Kong: Do clássico ao pop
Grandes personagens nunca morrem! Essa verdade já foi provada inúmeras vezes pela literatura, bem como os quadrinhos e cinema. Independente do seguimento da história, se ela trouxer uma boa narrativa e uma estrutura sólida na construção de seu ícone principal, possui grandes chances de se tornar inesquecível.
Um desses exemplos é “King Kong”, um gorila gigante que surgiu pela primeira vez nos cinemas em 1933. O intrépido enredo, desenvolvido à partir de outras premissas que envolviam selvas e resgates, foi criado por Merian C. Cooper e Edgar Wallace e mostrava a excursão de uma equipe cinematográfica a “Ilha da Caveira”, afim de rodar cenas de um filme no local. Entretanto, os recém chegados não imaginavam que teriam sua estrela principal raptada e entregue ao famigerado símio, visto como um Deus pela antiga civilização que ali pertencia. O acontecido leva um grupo de marinheiros às profundezas da floresta para combater a fera e resgatar a mocinha do “vilanesco” bicho. Todavia, quando conseguem capturá-lo, decidem que o melhor a fazer não é deixar o local mas, sim, leva-lo para Nova York. Lugar esse em que o argumento se desenrola tranquilamente, com direito a proporções gigantescas, as quais viabilizam uma das cenas mais formidáveis criadas para telona, a clássica escalada de Kong no grandioso “Empire State Building”. O filme dirigido pelo próprio Merian, juntamente com Ernest B. Schoedsack, deu tão certo que rendeu dois remakes: um em 1976 e outro em 2005 e inúmeras outras produções. Embora os dois remakes trouxessem a tecnologia que faltava no filme original, não foram capazes de capturar a essência e leveza que faziam parte do primeiro filme. Não é atoa que o primeiro foi consagrado como “culturalmente, historicamente e esteticamente significativo” pela Biblioteca do Congresso e, hoje, faz parte do acervo de preservação no National Film Registry. Além, claro, de ter se tornado um conteúdo cult aclamado por milhões de pessoas ao redor do mundo.
Com o intuito de reviver as aventuras desse icônico protagonista, considerado um dos grandes monstros do cinema (juntamente com “Godzilla”, “Lobisomem”, “Drácula”, “Tubarão” e outros), os estúdios responsáveis realizaram “Kong: A Ilha da Caveira”, produção que chegou aos cinemas brasileiros na última quinta-feira e tem tudo para ser um grande sucesso de bilheteria com o passar das semanas. Com uma história completamente nova, dessa vez temos uma expedição para exploração de uma ilha desconhecida no Pacífico Sul, o filme nos entrega um prequel que revela um pouco mais sobre o passado do gigantesco animal. Tudo começa após a guerra do Vietnã, quando o desbravador Bill Randa negocia com um senador americano uma verba para as pesquisas e reconhecimento de um misterioso local, nunca antes investigado, devido a possíveis acontecimentos extrafísicos. A partir daí, Randa e seu assistente convocam o rastreador James Conrad, que se junta a fotógrafa Mason Weaver, uma equipe de cientistas e os militares liderados pelo temperamental Preston Packard. Entretanto, não comunicam a esses o real motivo por trás da missão. Quando tudo começa a ficar estranho, a verdade vem à tona e eles precisam lutar contra o tempo e os perigos existentes em tal ilha, entre eles algo que pode vir a ser de fato chamado de “O Rei da Selva”.
Os produtores Alex Garcia, Jon Jashni e Mary Parent, responsáveis pelo recente reboot de “Godzilla” nos cinemas, são alguns dos nomes por trás desse ressurgimento de Kong. De forma visionária, com um olhar mais voltado para a cultura pop, os profissionais permitiram um resgate mais atual para obra, trazendo uma produção impecável repleta de efeitos visuais e especiais de última geração. A reconstrução de Kong, com a ajuda da tecnologia de captura de movimentos, é a melhor já vista nas telonas. Sem contar os demais bichos que vivem na ilha, como o enorme lagarto com características da cultura japonesa, e as belíssimas locações utilizadas que também são um atrativo à parte. Entretanto, como todo bom filme Blockbuster, podemos nos preparar para uma enxurrada de erros de continuidade. Alguns que poderiam facilmente ser evitados pelos continuístas responsáveis.
