Em 2016, os fãs dos filmes de terror, especialmente os do subgênero zumbis, tiveram uma grata surpresa ao descobrirem “Invasão Zumbi”, uma ótima produção sul-coreana que faria o mítico cineasta George Romero dar um leve sorriso. Seria apenas um sinal de contentamento com o canto da boca mesmo, já que o filme de Sang-ho Yeon poderia não agradar completamente a Romero, que usava seus lentos e burros zumbis como crítica social em filmes com estilos semiamadores, contrário a Yeon que pinta a partir de modelos de superprodução sua obra cheia de suspense e zumbis que parecem animais selvagens correndo atrás de suas presas. Talvez, o que mais agradaria a Romero em “Invasão Zumbi” seria o nervoso humor negro presente na narrativa, já que ele também o usou em muitos de seus clássicos filmes.
Uma coisa é certa: Romero se impressionaria com a inventividade de Yeon, que usa seus zumbis para criar sequências de terror, ação e suspense memoráveis, bem diferente daquilo que vinha sendo feito nas séries e filmes do subgênero que lotaram as telas durante aqueles anos. Foi por causa dessas qualidades, amplamente aprovadas pelos críticos e pelo público, que a sequência “Invasão Zumbi 2” tomou forma e ganhou a data de estreia para 2020. Foram quatro anos de espera para ver o que aconteceu depois do apocalipse, em uma história que também se passa quatro anos depois da sangrenta jornada de um grupo de sobreviventes até o trem que os levaria a Busan, um local supostamente livre da infestação dos mortos-vivos.
Nesta continuação, o espectador fica sabendo que Busan não era segura, e que todo país foi destruído, o que forçou a fuga de parte da população para as nações vizinhas, como a China, que os recebe, mas que os trata com desdém e medo. Um desses refugiados é Jung-seok (Dong-won Gang), um soldado que perde quase toda família para os infectados. Vivendo precariamente em Hong-Kong, seok ganha a oportunidade de ficar milionário ao aceitar um trabalho de alguns criminosos locais, que querem resgatar uma fortuna que se encontra em um caminhão abandonado na agora zona proibida da península coreana. A missão se mostra extremamente difícil por envolver a entrada em uma cidade povoada por zumbis e bandidos, enquanto é compensadora e redentora, principalmente porque uma família formada por uma habilidosa e jovem pilota de carros, uma esperta garotinha e sua corajosa mãe entram em cena.
Todos esses personagens se encontram em situações tensas, com hordas de zumbis os cercando, mas diferentemente do seu antecessor, “Invasão Zumbi 2” é mais um filme de ação cheio de frenéticas perseguições de carros e tiroteios, e que são bem aproveitados pela criatividade de Sang-ho Yeon e de seus coreógrafos. Infelizmente, os efeitos visuais falham em alguns desses momentos, o que acaba prejudicando a imersão. Um melhor polimento nos modelos digitais tiraria a cômoda sensação de que se está vendo um vídeo game com gráficos um pouco ultrapassados. Outro fator que atrapalha a apreciação do longa é o estilo espalhafatoso dos personagens em suas interações e ações, porém, se trata de particularidades de algumas obras orientais, que podem não ser entendidas no ocidente.
Além disso, a falta daquele terror esquisito do primeiro filme é compensada pelas acrobáticas e sangrentas cenas de batalha. Há ainda boas ideias inseridas no roteiro, como o uso de sinalizadores e faróis para direcionar os zumbis para adversários (aqui vale lembrar que os zumbis da história são atraídos pela luz e pelo som), e um jogo de sobrevivência em que alguns prisioneiros precisam se manter vivos em uma jaula cheia de mortos-vivos. As câmeras na mão, as transições em cortes rápidos e a agilidade dos atores em seus movimentos servem para complementar os acertos do texto.
Acertos esses que vão, no entanto, até a metade do terceiro ato, para depois serem subjugados por uma tentativa melodramática malfadada, que só serve para fazer rir ao invés de emocionar. Os dez minutos finais, com suas câmeras lentas e sua estridente música dramática, são patéticos. Não é possível dizer muito para evitar spoilers, mas a ameaça dos zumbis é minimizada em prol de demonstrações de heroísmo típicos dos produtos hollywoodianos de terceira categoria. Todos os conceitos construídos durante a história são esquecidos para que a cafonice tome a tela. Com isso, a criatividade é vencida pela banalidade, infelizmente.
“Invasão Zumbi 2” acaba, por fim, se tornando um aceitável produto de entretenimento que empolga no início, gera medo em seu meio, mas decepciona no final.
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