorrem vários fatos que entrelaçam todas as histórias acima de forma fluida, orgânica. Eis que finalmente Andreia chega à casa de Maristela e com a ajuda dos familiares começa a reconstruir sua vida.
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Fim da carona, início do relacionamento
Nesse ponto da história então começa a expectativa pelo início do romance. Afinal o interesse de ambos fica implícito e o leitor na torcida.
Vários fatos se desenrolam, entre esses o fato de Andréia conseguir um novo emprego e nesse o reencontro com Edna. Paralelamente vemos a construção de uma nova família entre Ronaldo, Andreia e Lisbeth.
A história é de fácil conexão por tocar em situações comuns: perdas, recomeços, relações familiares.
Posicionamento político é descontextualizado, sem tirar o mérito da história
Em vários momentos há posicionamentos político-ideológicos que soam estranhos no contexto, como se tivesse “forçado para encaixar”
Como, por exemplo, falar do noticiário e citar a polarização política para ambientar momentos familiares como ver televisão juntos ou em almoços. Afinal, o momento político do Brasil, não faz a menor diferença na história. Não se trata de um romance histórico.
Além disso, o autor defende claramente o modelo de família heteronormativa tradicional: a mulher pode ser independente, mas precisa ser atenta aos cuidados domésticos e familiares. Isso fica claro quando Ronaldo conhece os pais de Andreia. Aliás, a provisão econômica de Ronaldo transpassa toda a história, inclusive nesse encontro quando ele destaca não precisar da renda dela.
Tais posicionamentos não tiram a qualidade literária, porém podem causar desconforto no leitor que busca uma leitura leve e despretensiosa de um romance, que assim se apresenta.
Sabemos que um autor sempre coloca de si nas suas obras, inclusive as cidades retratadas fazem parte da vida de Guibarra, porém em um romance a necessidade e utilidade de tal posicionamento é discutível.
“Carona: O amor não é apenas uma palavra”, tem algumas pitadas espiritualistas, mas não a ponto de ser uma obra do gênero. A obra, mostra a construção de um relacionamento e defende a ideia de que as relações são compostas de decisões diárias pelo bem da convivência.
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