
Durante os meses de março e abril, a Sede das Cias vem sendo presenteada com boas doses de empoderamento e muita sororidade! O Coletivo “As Minas” apresentam seu espetáculo de estreia “Eu (quase) morri afogada várias vezes” até o dia 24 de abril.
O coletivo composto por atrizes com muitas histórias incríveis nós já conhecemos (se você perdeu essa parte dá uma conferida nas matérias “Coletivo As Minas- Parte 1“, “Coletivo As Minas – Parte 2” e uma do nosso #CarnaWoo!). E nesta segunda, dia 03, foi o dia de conhecer o resultado desse projeto inspirador.
A peça, escrita por Isadora Cecatto e Naara Barros, narra dramas vividos diariamente por mulheres dos nossos tempos. As esquetes e números musicais são guiados pelo fio condutor do crescente empoderamento que se revela possível na medida em que passa a haver união e causa.
O início do espetáculo mostra a grande mãe e a criação de todas as coisas. O equilíbrio entre feminino e masculino. Em uma cena plástica e crua. O texto narra os retrocessos que seguem ao longo dos séculos, sobrepondo homens às mulheres, em um contexto novo de superioridade sem critérios, medidas ou razão. A partir de então, passam a ser contadas histórias de situações rotineiras nas vidas da maioria das mulheres.
Diversos temas são tratados, inicialmente com ar natural, mas aos poucos o roteiro trata de desconstruir moldes que são impostos dentro da ideia de “desde que o mundo é mundo é assim”. As histórias contadas são, em sua maioria, vivências das próprias atrizes interpretadas por parceiras de elenco, e narram toda sorte de abuso: pudores impostos em casa, assédio moral, violência doméstica, gordofobía, racismo, depressão, a opressão imposta pela indústria da moda, além, é claro, daquelas frustrações que envolvem a vida sexual (tão diferentes para moças e rapazes). Em uma narrativa hora delicada, hora escrachada, o universo feminino é revelado, desenhado para identificação, comoção e alerta.
A peça não tem pudores! Até porque de pudor já chega todos que a rotina social impõe. E é importante destacar que conseguem trabalhar a nudez de forma sensível e com forte propósito embutido. Coisa que nem sempre se observa. Falar sobre o corpo (especialmente o feminino) é um tabu, e, por isso, as linguagens, verbais ou não, empregadas ao longo do espetáculo para abordar a temática, são tão significativas: hora sutis e belas, hora com uma pegada “entrando com o pé na porta para ninguém fingir que não entendeu”, se desconstroem as imagens vis que rodeiam o corpo das mulheres há séculos. Essa sexualização que nos acompanha desde os primeiros passos da vida não pode ser vista com tamanha naturalidade, mas sim como parte de um contexto social doente. E uma vez que se assuma essa condição, se tem espaço para buscar mudanças. E, nesse aspecto, o coletivo foi muito feliz.

O trabalho dirigido por Brunna Napoleão alterna esquetes com números performáticos (dirigidos por Isabel Chavarri) e musicais (dirigidos por Maíra Garrido). A alternância entre as linguagens responde pelo ritmo harmonioso do espetáculo. Soma-se a isto, números que também alternam entre divertidos e densos. A peça é um pouco longa (cerca de duas horas) porém sem ser cansativa. E além de entreter, joga na cara do público a triste realidade do nosso país, descrita em números alarmantes, e o longo caminho que ainda existe pela frente. Contexto esse que destaca a importância de união do gênero em prol de demandas comuns, e demandas étnicas que precisam ser abraçadas por todas.
As atrizes desempenham um trabalho consistente, mas em diferentes níveis de maturidade. A maior parte canta, dança e atua ao longo do espetáculo, mostrando o potencial arrebatador do coletivo. Aqui também vale o destaque para as musicistas Marina chuva e Carol Mathias, que embalam todo espetáculo com uma trilha sensível e bem encaixada. As músicas autorais que são cantadas ao longo do espetáculo são um show a parte: dá vontade de poder levar pra casa e escutar em looping. A esfera musical também tem incontestável qualidade.
Em suma, o espetáculo trata as diversas dificuldades que envolvem as vivências femininas (no geral e também as demandas específicas das negras), com as quais nós mulheres nos reconhecemos do início ao final. A água é o elemento que rege todos os contextos, no começo com alusão à repressão, e enfim, como parte da libertação que temos urgência de experimentar. E essa libertação vem da união, vem da descoberta de que mulheres são confiáveis, parceiras, e que qualquer coisa diferente disso é só imposição social. Descobrir a sororidade é um processo lindo, e o espetáculo evidência isso.
O feminismo é necessário! Sabemos disso a cada novo estupro, feminicídio, abuso doméstico… Entender sua causa é bom, grátis e engrandecedor. Por isso, projetos como esse merecem todo apoio. É um trabalho lindo e sensível, que tocará mulheres em muitos níveis, e homens em tantos outros.
O projeto é independente, e para viabilizar sua realização as meninas desenvolveram um financiamento colaborativo (com recompensas incríveis). Para saber mais, clique no Link.
Para mais detalhes sobre as apresentações confira a nossa agenda.
* Esta matéria foi escrita em parceria com a linda Gabriela Isaías (@gabrielaisaiasfotos).
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