Matrix Resurrections chega aos cinemas carregado de altas expectativas. O primeiro filme da franquia, “Matrix” de 1999 representa um grande marco na forma de fazer cinema. O longa de ficção roteirizado e dirigido pelas Wachowskis trazia uma perspectiva filosófica para o que percebemos como realidade. Que no filme é, na verdade, uma realidade simulada criada por máquinas sencientes para dominar a experiência da vida humana.
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Mas o filme vai além da inovação de levar uma discussão filosófica para o mainstream. Ele revolucionou os efeitos visuais, com a introdução da técnica bullet-time, em que parte da cena é filmada em câmera lenta enquanto outras câmeras se movem em velocidade normal aumentando a imersão do espectador em um ponto específico.
Diante de todo esse sucesso, vieram duas sequências, “Matrix Reloaded” e “Matrix Revolutions“, ambas sem o mesmo brilhantismo do primeiro e ainda com alguns efeitos visuais bastante questionados. “Matrix Resurrections” atende bem pelo menos em parte às altas expectativas como um bom entretenimento. No entanto, está longe de ser um filme inesquecível e em muitas ocasiões é possível questionar se ele realmente deveria ser feito. Confira a crítica com alguns spoilers.
Metalinguagem e referências aos filmes anteriores
O primeiro acerto de Lana Wachowski e seus co-roteiristas David Mitchell e Aleksandar Hemon, é sem dúvida o uso da metalinguagem para falar da Matrix. Didático, o filme é excepcional quando explica a Matrix por dentro da Matrix. Thomas Anderson (Keanu Reeves) vive seu cotidiano trabalhando como designer de games e desfrutando do sucesso de um de seus jogos – Matrix – sem se lembrar que já foi Neo, o Escolhido.
Nesse primeiro ato, temos as referências mais interessantes aos filmes anteriores. Além disso, há alguns bons e inesperados momentos cômicos. Acerta também nas críticas aos meios de produção do entretenimento de hoje, sem deixar de criticar a si mesmo. O filme se insere no contexto de continuações e reboots e da falta de criatividade da indústria. Foi uma carta de amor aos fãs da franquia.
Quando Matrix “volta” a ser Matrix
O filme se perde exatamente quando volta para a “Matrix”. Embora parta de uma premissa interessante, que é a busca do agora Neo pelo amor de Trinity (Carrie-Anne Moss), quase tudo que aparece para desenrolar essa história não causa muita surpresa.
Em momento algum, a sétima programação da Matrix traz algo novo como ameaça, à exceção dos bots, seres artificiais que estão ali para vigiar e conter os que percebem que estão em simulação. De resto, é mais do mesmo com nova roupagem. É o caso do Arquiteto que agora é o Analista (Neil Patrick Harris), E ao invés de Zion, agora a cidade é Io sob o comando de Niobe (Jada Pinkett Smith).
A segunda parte do filme só segue como um bom entretenimento graças à direção simples e competente de Lana Wachowski. As poucas cenas de ação, são em geral bem filmadas e privilegiam as lutas coreografadas. Contudo, há uma cena específica, filmada num trem, que tem muitas falhas. Mas felizmente, a diretora decidiu não investir em efeitos que talvez pareçam artificiais no futuro, como aconteceu nas sequências anteriores.
A fotografia lembra um pouco os filmes anteriores, mas de forma acertada não abusa do tom esverdeado da trilogia. Na primeira parte, inclusive, tudo é mais claro, valorizando a luz do sol. Quase como um chamado para ver a vida lá fora. O sucesso da direção vem amparado pela grande atuação do elenco como um todo.
Elenco em sintonia perfeita
Na produção, faltou sensibilidade na aparência física de Neo, que se alguém pegar o filme pelo meio pode achar que está vendo John Wick. Isso causa uma oposição estranha principalmente à Trinity, personagem que praticamente mantém o mesmo visual da trilogia original. Contudo, isso não atrapalha o trabalho do ator.
A já conhecida química de Reeves e Moss se mantém. Os coadjuvantes fazem a diferença em cena, mesmo quando são só referências aos filmes anteriores como Lambert Wilson como Merovíngio e Priyanka Chopra como Sati. Yahya Abdul-Matten II como o novo Morpheus, Jonathan Groff como o Agente Smith estão excelentes. Contudo, é Jessica Henwick quem rouba todas as cenas como Bugs.
Em suma, Lana Wachowski entrega um bom filme, mas “Matrix Resurrections” continua desnecessário. O filme vale a pipoca, mas não espere uma grande obra quanto o filme que iniciou essa jornada. Curta as referências, fique para a cena pós-créditos e encare como uma sessão da tarde.
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