Embora contenha o fator positivo de diferenciar-se das produções já realizadas até então, o roteiro escrito por Dan Gilroy, a mente por trás do sensacional “O Abutre”, Max Borenstein (de “Godzilla” e a série “Minority Report”) e Derek Connolly (“Jurassic World” e “Monster Truck”), à partir da história criada por John Gatins (“O Voo” e “Need for Speed”), peca na construção evolutiva das personagens. Enquanto temos uma apresentação interessante para cada um deles no início, nas quais podemos até assimilar tais personagens a outros arquétipos e velhos conhecidos do público, infinitas possibilidades são desperdiçadas ao longo do enredo, perdendo características que seriam importantes para um melhor desenrolar do contexto. Todavia eles também acertam em uma narrativa direta, que não fica ostentando voltas em torno do mesmo assunto, o bom conflito estabelecido entre o homem e a natureza e o pequeno, porém sincero, respeito entre espécies. Com o peso do fim da guerra do Vietnã e certos traumas do passado aplicados como plano de fundo, algumas analogias com a nossa realidade e ganância dos seres humanos são inevitáveis.
A pouca experiência de Jordan Vogt-Roberts no cinemas, ele dirigiu o bonito “Os Reis do Verão”, não impediu que a Warner Bros. entregasse a ele um projeto tão grandioso. E o diretor não fez feio, pelo contrário, sua decupagem de direção recheada de enquadramentos em grande plano geral, nos permitiu apreciar a beleza escondida nas locações que deram vida a fictícia “Ilha da Caveira”. Além disso, Jordan também acerta em proporcionar um ritmo equilibrado para a produção, trabalhando alucinantes movimentos de câmera que oferecem mais agilidade para os momentos de ação, ao mesmo tempo que desacelera tudo com o perfeito uso da câmera lenta. A jogada permite um respiro ao espectador, levando-o estimar detalhes minuciosos em determinadas tomadas.
Com um elenco carregado de estrelas, que envolve nomes como Tom Hiddleston, Brie Larson, Samuel L. Jackson, John C. Reilly, John Goodman, Corey Hawkins e Toby Kebbell, a produção faz bonito com o retorno de Kong. Mesmo que nenhum deles apresente uma atuação magnífica, podemos destacar as características psicológicas de Jackson como o comandante Packard e John C. Reilly que nos entrega uma atuação leve e dinâmica. Kebbell também está bem em cena, dando desempenhando dois papéis, o do militar Jack Chapman e o próprio Kong. Larson e Hiddleston estão bem, mas não nos proporcionam um trabalho que encha os olhos, deixando à desejar em certos pontos. O restante dos nomes aqui citados e outras participações, desempenham interpretações simples à nível de suas personagens.
O espetacular trabalho de Larry Fong (“Batman Vs Superman”, “Super 8” e “300”) nos possibilita uma fotografia avassaladora. Com uma iluminação que nos remete algumas características típicas de filmes de guerra, como o degradê do verde que somado ao preto cria um aspecto de camuflagem, e o uso do backlight (Contra-luz) utilizado para gerar sensações de grandeza e imponência, o filme nos coloca no cenário ideal de um combate. Porém, são paletas de cores mais quentes como o vermelho e o laranja que provoca o impressionante contraste que destaca e valoriza ainda mais o resultado final.
Para amenizar o choque causado pelas cores, o design de produção criado por Stefan Dechant balanceou com paletas em marrom e toques em metálico encontrados no bom trabalho desenvolvido pela direção de arte. Já o figurino de Mary E. Vogt optou por tons pastéis para abrandar ainda mais o visual, mas não esqueceu da cor, fornecendo determinados tons em azul, laranja e, claro, o verde dos uniformes.
O grande destaque do filme fica por contra da excelente trilha sonora de Henry Jackman, que consegue manter o suspense até a primeira cena de ação do gorila e ainda desenvolve-lo com sensatez até o momento final. Sem falar do uso de canções de Rock que marcaram época nos anos 70.
“Kong: A Ilha da Caveira” nos entrega o monstruoso símio renascido, antes desse se tornar o poderoso rei. O clássico protagonista chega mais popular do que nunca e consegue segurar a atenção do público a todo momento, em um uma produção divertida e abarrotada de ação. Um filme que vale o ingresso, a pipoca e o seu respeito.
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