Um respiro visual para o cinema, diante de tantos outros que apenas querem ser lembrados por um final chocante ou pela maior bilheteria
Diante do seu primeiro trabalho de longa-metragem como diretor, William Oldroyd nos apresenta em “Lady Macbeth” uma produção cinematográfica extremamente cuidadosa em como contar uma história através do visual, do enquadramento que cada plano pode proporcionar e do silêncio que seus personagens carregam cheios de significado.
Primeiramente, não estamos diante de uma obra-prima do cinema contemporâneo, mas dentro daquilo que se propunha a contar através de uma câmera, Oldroyd adapta da melhor forma possível o drama de Katherine Macbeth (Florence Pugh). Lady Macbeth assim como em ”As Irmãs Brontë” (2016), ambas produções realizadas pela britânica BBC Films, ambos os filmes contam com os embates femininos do século XIX onde os abusos morais e físicos eram ainda maiores. Mas diferente de “As Irmãs Brontë”, esse novo filme foca muito mais no drama pessoal de uma personagem que se vê presa em um recém casamento (comprado) e a relação autoritária e patriarcal de seu marido e sogro.
Quando Katherine casa-se com Alexander (Paul Hilton) e convive apenas com ele e seu pai Boris (Christopher Fairbanks) em uma mansão em uma zona rural da Inglaterra, rapidamente ela percebe as consequências que esta nova vida está prestes a lhe render. Ao mesmo ritmo em que percebemos a sua determinação ao tentar dialogar com os dois homem desde o início da relação, mostrando que embora embaixo das adversidades impostas, ela tenta de alguma forma impor o seu status de Lady. É então que ela conhece Sebastian (Cosmo Jarvis), um cavalariço que trabalha na propriedade do marido, os dois rapidamente se apaixonam e passam a depender de encontros casuais devido a ausência de Alexander devido a viagens sem explicações.
Para um filme com duração total próxima a 90 minutos, o ritmo consegue ser muito bem aproveitado pela montagem principalmente, já que quando são usadas cenas mais paradas, a fotografia tem o papel de preencher a intensidade do momento com uma simetria “desalinhada” dos planos. A beleza de um plano que está lá, fixo no seu enquadramento e tudo que faz parte daquela cena, as ações dos personagens acontece e a câmera não se move, esta é a característica mais nítida na fotografia de Ari Wegner, como por exemplo quando Katherine mata um cavalo, talvez a melhor do filme inteiro. Outra marca de Wegner é saber aproveitar cada espaço do cenário, principalmente nas cenas dentro da casa, fazendo de cada corredor, corrimão da escadaria ou mesa, uma sucessão de linhas que levam e trazem os personagens. Mesmo que o ritmo seja quebrado, o foco do espectador não é perdido graças a capacidade de haver ali outro ponto de interesse que mesmo não contendo uma ação mais chamativa, torna-se bonito por si só.
Por se tratar de uma adaptação literária é natural a narrativa estar presa por certos detalhes que não possam ser deixados de lado, mas também devem ser feitas algumas escolhas de roteiro para enxugar uma história que caiba em um material coerente. O que assistimos em “Lady Macbeth” não deixa de ter uma quantidade de acontecimentos que se analisado de forma avulsa ao livro original, pode ser tido como um filme de muitos acontecimentos que se perdem ao decorrer e poucas reviravoltas. A noção temporal da narrativa é mal aproveitada, poucos são os detalhes que fazem perceber esta mudança, apenas quando em um diálogo com seu marido, ele diz que ela mudou após tanto tempo. A trama também assume um ar novelesco em seu ato final, uma criança antigamente tutelada por seu marido Alexander chega para complicar ainda mais o seu amor escondido. Sem muitas explicações mais profundas somos encaminhados para um desfecho que acaba por ser explicado pelos sentimentos de Katherine.
O filme acerta muito mais do que erra, apenas na sua parte final deixa um pouco a desejar, mas é salvo pela atuação de Pugh, por conseguir interpretar uma personagem que desde o começo já não está em um melhor estado psicológico, e durante cada período do filme consegue demonstrar a degeneração de Lady Katherine através do que ela é capaz de fazer por amor.
Por Guilherme Santos
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